CADERNO C

Paisagens urbanas e a transformação da memória

Na exposição 'Territórios', a artista Marcia Gadioli apresenta 10 anos de obras realizadas a partir da fotografia e que debatem lembranças e espaço

Aline Guevara/cadernoc@rac.com.br
17/09/2024 às 15:36.
Atualizado em 17/09/2024 às 15:36
 (Douglas Asarian)

(Douglas Asarian)

Como a nossa memória do lugar onde vivemos, que já é tão fugaz, se altera com as mudanças dos cenários urbanos? Esses são alguns questionamentos das pesquisas da fotógrafa e artista visual paulistana Marcia Gadioli. Ela estará em Campinas na sexta-feira, 20 de setembro, na abertura da exposição "Territórios", que reúne cerca de 80 obras suas - entre fotografias em formatos e suportes diversos, vídeos e até livros de artista. A mostra pode ser visitada no Museu da Imagem e do Som (MIS) de Campinas até 31 de outubro. 

SOBRE A MOSTRA 

O acervo de "Territórios" foi selecionado em meio a conversas entre a artista e o curador Eder Ribeiro a partir de um recorte do que Marcia produziu artisticamente nos últimos 10 anos. As obras trazem a fotografia nas mais diferentes apresentações. Há entre as peças produzidas para a mostra fotos clássicas, analógicas e em preto e branco, impressas manualmente no laboratório no papel fotográfico convencional; algumas imagens são montadas com vidro e molduras, outras adesivadas na parede ("Justamente para as pessoas ficarem mais próximas da materialidade da fotografia", explica Marcia); e algumas peças são produzidas com o método Gadiolar, um processo criado pela artista. 

Sobre este último, é um método artesanal realizado com uma impressora caseira que permite transferir a fotografia digital para um papel japonês transparente muito fino e delicado. "A partir daí, não é mais aquela foto perfeita. Esses defeitos são a qualidade da minha foto, porque traduz para material concreto o pensamento desenvolvido na minha pesquisa", explica Marcia. 

O assunto principal da pesquisa da artista visual é a memória, tanto a preservação quanto a perda dela. "Eu estabeleço a relação dela com o indivíduo e seu lugar de convivência, às vezes de um lugar pessoal", aponta ela. Partindo deste objeto de estudo, Marcia olha também para as transformações urbanas, principalmente em grandes centros, onde muitas vezes edifícios substituem casas, praças e comércios que eram pontos de referência dentro das nossas recordações. "Para mim, isso afeta cada indivíduo deste espaço. Junto com a referência, perdemos um pouco daquele lugar. Na minha pesquisa eu quero entender como isso interfere na construção da identidade de cada um", complementa ela. 

Pesquisa, materiais e técnicas, aliados ao olhar da artista visual, produzem estas obras que traduzem suas provocações. "No centro desta investigação está o meio fotográfico, que se desdobra de diversas formas. Fotografias impressas ou, em alguns casos, produzidas artesanalmente, por transferência sobre papéis transparentes, ou ainda sobre parafina, obtendo-se assim, por sobreposição, novos sentidos e visualidades", comenta o curador da exposição Eder Ribeiro. 

OBRAS ESPECIAIS PARA CAMPINAS (E COM O CORREIO POPULAR) 

A obra é itinerante - sendo Campinas o destino final da circulação - e para cada localidade Marcia elaborou algumas obras inéditas relacionadas à cidade. Aqui, a artista fotografou o município e para a impressão utilizou muitas técnicas: o método Gadiolar, a frotagem (processo de captar texturas com papel e grafite), combinando as fotografias dela com imagens do jornal Correio Popular, envolvendo essas obras com parafina. "Eu faço uma nova imagem criando diálogos com elementos do lugar. Eu uso fotos do jornal, cujas imagens jornalísticas são rapidamente consumidas e transformadas, envolvendo-as com parafinas, que é um meio de conservação, e deixo essas imagens que agora não vão perder a cor, não vão desbotar. São perenes", detalha ela. Ao mesmo tempo, a lâmina da parafina é bastante fina e frágil. "Crio então um paradoxo entre efemeridade e perenidade, que está diretamente ligado à memória", completa. 

CONVERSAS COM O PÚBLICO 

Na abertura do evento, às 17h30 do dia 20 de setembro, o público terá oportunidade de participar de um bate-papo com o curador Eder Ribeiro sobre o processo de desenvolvimento dos trabalhos e as relações entre as obras no conceito curatorial. No dia 19 de outubro, a partir das 11h, o arquiteto Marcelo Salles abordará as relações entre as obras e o espaço expositivo. E no encerramento da mostra, no dia 31 de outubro, às 17h, será a vez da própria artista ter esse contato mais próximo com os visitantes numa conversa sobre criação, percepções e olhares. 

A mostra foi realizada graças à premiação no edital PROAC nº 13/2023. "Territórios" é uma exposição acessível para diversos públicos e todas as conversas vão ter um intérprete de libras.

PROGRAME-SE 

Exposição "Territórios" 

Quando: abertura sexta, 20/09, às 17h30; depois até 31/10, de terça a sexta, das 12h às 18h30; sábados das 10h às 16h; visitas guiadas das 10h às 12h ou das 14 às 16h 

Onde: Museu da Imagem e do Som de Campinas - Rua Regente Feijó, 859, Centro 

Entrada gratuita 

Informações: (19) 3733-8800 e Instagram @marciagadioli

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