Cena do clipe da música ‘Deixe a Senzala’, que concorre ao prêmio na categoria ‘Canção’ (Marlon Rissatto)
O 15º Festival de Música da Rádio Nacional, que está em processo de escolher a música vencedora na categoria “Canção” da edição de 2024, tem três canções vindas de um mesmo espaço em Campinas. Foram mais de 800 inscrições de músicas nesta edição do festival — que desde 2009 busca revelar ao Brasil cantores e compositores da música popular brasileira. Dessas centenas, 50 canções foram selecionadas para a etapa de votação popular, das quais três são de autoria de compositores do Instituto Anelo.
A associação — sem fins lucrativos — oferece aulas gratuitas de música no distrito do Campo Grande e vai completar 25 anos em 2025.
"Temos três chances em 50 de vencer. É bastante coisa", aponta Luccas Soares, músico fundador da entidade e compositor de "Deixa a Senzala", uma das três músicas na competição. Outra composição na disputa é "Dom", de Marisa Molchansky, e "Resistência", de Michael Santiago, ambos músicos no Instituto Anelo.
As 50 músicas semifinalistas são tocadas na Rádio Nacional para divulgá-las, sendo que as 12 mais votadas serão selecionadas para uma apresentação ao vivo no Rio de Janeiro, quando será escolhida a canção vencedora. É possível ouvi-las e votar até 1˚ de novembro no site https://festivaldemusica.ebc.com.br.
Marisa é a atual vencedora do Festival de Música da Rádio Nacional: levou o Prêmio “Canção” em 2023. "É pura alegria! Eu me sinto honrada e já vitoriosa por ter sido ouvida e estar entre os semifinalistas desta edição", celebra. "Temos muita gente talentosa neste Brasil. Recomendo a audição das músicas para que possam prestigiar nossos compositores. O Anelo é uma instituição que fomenta tanta criatividade, produção de qualidade, com respeito, alegria e música boa, dentro de nossa comunidade", afirma a compositora.
AS MÚSICAS
"Dom" foi uma música inspirada em Dom Helder Câmara, líder religioso cuja trajetória foi marcada pela caridade e luta por direitos humanos no Brasil. "Há uma brincadeira com o termo Dom, que pode significar aptidão inapta para fazer algo e também pode se referir a certos cargos eclesiásticos, como o de Dom Helder. Dom fala sobre olhar o próximo e lhe querer bem, acima de qualquer coisa", explica a compositora. Segundo Marisa, pessoas que fazem a diferença no País com ações realmente importantes inspiram sua criação musical. "Precisamos de mais gente olhando o bem-estar coletivo, é disso que se trata", completa.
Já "Deixa a Senzala" estabelece uma "conversa" da mulher preta com ela mesma. Os versos lembram as marcas deixadas pela escravidão, mas reforçam que a mulher deve ser guiada por sua própria voz. "É um olhar para o tanto que a mulher preta ainda sofre em nossa sociedade, em uma situação de maior vulnerabilidade. Eu queria homenagear essas mulheres guerreiras. Eu fiz essa música pensando na minha filha, porque quero que ela entenda o valor da mulher preta", comenta Luccas Soares. O compositor lembra que a música surgiu em sua mente quase já completa, vinda de algo que sentia, que precisava colocar para fora. A canção é interpretada pelo grupo campineiro Pretas & Pretos.
Por fim, "Resistência" também fala sobre a realidade da população preta, de uma maneira mais abrangente. "O propósito dessa canção é trazer consciência, um despertar, ação e reação. A música representa um povo que, desde sempre, luta por liberdade e igualdade. A música é uma trombeta para falar a todos o que passamos e o que pretendemos", detalha o compositor Michael Santiago. Ele explica que a letra não fala sobre uma dor já bem conhecida, mas sim é um convite à reação da população negra e também branca, pois a luta contra o racismo é coletiva.
As músicas finalistas serão divulgadas no dia 12 de novembro e, em 30 de novembro, acontece a final, ao vivo, na cidade de Brasília.
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