Vale a pena, pois é uma série que foge de outras tão tradicionais que tem como tema casos sendo julgados e como seus promotores conseguem estabelecer seus pontos
Weatherly em cena de Bull: para personagem, julgamentos podem ser ganhos conhecendo-se a fundo as pessoas que compõem um júri popular (Divulgação)
Antes de mais nada, essa história de que todo mundo é inocente até que se prove o contrário é pura balela. “Isso é igual dois hambúrgueres, alface, queijo, molho especial, cebola e picles em um pão com gergelim. Só um velho jingle”, defende o psicólogo Jason Bull, responsável por uma corporação de análise de tribunal. O motivo, segundo ele: nenhum julgamento começa do zero, não há folhas em branco nesses casos. O que, querendo ou não, permite entender melhor o cenário de um tribunal e até abre uma série de possibilidades para manipular seu resultado. É basicamente isso o que mostra a série Bull, produção estrelada por Michael Weatherly (NCIS) que estreia nesta quinta-feira no Brasil, às 23h15, no canal A&E. Dr. Bull, mais do que analisar as pessoas, é um mestre em persuasão, misturando charme, conhecimento, intuição e impulsão para chegar ao fundo da mente dos jurados, advogados, testemunhas e acusados em cada um dos casos da produção. O objetivo, atender às expectativas do seu cliente — culpado ou inocente. <div style="position:relative;height:0;padding-bottom:56.25%"><iframe src="https://www.youtube.com/embed/cmHeKAF6vwI?ecver=2" width="640" height="360" frameborder="0" style="position:absolute;width:100%;height:100%;left:0" allowfullscreen></iframe></div> Sua empresa faz o que ele chama de ciência jurídica, tendo em mente que um julgamento é mais do que apenas lei. É psicologia, neurolinguística, demografia. Por isso, a melhor forma de vencer um julgamento, acredita, é conhecendo até as vontades, dramas, dúvidas e dilemas das pessoas que compõem um júri popular. Mas afinal, como isso é feito? Com muita tecnologia e estudos aprofundados sobre o ser humano. Tanto que, no primeiro episódio, chamado O Colar, logo no início, a corporação simula um tribunal e lê (com sarcasmo e ridicularizando) a abertura escrita pelo famoso advogado contratado por uma família milionária que está prestes a ver o filhinho querido (e muito suspeito) ser condenado por assassinato. O advogado se defende e diz que sua defesa está muito boa e que cumprirá sua missão. Dr. Jason Bull, porém, rebate e decreta: com esse júri, você vai conseguir três (de 12) votos de inocência, dando o exemplo de uma mulher com brincos de diamantes e bracelete de platina. “Ela dará ao Brandon (o suspeito) o benefício da dúvida porque acha que ele é mimado demais para matar alguém.” O doutor dá detalhes pessoais ainda dos outros dois jurados que acredita serem a favor. Depois, sem eles terem ouvido as explicações, pergunta a todos quem considera o jovem inocente. Bom, já dá para imaginar quais erguem a mão inocentando Brandon, certo? Claro que, para dar credibilidade à ideia e à série, a produção mostra como esses consultores mergulham fundo na vida dos jurados, para entender como e o que eles pensam, por meio de padrões de comportamento na vida e, principalmente, padrões on-line. O que a pessoa “curte”, palavras frequentemente usadas, tudo é ligado a um sistema que prevê, com muita precisão, como eles vão votar antes mesmo das próprias pessoas saberem. O interessante da produção é justamente ver como isso pode, na prática, acontecer, fazendo justiça ou não ao caso em si. Há situações, entretanto, extremamente previsíveis, ao ponto de ser possível adivinhar o veredicto do episódio e o desenrolar das tramas paralelas antes de suas revelações — o que, paradoxalmente, é justamente o trabalho da fictícia corporação na série. O que nos faz pensar que a atração sabe muito bem como contar os bastidores de um tribunal, mas não fez a própria lição de casa em alguns momentos. Vale a pena, mesmo assim, pois é uma série que foge de outras tão tradicionais que tem como tema casos sendo julgados — e como seus promotores conseguem estabelecer seus pontos de vista. Aqui, a ideia é mostrar sim casos policiais e seus acusados, mas que nem sempre as coisas saem como se espera.