Gigante da música brasileira e representante do soul no País, o cantor carioca completaria 80 anos hoje (Divulgação)
Nascido em 28 de setembro de 1942, carioca da "gema", Sebastião Rodrigues Maia cresceu na Tijuca, no Rio de Janeiro. O Tião Maia - que adotaria e seria eternizado pelo nome de Tim Maia - não ficou limitado às fronteiras físicas, ou qualquer outra. Limites, aliás, não costumavam impedi-lo de nada. O cantor ficou conhecido tanto pelo enorme talento musical, quanto pelas polêmicas: foi deportado, preso, torrava dinheiro com drogas e garotas de programa e até fez parte uma seita mística que mudou seu estilo de vida e esteve por trás de dois dos seus álbuns: Tim Maia Racional Vol.1 e Vol.2.
"Preto, gordo e cafajeste, formado em cornologia (em referência a ter sido traído várias vezes), sofrências e deficiências capilares" era como o artista se definia, com o humor irreverente que lhe era característico. Exatamente oito décadas depois que o mundo recebeu Tim, ele não está mais presente fisicamente, mas suas canções e a importância de sua figura para a história da música brasileira estão eternizadas.
De acordo com o Ecad, a entidade brasileira responsável pela arrecadação e distribuição dos direitos autorais das músicas aos autores, "Não quero dinheiro" é a canção de autoria de Tim Maia mais tocada nos últimos 10 anos no Brasil, seguida por "Você" e "Azul da cor do mar", que completam o top três. Mas não tem como lembrar do artista e não recordar das letras e do timbre de sua voz cantando "Descobridor dos sete mares", "Gostava tanto de você", "Primavera", "Réu confesso", "Me dê motivo" e "Vale tudo".
A voz brasileira do soul
O educador musical, diretor artístico e regente da Orquestra de Câmara da PUC-Campinas Moisés Cantos lembra que Tim Maia teve grandes parcerias musicais. Em 1957, fundou o grupo The Sputniks, em que um dos membros era Roberto Carlos. Mas foi após a ida para os Estados Unidos, no fim dos anos 1950, que o cantor se encantou com o soul norte-americano, muito ligado à manifestação artística da comunidade negra. "Ele teve contato com bandas, com outros cantores e assimilou essa cultura. O Tim queria fazer música de forma diferente e trouxe esse elemento para a música dele", explica Moisés.
Tim então trouxe esse estilo musical, na época pouco conhecido por aqui, mas não sem uma pitada pessoal de brasilidade e atitude. "Ele levou a música soul para dentro do estilo 'iê iê iê', que era tão comum nos anos 1960. Manteve a forma rítmica do soul americano, mas deu um certo gingado único, um estilo brasileiro para a sua música. Era uma soul music à lá Tim Maia", descreve o educador musical, lembrando também da riqueza característica do timbre do artista, que tanto cantava muito bem na voz grave, mas também utilizava o falsete para atingir notas agudas. Moisés descreve a forma de Tim fazer música como "desaforada". "Este é o melhor adjetivo para ele e sua música. Na maior parte do tempo, ele não se prendia nem se limitava a nada. Eu gosto muito desse Tim Maia provocador. Ele fazia o que ele gostava e pronto", reflete.
O legado de Tim
Segundo Moisés Cantos, antes de Tim Maia os cantores negros aqui no Brasil ainda estavam muito limitados somente ao samba e ao choro. "Com a chegada dele, esse papel na música foi, de certa forma, desmistificado. Com Tim, o País viu que o artista negro podia cantar o que ele quisesse e fazer qualquer coisa", analisa. O educador musical considera este um dos maiores legados que o artista deixou, não só para a música brasileira, mas para a nossa sociedade.
Estreia de documentário com cenas inéditas de Tim Maia
Em comemoração aos 80 anos do cantor, estreia hoje no Globoplay o primeiro episódio de "Vale Tudo com Tim Maia", a série documental que promete trazer cenas exclusivas do artista. Serão entrevistas, shows, depoimentos e até algumas filmagens caseiras que seu filho Carmelo Maia disponibilizou do acervo pessoal da família e que mostram um lado de seu pai que poucos conheceram. O documentário tem uma narração em primeira pessoa bastante única: é o próprio Tim Maia, com seu carisma e humor irreverente, que traz a sua versão dos fatos que ocorreram em sua vida. A produção é composta por três episódios e tem direção de Renato Terra (de "O Canto Livre de Nara Leão") e de Nelson Motta, o autor da biografia "Vale Tudo - O Som e a Fúria de Tim Maia".