Seleção feita pelo Caderno C mostra locais de visitação imperdíveis para quem gosta de história e se encanta com a arte
Catedral Metropolitana (Kamá Ribeiro)
Em cada igreja que se entra, o espírito se eleva e o olhar também. Impossível não perceber a beleza dos vitrais, a incrustação delicada das colunas, as pinturas no teto e os detalhes das esculturas no altar. A sensação é de entrar em uma grande galeria de arte. Santificada, claro, mas o trabalho artesanal e artístico presente no ambiente é uma história à parte. E coloca história nisso! O Caderno C selecionou três igrejas católicas tradicionais, localizadas na região central, para mostrar um pouco dessa riqueza. Mas esta é apenas um pequena mostra do tesouro de arte sacra espalhado pelos templos da cidade que merecem uma visita. Se não pela fé, que seja pela arte.
Nosso roteiro começa na Basílica Nossa Senhora do Carmo, a única em estilo gótico, localizada no coração de Campinas, a Praça Bento Quirino, em frente ao marco zero da cidade. Ela foi originalmente a igreja Matriz (1781), em torno da qual Campinas se desenvolveu. De lá seguimos até a Catedral Metropolitana, dedicada à Nossa Senhora do Rosário, que começou a ser construída em 1807 e foi concluída apenas em 1883, bem no Centro. E por fim chegamos à Paróquia Nossa Senhora das Dores, localizada no bairro Cambuí, projetada na década de 1930 em estilo neocolonial - que propunha a retomada dos valores arquitetônicos e artísticos brasileiros. As três são de épocas e estilos diferentes, mas têm em comum o cuidado dos construtores em manter uma relação afinada com a arte.
Basílica do Carmo
As pinturas nas paredes laterais e ao fundo do altar principal chamam a atenção de quem entra pela primeira vez na Basílica do Carmo, a única igreja em estilo gótico na cidade. Os afrescos são obras do pintor italiano Gaetano Miani (1920-2009), que escolheu o Brasil como destino após a Segunda Guerra Mundial. A imagem de Nossa Senhora do Carmo, instalada na nave central, foi esculpida na Espanha (1871) em um único bloco de madeira. O ambiente interno recebe a luz externa colorida pelos vitrais, criados por artistas da Casa Conrado (empresa alemã que atuava em São Paulo) usando a técnica de Grisaille, uma pintura em cinza que dá a ilusão de relevo. Logo na entrada vale a pena admirar a pia batismal esculpida em mármore, uma relíquia onde foram batizados nomes conhecidos na história da cidade, como Carlos Gomes, Júlio de Mesquita, Francisco Glicério e Campos Salles. Os mármores estão presentes em vários detalhes decorativos trabalhados pelo artista plástico Lélio Coluccini, um nome importante na história artística da cidade. Outra obra de arte rara, só que sonora, ainda é tocada na Basílica: o órgão tamburini, com dois teclados, 1335 tubos e 32 pedaleiras. É o instrumento musical de maior recurso harmônico e melódico de Campinas. Ele pode ser ouvido duas vezes por mês, sempre no primeiro e no terceiro domingos, durante a missa das dez horas.
Na Basílica do Carmo - a única igreja em estilo gótico - as pinturas nas paredes laterais estão entre as artes mais admiradas (Gustavo Tilio)
Catedral Metropolitana
Os entalhes feitos à mão por um grupo de entalhadores trazidos da Bahia no ano de 1853 comandados por Vitoriano dos Anjos são o principal destaque da Catedral Metropolitana. Toda a ornamentação interna é feita por um requintado trabalho de talha em madeira de cedro. O estilo barroco baiano comandado pela equipe de Vitoriano dos Anjos está nos detalhes do altar principal (com um tipo de baldaquino - uma espécie de coroa que cobre o altar), dos altares laterais, no balcão das tribunas e nos dois púlpitos em estilo rococó tardio, que levaram cerca de dez anos para serem concluídos. Depois assumiu este trabalho o ituano Bernardino de Sena Reis e Almeida, que fez os altares da nave e as duas capelas laterais em estilo neobarroco. Chama a atenção na parte interna os lustres raros, os vitrais e o campanário com seis sinos. A obra da Catedral levou 76 anos para ser concluída e é o maior templo do mundo construído com a técnica de taipa de pilão.
Paróquia N. S. das Dores
A única igreja em estilo neocolonial de Campinas é a Paróquia Nossa Senhora das Dores, localizada na Rua Maria Monteiro, no Cambuí. Por esta razão, ela está incluída na pesquisa de doutorado do arquiteto Renan Treft, que inclui os templos do Estado de São Paulo nesse estilo. Projetada na década de 1930 pelo arquiteto campineiro Hoche Segurado e finalizada internamente por artistas locais, a igreja exibe pinturas, vitrais e esculturas em seu conjunto artístico. “O estilo neocolonial propunha a retomada dos valores arquitetônicos e artísticos brasileiros”, explica Renan Treft. Ele destaca a pintura do teto superior da nave, ainda original da obra de Franco Sacchi, que mostra a apresentação do menino Jesus no templo. A mesa do altar principal é de mármore travertino sustentada por colunas de ônix brasileiro, extraído de uma jazida de Santos, SP. Há vários detalhes em mármore trabalhados pelos irmãos Coluccini. O retábulo do altar é de cedro decorado e o altar foi feito em jacarandá da Bahia com incrustações de prata. A imagem de Cristo é em madeira patinada, com cores originais. Todos os trabalhos e mais os altares laterais foram projetados pelo professor Joaquim Olavo Sampaio, da Escola Bento Quirino. E os vitrais foram feitos em vidro belga trabalhados em jato de areia. O arquiteto que estuda o conjunto da obra comenta que "a precisão dos acabamentos e a unidade plástica e visual encantam qualquer observador".
Entre os destaques da Paróquia N. Sra. das Dores estão a pintura do teto superior da nave e a mesa do altar principal (Gustavo Tilio)