Alaato Jazyper para a Massimo Dutti (Robin Galiegue)
Negro forro
de Adão Ventura
“Minha carta de alforria
não me deu fazendas,
nem dinheiro no banco,
nem bigodes retorcidos.
Minha carta de alforria
costurou meus passos
aos corredores da noite
de minha pele
Sou Negro
de Solano Trindade
Sou negro
meus avós foram queimados
pelo sol da África
minh`alma recebeu o batismo
dos tambores
atabaques, gongôs e agogôs
Contaram-me que meus avós
vieram de Loanda
como mercadoria de baixo
preço
plantaram cana pro senhor de
engenho novo
e fundaram o primeiro Maracatu
Depois meu avô brigou como
um danado
nas terras de Zumbi
Era valente como quê
Na capoeira ou na faca
escreveu não leu
o pau comeu
Não foi um pai João
humilde e manso
Mesmo vovó
não foi de brincadeira
Na guerra dos Malês
ela se destacou
Na minh`alma ficou
o samba
o batuque
o bamboleio
e o desejo de libertação”
Encontrei minhas origens
de Oliveira Silveira
“Encontrei minhas origens
em velhos arquivos, livros
encontrei
em malditos objetos
troncos e grilhetas
encontrei minhas origens no leste
no mar em imundos tumbeiros
encontrei
em doces palavras, cantos
em furiosos tambores
ritos
encontrei minhas origens
na cor de minha pele
nos lanhos de minha alma
em mim
em minha gente escura
em meus heróis altivos
encontrei
encontrei-as enfim
me encontrei”
Integridade
de Geni Mariano Guimarães
“Ser negra,
Na integridade
Calma e morna dos dias.
Ser negra,
De carapinhas,
De dorso brilhante,
De pés soltos nos caminhos.
Ser negra,
De negras mãos,
De negras mamas,
De negra alma.
Ser negra,
Nos traços,
Nos passos,
Na sensibilidade negra.
Ser negra,
Do verso e reverso,
Do choro e riso,
De verdades e mentiras,
Como todos os seres que habitam a terra.