Ritmo negro, efervescente e poderoso

Dia Internacional do Jazz: convite para celebrar o gênero

O ritmo nasceu em Nova Orleans, mas tem adeptos mundo afora, inclusive em Campinas

Aline Guevara/ cadernoc@rac.com.br
30/04/2023 às 13:01.
Atualizado em 30/04/2023 às 13:01

O trompetista Miles Davis, que morreu em 1991, foi um dos músicos mais influentes na história do jazz (Divulgação)

Foi do caldeirão efervescente que era Nova Orleans, nos Estados Unidos, do fim do século XIX e início do século XX - musicalmente, culturalmente e socialmente - que surgiu o pulsante ritmo do jazz. Através dele grandes ícones foram consagrados, como Miles Davis, Louis Armstrong, Ella Fitzgerald, Billie Holiday, Charlie Parker e John Coltrane. O gênero atravessou fronteiras, oceanos e ganhou adeptos, assim como fãs apaixonados, em todo o mundo. E desde 2012 a data de 30 de abril foi determinada pela Unesco como o Dia Internacional do Jazz. Portanto, é tempo de celebrar em alto e bom som.

Apesar de existirem controvérsias quanto à origem do ritmo, muitos historiadores e músicos cravam: é uma música que surgiu negra, nascida de artistas afrodescendentes, filhos e netos de pessoas escravizadas. Portanto, apesar de estar profundamente relacionada à cultura norte-americano, é impossível negar que suas raízes mais profundas são africanas. "Acho que não teríamos música popular interessante no mundo se não fosse a África, que influenciou o jazz, a música caribenha e o ritmo brasileiro. Não é à toa que Nova Orleans, Havana, em Cuba, e Rio de Janeiro foram importantes portos que receberam escravos", analisa o baterista campineiro Pedro Paulo D'Elia, o Pepa. Formado pela Unicamp, ele dedicou boa parte da carreira à Música Popular Brasileira, tocando ao lado de grandes nomes como Toquinho, mas também tem uma grande vivência com o jazz ao longo dos 40 anos em que domina as baquetas.

Jazz pela história

"Esse jazz do princípio tinha uma estrutura harmônica, mas também tinha um tipo de improvisação coletiva, com vários instrumentos improvisando ao mesmo tempo. Era tudo muito fluido, sem ter uma rigidez", detalha Paulo Tiné, professor da Faculdade de Música da Unicamp, citando a improvisação como a "espinha dorsal do jazz". O ritmo, claro, foi se transformando com o tempo, em determinados momentos fica mais "comportado" e menos polifônico a partir de arranjos mais bem definidos.

O jazz nasce em um cenário muito propício para ser propagado, com o início das gravações musicais, do rádio e até uma vantagem geográfica, pois os músicos se locomoviam para muitos locais do país através do Rio Mississipi, que atravessa os Estados Unidos a partir de Nova Orleans. Surgem as populares e dançantes Big Bands nos anos 1930, que ganharam grandes plateias ao som do trompetista e saxofonista Louis Armstrong. Depois veio a corrente do Bebop, nos anos 1950, que tenta ser menos comercial ao apostar em mais improvisação e liberdade, com Charlie Parker como um dos expoentes.

"E nesse contexto do Bebop surge o também trompetista Miles Davis, ainda muito incipiente, mas ele vai mudar o contexto do jazz ao introduzir o Cool Jazz. Era um jeito de tocar jazz, mas virou um estilo, esse ritmo mais frio, melancólico. Ele tinha uma atitude mais política, como quando tocava de costas para plateias brancas. O Miles é um cara muito importante para a história do jazz ao passar por transformações junto com a música", lembra Paulo. Miles participa, por exemplo, da corrente do Jazz Rock, o jazz eletrônico, na fusão dos dois ritmos. Ele chegou a tocar com o baterista brasileiro Airto Moreira em um show no Festival da Ilha de Wight, em 1970, acompanhado por Gilberto Gil. "Eu já vi o DVD desse show e tem uma hora que a câmera mostra o Gil na plateia, da época em que ele estava exilado em Londres".

"Hoje nós não temos uma corrente que se destaca, até porque não é tão popular. Mas temos de tudo, desde bandas que apresentam aquele jazz tradicional do começo até quem misture com outros ritmos, como a música brasileira por aqui", diz o docente. Mas ele destaca a contribuição da maestrina e compositora Maria Schneider, que chegou a tocar com Miles Davis com sua Big Band. "É uma presença feminina em um ambiente ainda bem machista e ela faz jazz de uma forma muito singular, inclusive com algumas referências à música brasileira, até o choro, já que ela veio para cá algumas vezes".

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