O boxeador Roberto Silva, o Índio, vice-campão pré-olímpico, em 1976
Quando chegou em Campinas ainda criança, no início dos anos 50, vindo de Palmeira dos Índios-AL, Roberto era do tipo revoltado e briguento. Com esse perfil, não foi difícil para ele escolher seu destino por aqui . O boxe foi uma espécie de refúgio. Pelas academias da cidade, ele podia bater à vontade e ainda fazer seu nome. Roberto Silva virou o Índio nos ringues e por uma luta ficou fora da Olimpíada de Montreal, em 1976.
Roberto Silva, ou melhor, o Índio, é apenas um dos centenas de pugilistas que já passaram pelo Clube Atlético Campinas, uma referência no boxe nacional. A modalidade na centenária agremiação, localizada no bairro do Botafogo, tem 52 anos de história. E a manutenção da tradição de formar verdadeiras feras no ringue é uma luta que o clube não quer perder.
O responsável pelo comando técnico do CAC hoje é Jefferson Merim. Quando ele assumiu a função, em 2018, a academia tinha cerca de dez alunos. Hoje, são 80 matriculados, com planos de pagamento mensal, trimestral e semestral. E uma equipe em formação já começa a alcançar resultados. O trabalho parece transcorrer dentro da normalidade, mas Jefferson sabe que ainda falta alguma coisa. A raiz do boxe campineiro precisa de reforço, acredita o treinador, que tem uma meta: levar a periferia de volta ao CAC.
“Hoje, do pessoal que treina na academia, só 10% vem realmente para competir. Mas o alto rendimento, sem dúvida, é basicamente formado por aqueles que vem da periferia. E pessoas com esse perfil não tem procurado a academia”, resume Jefferson, que já tem um plano para dar um golpe na atual realidade. “Estou organizando uma associação e já articulando um projeto social para concorrer ao Fiec (Fundo de Investimento Esportivo de Campinas) a partir de 2023”, expõe. “A princípio, as aulas serão no Clube Atlético, às terças e quintas, dias em que a academia não é aberta ao público.”
Aos 42 anos, Jefferson faz parte da terceira geração de técnicos da história do CAC. Ele substituiu Luiz Fernando Caetano da Silva que, em 2018, se mudou para os Estados Unidos. Quem deu o pontapé inicial no projeto foi José Roberto de Oliveira, o saudoso seu Zé, em 1970, ano de fundação da academia.
Seu Zé foi a alma do boxe campineiro nos anos de 1970 e 1980. Índio conviveu com o treinador e, sob o comando dele, quase chegou a uma Olimpíada. “Fui vice-campeão do Pré-Olímpico e acabei não indo para Montreal em 1976”, lembra o aposentado de 76 anos, que ainda mora em Campinas. “Perdi a última luta para o argentino Alberto Duran, em Ribeirão Preto”, conta. Era a época de nomes importantes dentro dos ringues do CAC, como o de Maximiliano Campos, um dos principais pugilistas do Brasil nos anos 70.
Índio lembra das dificuldades para a manutenção do boxe no CAC. “O Zé Roberto teve problemas e a academia ficou um bom tempo fechada”, recorda. Depois de revelar e ajudar diversos boxeadores em Campinas, seu Zé se aposentou e passou o bastão para Caetano antes de voltar para Três Córregos-PR, sua cidade natal, onde faleceu.
Tricampeão paulista e brasileiro, tricampeão dos campeões, campeão sulamericano, bronze em Pan-americanos e Pré-Olímpico e participante de inúmeros torneios internacionais, Caetano foi uma inspiração para seus alunos, entre eles, Jefferson, que substituiu o mestre.
Com Jefferson, o CAC formou Walisson Henrique Fagundes, bicampeão brasileiro profissional em 2020 e 2021, e voltou a disputar os Jogos Abertos do Interior neste ano, após seis anos de ausência. Na competição realizada em São Sebastião, a academia conquistou três medalhas com atletas formados dentro do próprio clube.
Formado em educação física e treinador de alto rendimento do Comitê Olímpico Brasileiro, Jefferson aposta alto em seu projeto social, voltado para a periferia, a partir de 2023. “Com uma boa preparação, há muitos que poderão despontar”, acredita. “Mas será um trabalho a longo prazo. Vamos dar tempo ao tempo.”