LANÇAMENTO

Livro alerta para a degradação da Mata Atlântica, ameaçada pelo homem

Obra de Fabio Rubio Scarano apresentada de uma maneira singular e poética fauna, flora e povos que habitam um dos mais ricos ecossistemas brasileiros

Delma Medeiros
delma@rac.com.br
17/02/2015 às 05:00.
Atualizado em 23/04/2022 às 23:57
"Livro Mata Atlântica - Uma História do Futuro", de Fabio Rubio Scarano, tem edição edição blingue, em português e inglêsr
 ( Divulgação)

"Livro Mata Atlântica - Uma História do Futuro", de Fabio Rubio Scarano, tem edição edição blingue, em português e inglêsr ( Divulgação)

Em São Paulo, não o mar, mas os rios estão virando sertão. E, como escreveu Carlos Drummond de Andrade no poema "A Câmara Viajante", “podemos deixar que uma faixa imensa do Brasil se esterilize, vire deserto, ossuário, tumba da natureza?”. No livro "Mata Atlântica - Uma História do Futuro", de Fabio Rubio Scarano, a relação entre homem e natureza é apresentada de uma maneira singular e poética com texto e cerca de 130 imagens — entre fotos e ilustrações — da fauna, flora e povos que habitam um dos mais ricos ecossistemas brasileiros.   Apesar da visão otimista dos problemas ambientais enfrentados atualmente, a publicação traz dados que chamam a atenção para o desmatamento desenfreado que acontece no País e os impactos desse descontrole ambiental. “A Mata Atlântica é hoje uma das cinco florestas mais ameaçadas do planeta. O que resta de sua cobertura original são apenas 12% e mesmo assim, a maioria formada por pequenas áreas de vegetação isoladas, com menos de 50 hectares”, alerta Scarano, Ph.D. em Ecologia pela Universidade de St. Andrews, Escócia, e professor associado em ecologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.   Ecossistema ameaçado “Nasci no meio da Mata Atlântica, no Horto, no Rio de Janeiro, fui criado no Jardim Botânico, a Mata sempre me interessou. O livro foca nesse ecossistema tão ameaçado e que abriga 60% da população brasileira. Já estamos sentindo reflexos da degradação das florestas e se não revertermos essa situação, os prejuízos à qualidade de vida só vão aumentar”, afirma Scarano, lembrando a crise hídrica que afeta boa parte do Brasil.   “A natureza e o homem são indissociáveis e a situação da Mata Atlântica há muito passou do suportável. Há que se fazer algo a respeito”, reforça, frisando que seu livro busca ligar o passado, o presente e a visão do futuro. “Temos ciência suficiente para reverter a situação, o que falta é vontade política e atitude, tanto nas esferas governamentais como da sociedade civil.”   Bilingue Em edição bilíngue, com textos em português e inglês, a obra contempla o período anterior à chegada dos colonizadores no Brasil, as transformações com a chegada da corte de D. João VI e a institucionalização da ciência, até a fragmentação do bioma, em seis capítulos: Descobrindo o Brasil e a Mata Atlântica, As Várias Faces da Mata Atlântica, Um Bioma Fragmentado, Os Povos da Mata Atlântica, Rio de Janeiro: A Metrópole e a Mata Atlântica e A Mata Atlântica do Futuro. Até por conhecimento de causa do autor, o livro traz um capítulo dedicado ao Rio de Janeiro, uma das poucas metrópoles totalmente inseridas na Mata Atlântica, com imagens de importantes nomes da fotografia nacional como Luiz Claudio Marigo, Enrico Marone, Fabio Colombini e Adriano Gambarini, entre outros. “O Rio tem uma vocação natural de ser um modelo de cidade sustentável. A história da Mata Atlântica está intrinsecamente ligada à história da cidade”, explica o autor.   Importância do bioma Segundo Scarano, mais que um livro relacionado ao meio ambiente, "Mata Atlântica - Uma História do Futuro" aponta para a importância do bioma que, apesar de dilapidado, concentra 70% do Produto Interno Bruto (PIB) e dois terços da atividade industrial do País. Apresenta ainda, como perspectiva, o Pacto pela Restauração da Mata Atlântica, que visa a promover a cooperação entre instituições para restaurar o bioma em larga escala e garantir a restituição de, pelo menos, 30% da cobertura original da floresta.   “O Pacto foi lançado em 2009 e hoje congrega cerca de 200 instituições, entre governamentais, ONGs, empresas. O objetivo é restaurar, até 2050, 15% da Mata Atlântica, o que significa dobrar sua cobertura atual, criar corredores verdes, elos entre os fragmentos. Até agora alcançamos um porcentual pequeno da meta de plantio, é preciso ampliar a escala e envolver toda a sociedade, terceiro setor e outros”, aponta. “Recuperar a Mata Atlântica é manter a diversidade cultural de nosso País.” Povos da Mata Atlântica   Um capítulo que Scarano diz lhe agradar em particular é o que trata dos povos tradicionais do bioma, incluindo caiçaras, quilombolas, imigrantes europeus e a população urbana. “Há que avaliar o que já se perdeu em termos de diversidade cultural dos povos que habitam a Mata Atlântica e atuar no sentido da preservação dessas diferenças”, coloca o autor.   Scarano explica que neste capítulo teve apoio autoral da mestre em ciências ambientais Renata Pinheiro e da doutora em sociologia Larissa Mellinger. Com uma das mais ricas biodiversidades do mundo, a Mata Atlântica comporta quase 16 mil espécies de plantas, 2,2 mil espécies de vertebrados e 60% da população brasileira. Aproximadamente 100 milhões de pessoas vivem ao longo de 17 estados brasileiros, do Ceará ao Rio Grande do Sul, passando por grandes centros urbanos como São Paulo e Rio de Janeiro.   Segundo a autor, como resultado da concentração de renda e da desigualdade social, muitos municípios inseridos no bioma ainda possuem baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), especialmente na região Nordeste. “Já foi demonstrado que os municípios que mais desmatam, no bioma, são também os que possuem menor IDH”, afirma Scarano. O livro alerta ainda para a importância da conservação, visando a sustentabilidade e as possíveis formas de coexistência de aglomerados urbanos e sua matriz ecológica. (DM/AAN)Curiosidade   A cidade de Campinas era 100% coberta por Mata Atlântica e hoje restam apenas 2% de remanescentes desta floresta, distribuídos em vários fragmentos como a Área de Proteção Ambiental (APA) de Sousas e Joaquim Egídio e a Mata de Santa Genebra em Barão Geraldo, entre outros.

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