TRIBUTO

Cinema celebra os 110 anos de nascimento de Mazzaropi

Está é uma oportunidade para relembrar as influências do artista e sua importância para o cinema nacional

Aline Guevara
08/04/2022 às 22:11.
Atualizado em 09/04/2022 às 13:12
Amácio Mazzaropi iniciou a carreira no circo e no teatro (Divulgação)

Amácio Mazzaropi iniciou a carreira no circo e no teatro (Divulgação)

O aniversário de 110 anos do nascimento de Amácio Mazzaropi é oportunidade para relembrar as influências do artista e sua importância para o cinema nacional

Quando falamos em Mazzaropi (1912-1981), possivelmente a primeira imagem que vem à cabeça é o Jeca, o caipira vivido e imortalizado pelo ator em diversos filmes. Mas é impossível não se impressionar com o extenso currículo do artista. Amácio Mazzaropi iniciou a carreira no circo e no teatro, passou pelo rádio, estreou na televisão e sedimentou seu legado no cinema, onde começou em 1952, com o filme "Sai da Frente". Depois dele ainda viriam "A Banda das Velhas Virgens", "Chofer de Praça" e "Jeca Tatu". Neste sábado, é lembrado os 110 anos de seu nascimento.

O jornalista Tiago Gonçalves, hoje residente de Campinas, lembra bem da primeira vez que teve contato com o cinema de Mazzaropi e com o próprio artista. Com seus 10 ou 12 anos, ele, natural da cidade de Três Corações, MG, e fã dos filmes do Bruce Lee, foi com a avó visitar a tia, que naquele momento assistia "Jecão - um Fofoqueiro no Céu". Naquele momento, ele foi completamente cativado pelo personagem, suas trapalhadas e seu humor. "Naquele dia eu dei um mortal no Bruce Lee, nunca mais vi filmes dele, e até hoje assisto Mazzaropi", brinca. Anos depois do primeiro fascínio, o jornalista começou uma pesquisa no seu mestrado na Unicamp sobre as referências do circo no cinema do artista. Ele identifica essa mistura de artes de forma bem clara.

Com um olhar crítico sobre o Jeca Tatu criado por Monteiro Lobato, inspiração para o personagem de Mazzaropi, Tiago explica que enquanto o primeiro retrata a figura como um homem preguiçoso e doente, visão bastante preconceituosa, o segundo mira na referência do palhaço caipira do circo-teatro. "Ele é mais bem-humorado, esperto, sofre durante um período, mas depois dá a volta por cima. É exatamente o palhaço circense". Esse sujeito, meio ingênuo, mas também engraçado e perspicaz, segundo o jornalista, gerava empatia no público, que o reconhecia. Afinal, ele representa bem uma parcela ampla da população brasileira do interior, que sofre, mas luta e consegue se reerguer. O personagem, que alavancava as bilheterias dos filmes, ainda hoje é referência na criação de vários outros semelhantes. 

Bom trânsito cultural

Essa relação com o circo e o cinema não acaba na concepção do Jeca. Segundo o pesquisador, como um grande artista popular e também circense, Mazzaropi conseguia transitar com facilidade entre as plataformas culturais. "O artista circense é múltiplo. Ele precisa trabalhar várias potencialidades para fazer seu negócio funcionar. Muitas vezes, a estrela do Globo da Morte também é o domador, o mágico e o administrador do circo. O Mazzaropi tinha muito desse tino comercial. Ele aprende, inicialmente, com grandes mestres, como Abílio Pereira de Almeida, mas depois de perceber como é o universo do cinema, vê que ele também pode fazer isso", relata Tiago, que cede toda a sua pesquisa, artigos e reflexões para o Museu Mazzaropi, na cidade de Taubaté, casa que faz um amplo trabalho de preservação do seu legado.

Praticamente todos os títulos foram financiados com a renda dos próprios filmes, o que, de acordo com Tiago, evidencia o quanto Mazzaropi conseguiu mostrar um caminho possível para o cinema brasileiro independente. Ele deixou 32 filmes, uma produtora, a P.A.M. Filmes (Produções Amácio Mazzaropi) e uma visão perspicaz sobre como atingir o público, navegando entre o humor e o melodrama para criar narrativas cativantes. "O segredo do meu sucesso foi falar a língua do meu povo", dizia o próprio Mazzaropi sobre seu trabalho.

Maratona Mazzaropi à vista

O canal Museu Mazzaropi no YouTube vai comemorar a data com o Festival Mazzaropi 2022, que será transmitido ao vivo pela plataforma. Serão atrações musicais e teatrais na live comandada por Verônica Ferreira, monitora do museu, e por um ator que interpretará o icônico personagem do Jeca. Quem acompanhar o evento poderá interagir com os outros participantes e enviar perguntas por meio de um chat em tempo real. Entre os conteúdos transmitidos estão três filmes clássicos de Mazzaropi: "Jeca Contra o Capeta", "O Puritano da Rua Augusta" e "Betão Ronca Ferro". O mesmo canal também conta com outras películas do artista disponíveis gratuitamente e em alta resolução. 

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