BRINCADEIRA SÉRIA

Escolinha de futebol, a aula que toda criança quer frequentar

“Com bons professores, você prepara uma criança não só para o futebol, mas para a vida”

Esportes Já
16/01/2023 às 09:06.
Atualizado em 16/01/2023 às 09:06
Escolinha de futebol do Guarani e Ponte Preta (Divulgação)

Escolinha de futebol do Guarani e Ponte Preta (Divulgação)

O mês de janeiro é o período de férias. De planejamento para a volta às aulas e a inauguração da busca dos pais por uma escolinha de futebol que proporcione o desenvolvimento do talento do seu filho. Ou um caminho para facilitar a sua sociabilidade. De local para produção de esperança, tal empreendimento abriu espaço para franquias de clubes, negócios para ex-jogadores, mas também um objeto de reflexão sobre o seu real papel em um futebol cada vez mercantilizado.

Ex-jogadores que participam e acompanham este mercado chamam atenção para alguns detalhes. O comentarista Zenon, ex-atleta que atuou em Guarani, Corinthians e Atlético Mineiro considera que o tema é complexo. Para ele, o empreendimento gera dupla interpretação. Os garotos, segundo ele, chegam com o sonho de ser um atleta de futebol. Mas a maioria dos meninos, alguns criados em apartamentos ou ambientes que desfavorecem o desenvolvimento do talento, geralmente não tem a aptidão para o futebol profissional. Em contrapartida, garotos criados na periferia apresentam possibilidade de crescimento técnico. “Eles brincam no meio da rua e com bola de meia. E foi assim minha criação”, afirmou o ex-jogador. “Eu não tive escolinha. Talvez se eu frequentasse uma eu teria uma rendimento melhor porque a qualidade eu já tinha. Talvez teria sido melhor que fui”, completou.

Sem medo de errar, Zenon afirma que de cada 200 alunos que frequentam a escolinha, para tirar um com qualidade é uma tarefa difícil. Zenon não fala de modo empírico, já que foi proprietário de escolinha de futebol por 10 anos. “Nesse período, tive apenas um (garoto de qualidade) e que foi ser atleta de futsal”, completou. Mas ele não tira o incentivo de uma criança em frequentar uma escolinha de futebol. Pelo contrário. “Com bons professores, você prepara uma criança não só para o futebol, mas para a vida”, arrematou.

Qual a visão de quem trabalha à beira do gramado? Ex-auxiliar técnico de Oswaldo Alvarez na Seleção Feminina de Futebol e atualmente como treinador, Waguinho acredita que o tema não pode ser analisado de maneira apaixonada. A escolinha de futebol, na sua visão, pode até transmitir algumas noções técnicas sobre a modalidade, mas as categorias de base são as responsáveis por desenvolver noções complexas de passe, cabeceios, dribles, entre outros atributos. “As vezes são 50 ou 60 alunos (no campo) e não há como ensinar a todos. Alguns (proprietários) só querem saber da mensalidade do que em ensinar”, disparou o treinador. Para justificar sua posição, ele explica que muitas escolinhas, ao participarem de algumas competições se sentem na obrigação de colocar todas as crianças no campo. “Todo jogador que vem da escolinha de futebol e vai para base tem uma noção, mas mesmo se for bem trabalhado, ele chega cru”, disse Waguinho. “A escolinha é boa para desenvolver coordenação de crianças de 06 ou 12 anos. A partir dos 14 anos, não é mais para o garoto frequentar a escolinha e sim um clube de futebol”, completou.

PONTE PRETA QUER UTILIZAR PENEIRAS, ESCOLINHAS E OUTROS CAMINHOS PARA REVELAR JOGADORES 

Para sair da crise econômica e administrativa em que se encontra, a Ponte Preta aposta suas fichas na revelação de talentos. Para garimpar novos valores, a Diretoria Executiva tem em mente que as categorias Sub-11 e Sub-13 são uma porta de entrada. E não há qualquer disposição de abrir mão daquilo que é encaminhado pelas escolinhas de futebol sediadas em Campinas e Região. 

O diretor responsável pelas categorias Sub-11 e Sub-13, Rafael Mendes, considera que é válida a metodologia aplicada neste ano, que é a de realização de peneiras em várias regiões da cidade e o recebimento de garotos das escolinhas de futebol. Em 2022, o clube realizou seis peneiras e neste ano é previsão é fazer de oito a nove processos seletivos. Mas as peneiras não exclui o relacionamento com as escolinhas de futebol. Pelo contrário. “Na peneira você pega aquele garoto que não consegue pagar uma mensalidade de escola. Já teve caso de garoto que selecionamos na peneira porque no bairro dele não existia escolinha que funcionava no período da noite”, explicou Rafael, que comemora que seis meninos selecionados em peneiras já foram encaminhados as categorias de base.

Ele conta que garotos são encaminhados por escolinhas e têm direito de participar de dois treinamentos com as equipes menores. “Se der certo o garoto fica e se ele não ficar nós incentivamos que retorne a escolinha para treinar em outra oportunidade”, completou o dirigente pontepretano.

PROJETO BUGRINOS É UMA ESCOLA PARA FORMAR TALENTOS 

Ao contrário de outros clubes que apostam em relacionamento com as escolinhas de futebol, o Guarani decidiu seguir outro caminho e apostar na sua própria incubadora de talentos. O carro chefe é o o Projeto Bugrinhos, que de acordo com o site oficial do clube, é uma rede de franquias de escolas de Futebol da agremiação.

De acordo com o regulamento, qualquer criança pode participar do projeto, mesmo se não for sócia. De acordo com o Guarani, o projeto tem como meta principal formar e educar alunos e ainda abrir espaço para o futebol do país. 

PROTAGONISTAS DESCREVEM VANTAGENS E DESVANTAGENS 

Amante do futebol em todas as horas, o jornalista Vinicius Barel, já atuou como professor de escolinha de futebol e não tem receio de recomendar aos pais de que a prioridade é sempre observar a metodologia de ensino oferecida pelo estabelecimento. “Às vezes a escolinha tem um professor que só ministra aulas com métodos ultrapassados e que é algo muito estático, como a utilização do cone, com ênfase no passe. As melhores metodologias são aquelas que trabalham o garoto em cima de situações de jogo”, disse Barel. Ele reafirmou que crianças e adolescentes residentes em apartamentos ou ambientes que não oferecem o desenvolvimento na modalidade enfrentam às vezes dificuldades de aprendizagem. Já garotos residentes na periferia e que contam às vezes com terrenos baldios e espaços para jogar aos finais de semana viabilizam um desenvolvimento aguçado. “Nas brincadeiras que eles fazem nas ruas eles desenvolvem mais a parte cognitiva”, disse.

Quem frequenta as aulas de escolinha de futebol não tem do que reclamar. Pelo contrário. O estudante Rubens Sangion Antonelli, de 17 anos, dedicou o ano passado a frequentar uma escolinha localizada no Jardim Amazonas, em Campinas. Ele tem muitos pontos pontos positivos para destacar. “A escolinha lhe dá a oportunidade de jogar o esporte que você gosta, oferece sociabilidade e até para o mundo do futebol é importante, porque muitos jogadores vem da escolinha”, disse Sangion. “Existem aspectos negativos, como as derrotas”, arrematou o estudante, sem esquecer de mencionar que deixar de fazer a transição da escolinha para as categorias de base de algum clube isso poderá gerar frustração para aqueles que assistem o final do sonho.

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