Regras diferentes criam novas modalidades dentro do mesmo esporte (Arquivo Pessoal)
Enquanto crianças e adolescentes ficam ligados nos últimos lançamentos no mundo dos games e conseguem informações do futebol por intermédio de diversos jogos eletrônicos, muitos homens resistem a força do tempo e abraçam a prática do futebol de mesa. Conhecido popularmente como Futebol de Botão, a modalidade ainda produz uma espécie de hipnose. Faz com que muitos larguem outros compromissos para ostentar uma paleta na mão para acertar o “jogador” que deve se adaptar as diversas modalidades de regras existentes no Brasil.
De acordo com informações da Confederação Brasileira de Futebol de Mesa existem oito regras diferentes e que atraem jogadores de 10 estados diferentes: São Paulo, Ceará, Espirito Santo, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Sul.
Em Campinas, a paixão não fica atrás. Todas as terças-feiras, um grupo de amigos se reúne em espaço em um espaço no Ginásio do Taquaral para disputar partidas e aprofundar os vínculos de amizades.
Um dos coordenadores desses encontros é Ricardo Nardy, cuja ligação com o futebol de mesa é familiar e é sustentada por várias gerações. Ele contou a reportagem do Esportes Já que em Campinas, a prática do futebol de mesa ficou mais constante a partir de 1990, quando foi criado o Clube do Botão. Ele descreve com satisfação a conjuntura em que os torneios eram realizados. “Os campeonatos eram realizados em casa, no rancho, ao calor da churrasqueira. O grupo foi crescendo e arrumamos um local maior, uma associação musical no bairro Vila Nova, que nos acolheu”, contou.
Após vários anos, Nardy relata que os botonistas conseguiram o apoio da Secretaria Municipal de Esportes e Lazer para realizar os encontros às terças-feiras, das 18h30 às 22h00 no Ginásio da Lagoa do Taquaral. O local é sempre em uma sala localizada embaixo da arquibancada do ginásio e que é utilizado no horário comercial para aulas de ginástica. Segundo Ricardo Nardy, a norma de conduta é que não aconteça qualquer resistência em relação as diversas regras da modalidade. Pelo contrário. “Jogamos diversas regras, tanto as oficiais homologadas pela Federação Paulista de Futebol de Mesa e pela Confederação Brasileira, quanto nas regras amadoras. O mais importa é o bem estar das pessoas e preservar uma modalidade esportiva que foi febre nacional nos anos 1970 e 1980, apesar da concorrência desleal da tecnologia”, relatou. Para sustentar o espirito competitivo, ele conta que mensalmente, aos sábados, uma competição é realizada nas dependências do Centro de Vivência do Idoso, no Parque Taquaral. “Os campeonatos já são mais pegados, com premiação, diferente dos encontros das terças”, afirmou Nardy.
E daqui a menos de um mês os praticantes deste jogo terão mais um motivo para comemorar. Devido a um decreto assinado em 2001 pelo então governador (e atual vice-presidente da República) Geraldo Alckmin, foi instituído o dia 14 de fevereiro como o dia do Botonista. A data é em homenagem Geraldo Cardoso Décourt, campineiro que nasceu na referida data e que ainda criança mudou-se para o Rio de Janeiro e aos 11 anos de idade aprendeu com amigos o jogo que fez parte de sua vida. No ano de 1929 ele organizou o jogo e o batizou de Football Celotex, por causa das mesas designadas para a pratica e que eram importadas da The Celotex CO, de Chicago – EUA. Em 930, ele publicou o primeiro livros de regras e inaugurou uma paixão que não tem hora para terminar.
Assim como o Brasil é um país multifacetado, o Futebol de mesa não fica atrás. A Confederação Brasileira de Futebol de Mesa reconhece diversas regras para a prática do jogo.
A primeira é chamada de Um Toque, inicialmente conhecida como “Regra Baiana”. A modalidade é dividida em 2 tipos de botões, que são os “lisos”, caracterizadas por peças lisas por baixo e o “Livre”, onde os botões são cavados por baixo. Cada “jogador” do time só pode dar um toque na bola. Outra regra existente é a Regra de Três Toques, conhecida como “Regra Carioca”.
