Mais de 4 mil crianças de 4 a 11 anos — alunos de 24 escolas públicas de Campinas e região — já participaram do projeto Cine Infância (Danilo Dias de Freitas)
Cinema e cineclubismo também são coisas de criança. É o que mostra o Cine Infância, um projeto cineclubista voltado, principalmente, para crianças de 4 a 11 anos. Idealizada pela produtora e cineasta Fernanda Teodoro Viana, a iniciativa já atingiu mais de 4 mil crianças em 24 escolas públicas de Campinas e região. "A ideia é plantar nessas crianças a sementinha do interesse pelo cineclubismo, pelo cinema e pela arte. Queremos formar um público que entenda que cinema não é só shopping e que não precisamos de uma super sala para exibir um filme e pensarmos sobre ele", explica a cineasta.
COMO É O PROJETO
O projeto começou oficialmente em 2023 com recursos do Fundo de Investimentos Culturais de Campinas e continuou em 2024 com o aporte financeiro das Leis Paulo Gustavo Municipal e Estadual. "A principal proposta é levar para as crianças o cineclubismo, que é ver um filme fora do ambiente do shopping, sem pipoca, para afastar a ideia de que é só entretenimento, e, nesse caso, sendo esse filme uma produção brasileira. Assim, podemos pegar aspectos importantes sociais de nossa cultura, para trazer para dentro de uma conversa", informa Fernanda.
A idade das crianças não é impedimento para os assuntos trazidos para os debates, afirma a idealizadora do projeto. "Na verdade, a gente quer mais ouvir o que as crianças têm para falar do que levar informação. Assim percebemos o tanto que a gente conseguiu proporcionar com os temas."
Fernanda conta que percebe nas crianças tanto o interesse pelos filmes, história, personagens, como pela arte do cinema. "Os interesses surgem de maneiras diferentes, mas já ouvi criança falando que ama filmes e que quer estudar cinema." Além da conversa, há também uma atividade complementar realizada artesanalmente com os alunos que tem alguma relação com a temática ou elementos do filme. Pode ser uma brincadeira, um desenho, uma pintura, uma colagem ou uma modelagem com argila. Quem idealiza e desenvolve essas atividades é Pâmela Raizia, arte-educadora, artista, poetisa, mestra em Artes da Cena e pedagoga.
CURADORIA DOS FILMES
Para o projeto, Fernanda escolheu usar somente curta-metragens, afinal a duração entre 15 e 20 minutos, em média, permite que o tempo do cineclube seja dividido com mais facilidade com o bate-papo e a atividade lúdica. Mas a cineasta quis mostrar para as crianças que filmes com uma menor duração também são cinema, apenas algo diferente do que estão mais acostumadas.
Os títulos são sempre brasileiros e há um cuidado na seleção de produções de diferentes regiões do País. "Queremos filmes que tenham sua própria identidade e que tragam essa pluralidade cultural e histórica." Há animações entre os curtas escolhidos, além de filmes de ficção e documentários. "A gente quer mostrar para as crianças que não há só desenho da Disney", explica.
Os filmes são todos de classificação livre, ou seja, adequados para crianças e integrantes do catálogo da tradicional Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis. Fernanda seleciona temas que acha importantes, mas, às vezes, são os próprios professores que pedem uma temática específica, como racismo e bullying. "O Cine Infância pode tratar de temas difíceis de uma forma lúdica, mais leve, mas que os faça pensar sobre essas questões". Ter recursos de acessibilidade, como audiodescrição e Libras, também faz parte é um critério de seleção dos curtas.
OFICINAS PARA PROFESSORES E ALUNOS
Três oficinas gratuitas estão programadas dentro do projeto. A primeira, "Filmar uma carta: uma oficina para inspirar olhares e gestos com a câmera", é voltada para professores da educação básica e acontece no dia 07 de agosto, no Centro de Formação, Tecnologia e Pesquisa Educacional (Cefortepe), no Cambuí. A carga horária é de quatro horas, das 14h às 18h.
"Apoiadas nas discussões contemporâneas sobre educação digital, pretendemos dialogar com esses professores sobre o uso do audiovisual em diferentes contextos educativos na educação básica, de modo que eles se apropriem individualmente dessa linguagem, numa perspectiva crítica, que possa ser adaptada à realidade onde eles atuam", comenta Karine Joulie, bacharel em Cinema, mestre e doutora em Educação, que ao lado de Fernanda vai ministrar a aula.
As inscrições estão abertas até amanhã, 4 de agosto, e devem ser feitas pelo formulário no link https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSfmqSzbdeLC98_KICnZVLziic23w3fnnRcJV2PpRyCDoZr ciQ/viewform.
As outras duas oficinas, "As muitas formas de brincar com um filme" (8 e 9 de agosto) e "Exercícios de animação e filmagem" (20 e 27 de agosto), são exclusivas para os alunos da Escola Professor Fábio Faria de Syllos e EMEF Padre Emílio Miotti.
NOVOS CAMINHOS
O Cine Infância depende de aportes financeiros externos, como as leis de incentivo à cultura que viabilizaram o projeto até então. Para a continuidade em 2025, a iniciativa precisa ser contemplada mais uma vez e Fernanda já busca novos editais. A idealizadora revela que gostaria que o Cineclube tivesse uma atuação constante em, pelo menos, uma escola, buscando trabalhar mais profundamente os efeitos da iniciativa. Por ora, é só uma ideia, mas caso o projeto continue crescendo, este é um caminho que ele deve seguir. Para acompanhar a iniciativa, basta seguir o perfil no Instagram @cineinfancia.
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