Imagem que integra a exposição Geometria do Encontro, que será aberta no próximo sábado no MuCi: atividade está na programação especial de maio (Divulgação)
"Ele 'nasceu' com um programa museológico de vanguarda. Renomados profissionais do setor, como Maria Cristina Bruno, museóloga e professora do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE-USP), e Ricardo Bogus, museólogo do Museu Paulista, trabalharam na concepção de um plano de atividades prevendo um museu vivo. Isso em uma época em que não se falava em cultura imaterial, mas sim em cultura viva e, na inauguração, o grande mote era ser um museu vivo, que não fosse estático". Essa é a explicação da educadora Adriana Barão, sobre a concepção e abertura do Museu da Cidade (MuCi), que completa 30 anos de atividades.
Unindo os acervos dos três museus que funcionavam no Bosque dos Jequitíbás: o Histórico, o do Folclore e o do Índio, o Museu da Cidade foi inaugurado em abril de 1992 no prédio da antiga fábrica Lidgerwood, que acabara de ser tombado. "O historiador Célio Turino era o secretário de Cultura da época. Ele ajudou a pensar esse museu, defendendo que não tem como separar o que é histórico, o que é etnográfico e o que é folclórico. Assim, foi quebrada a hierarquia e os acervos foram unidos. Foi o primeiro passo de vanguarda", diz. O segundo, na opinião dela, foi a ocupação de um prédio recém-tombado.
"Percebeu-se que era um local simbólico sendo ocupado com os três acervos unificados, mas pensando que o endereço seria de passagem e ponto de partida", afirma a ex-gestora do Museu da Cidade de Campinas e que atualmente atua no Setor Educativo e Comunicação da instituição.
Ela cita ainda que a historiadora Mirza Pellicciotta também fez parte de uma equipe multidisciplinar. "Ela começa a pensar como acervos de pessoas comuns também poderiam compor o museu", conta.
Programas icônicos e acervo
Ao longo dessas três décadas de atividade, o Museu da Cidade tem como um de seus destaques o programa Caminhada Histórica, que sai do prédio central e segue pelo centro histórico da cidade enquanto as conversas convidam para reflexões sobre os nomes das ruas, os monumentos e as mudanças que ocorreram. "Provando assim que a malha urbana não é estática. É também processual. A cidade está sempre se modificando e são os cidadãos que promovem as mudanças históricas", ressalta Adriana.
O segundo programa de destaque citado por ela chama-se Agentes da História. Ele teve início em 2002 com um projeto de história oral, fazendo registro de personalidades que não foram famosas, mas que modificaram também a história da cidade. "Um exemplo foi a pesquisa que fizermos sobre Laudelina de Campos Melo, que fundou o primeiro sindicato de empregadas domésticas de Campinas. Fizemos um documentário e um livro sobre ela e de outros personagens também", comenta.
Como não poderia deixar de ser, o acervo do Museu da Cidade também é destaque. Hoje, ele é composto por cerca de seis mil peças, entre mobiliários históricos, como o primeiro utilizado na Câmara Municipal, objetos dos tempos da escravidão, peças da cultura popular e o acervo indígena coletado pelo professor Desidério Aytai. "Temos uma parceria com o laboratório Sirius, que faz análise desse material arqueológico, e em junho sairá resultado", relata Adriana.
Ela comenta, ainda, que no ano passado a artista plástica e ativista Andrea Mendes doou três esculturas relacionadas à cultura negra, que estão expostas atualmente. "Recebemos essas peças porque percebemos que o acervo não contemplava muito a cultura negra da cidade".
Eventos de comemoração
Para celebrar os 30 anos do Museu da Cidade, uma programação especial começa nesta segunda-feira (16) com o webinário "Diálogos entre Museus de Cidade", que será transmitido às 19h, pelo canal do YouTube Cultura Abraça Campinas. A conversa conta com a participação do museólogo do IDBrasil, Mauricio Rafael, que atuou entre 2016 e 2021 como supervisor de Museologia e Acervos do Museu da Cidade São Paulo (MCSP), instituição que congrega 13 espaços históricos, distribuídos pelo território da capital paulista, e Danilo Montingelli, coordenador do Programa Diálogos no Museu, que atua com vários projetos educativos do Museu da Cidade de São Paulo.
"Será uma troca muito importante porque estamos caminhando para um pensamento semelhante ao que o Museu da Cidade de São Paulo aplica de que o museu não é uma única instituição, ele pode se espalhar pela cidade. Lá são 13 unidades museológicas. Aqui, atualmente, somos formados por três unidades: o prédio da antiga Lidgerwood, o Centro de Cultura Caipira e Arte Popular, de Joaquim Egídio, incorporado em 2015, e a Casa de Vidro, incorporada em 2017, onde atualmente é a sede administrativa, a reserva técnica e onde ocorrem as exposições de longa duração", explica Adriana.
Ela ressalta que que anualmente o MuCi realiza uma programação especial no mês de maio para comemorar a Semana de Museus incentivada pelo Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM) e especialmente o Dia Internacional dos Museus, no dia 18, para dar maior visibilidade às instituições de memória e educação, aproximando de forma intensa o público geral.
Entre os demais eventos do mês está a Exposição" Geometria do Encontro" do Coletivo de artistas 1MULHERporM2, que será aberta no próximo sábado, 21, às 10h. No mesmo dia, às 18h acontece o lançamento do livro "Ideopatuagramas", de Fausto Antonio Carlindo, seguido da exibição do documentário "Balaio", sobre o Ponto de Cultura e Memória Ibaô. "Para nós, é muito importante fazer essa interface com outros centros culturais da cidade", finaliza.