Por essa regra, quando um jogador estiver com a posse de bola, o jogador terá direito a um limite coletivo de 3 (Três) toques, sendo que no segundo lance deverá passar a bola a outro botão, para ter direito ao 3º toque.
Na regra “Paulista”, por sua vez, um jogador com a posse de bola terá direito a um limite coletivo de 12 (doze) toques. O detalhe é que antes de atingir o decimo segundo toque existe a obrigatoriedade de chutar ao gol. Caso o chute não seja feito, o jogador será punido com tiro livre indireto cobrado do local onde a bola estiver estacionada. A regra Sectorball, importada da Hungria, também é praticada no Brasil e tem muita semelhança com a Regra 12 Toques. Criada em 2010, a Regra conhecida como Dadinho é caracterizada pelo fato da bola de jogo ser um cubo confeccionado em acrílico. Em relação ao jogo, cada botão poderá dar no máximo três toques consecutivos individualmente. Cada equipe dará, no máximo, nove toques coletivos, sendo que até o nono toque obrigatoriamente deve ser um chute ou arremesso ao gol.
Outra regra existente no Futebol de Mesa é o Subbuteo, originário da europa, em que os “jogadores” são acionados com o dedo. Cada time tem dez jogadores e um goleiro num campo de tecido verde com gols fixos.
Outra regra é a conhecida como Chapa , em que os times são formados por dez tampas metálicas de garrafas – conhecidas como "chapas" - e uma tampa plástica de garrafa PET, que exerce o papel de goleiro neste jogo. Nesta modalidade de jogo, a chapa e o goleiro devem ser acionados por intermédio dos dedos em golpe semelhante a um peteleco, e sem mover a mão. Cada jogador pode dar três ações por jogada.
É hora de sonhar com o futebol de botão (Arquivo Pessoal)
Mais do que vencer e levantar um troféu, os praticantes do futebol de mesa destacam a possibilidade de trilhar novos caminhos na vida, especialmente na esfera social. E todos têm uma boa história para contar.
O analista de Comercio Exterior Marcello Sodini relata que o jogo foi uma paixão desde a infância. A entrada na vida adulta fez com que as partidas ficassem em segundo plano. Tudo mudou a partir do momento em que terminou um casamento e em determinado dia decidiu reutilizar tanto o campo quanto os times que tinha em seu poder. “Fizemos um campeonato com seis pessoas e depois passamos a fazer uma competição de dois em dois meses”, contou.
Eis que a atividade virou algo sério a partir do segundo casamento, quando a sua esposa encontrou o Clube do Botão em uma rede social e a partir daí para integrar-se aos encontros de terças feiras no Ginásio do Taquaral foi um pulo. “Neste momento tive um up grade e fui fazendo novos amigos”, contou.
O analista financeiro Márcio Costa relata que conheceu o Futebol de Botaão com seis anos de idade. Assim como outras histórias, a falta de companhia fez com que parasse com a modalidade. “Com o passar do tempo foram surgindo os torneios com o pessoal da rua, depois com mais gente, até chegar aos torneios federados”, disse Márcio, que não nega as dificuldades enfrentadas. “As despesas são altas e é difícil conciliar com outras atividades. Dentro do possível, estou sempre participando de algum torneio”, contou.
Tanto Marcelo Sodini como Márcio Costa reconhecem uma dificuldade, que é a necessidade de seduzir as crianças e adolescentes para entrarem no mundo de Futebol de Botão. “As crianças de hoje têm um estilo de vida muito diferente do que há algumas décadas. Elas não precisam nem sair de casa. Basta ligar o vídeo game ou o celular que já encontram jogos ou outro tipo de diversão. Mas eu observo que quando conhecem o botão, muitas se encantam. Acho que os praticantes de hoje precisam ir atrás das crianças e adolescentes nas escolas, shoppings. Sem uma divulgação dessa forma, não haverá mudanças no cenário atual”, analisou Márcio Costa. “Os jovens tem (à disposição) uma variedade tão grande de jogos e isso cabe aos pais arrastar os seus filhos para a prática do futebol de botão”, arrematou Sodini.