Lista conta com uma seleção que vai desde clássicos até preferências inusitadas
“O Amor Não Tira Férias”(2006), filme escolhido por Rafael Santin (Divulgação)
O Natal é uma época bastante importante para muitas pessoas e se reflete no cinema de diversas maneiras, dependendo da sensibilidade e da visão de mundo dos seus idealizadores. Os “filmes de Natal” podem ser alegres, românticos, familiares, melancólicos, engraçados, cheios de suspense e até com tom sobrenatural. Cineastas e cineclubistas de Campinas e região compartilharam suas preferências cinematográficas para esta época com o Correio Popular, sendo que vários tiveram dificuldade em escolher um só. Confira quais são os favoritos eleitos pelos especialistas na arte cinematográfica e aproveite para definir o que assistir neste dia 25 de dezembro.
“O Amor Não Tira Férias”(2006)
“Ambientado num cenário encantador das festividades de fim de ano, o filme nos envolve em um abraço acolhedor, numa jornada de autodescoberta e redenção. Quando assisti, ele me surpreendeu com sua simplicidade e habilidade única em capturar o espírito natalino, enquanto oferece uma história repleta de personagens cativantes. A história das duas desconhecidas que buscam se reencontrar com suas verd’adeiras essências não apenas proporciona um cenário natalino encantador, mas também aborda temas como o amor e a amizade. As situações engraçadas e emotivas vivenciadas por elas ressoam com o período do Natal e criaram uma conexão emocional profunda comigo.”
Rafael Santin, diretor de "O Ar Que a Gente Respira" e "Sophia"
“Um Natal Brilhante” (2006) escolhido por Helen Quintans (Divulgação)
“Um Natal Brilhante” (2006)
“Eu amo tanto o Natal que minha mãe brinca que sou filha de Papai de Noel. Na melhor data do ano, que é dia 25, faço uma maratona de filmes de Natal. Estes são meus top 3. O primeiro: ‘Um Natal Brilhante’, comédia de 2006 com Matthew Broderick e Danny De Vito, que conta a história de dois vizinhos rivais, loucos pelo Natal. Amo esse filme porque o personagem do Danny sonha em ter sua casa tão iluminada que seja vista do espaço e minha família brinca que sou como ele. O segundo é ‘Papai Noel às Avessas’, comédia de 2003 com Billy Bob Thornton que conta a história de um vigarista que se disfarça de Papai Noel para assaltar lojas do shopping. Ele acaba conhecendo um garotinho que desperta seu espírito natalino, mostrando que a magia do Natal é capaz de tocar até os corações mais brutos. E o terceiro: ‘Um Herói de Brinquedo’, filme de 1996 com Arnold Schwarzenegger no papel de um pai desesperado na véspera de Natal para encontrar um brinquedo que já está esgotado para seu filho. Esse filme me traz memórias afetivas muito boas de uma época em que eu trabalhava em videolocadora e o deixávamos rolando na TV nos dias que antecedem o Natal.”
Helen Quintans, diretora de "A Última Transmissão" e "A Lenda dos Cavaleiros da Água" (em produção)
“Contos de Natal” (1951) escolhido por Cláudia Bortolato (Divulgação)
“Contos de Natal” (1951)
Meu filme favorito de Natal poderia ser ‘O Expresso Polar’, de 2004, que tem um garotinho crescido e crescendo e, portanto, cheio de dúvidas sobre a magia do Natal. Ele pega uma carona de trem ao Polo Norte e, além de se descobrir, descobre onde fica a magia da fantasia. É uma animação digital com direção de Robert Zemeckis e com Tom Hanks. Porém, não é o favorito. Meu gênero preferido é o suspense e o filme britânico ‘Contos de Natal’, de 1951, faz uma adaptação do livro “A Christmas Carol” (1843), de Charles Dickens. É dirigido por Brian Desmond Hurst. O enredo é sobre um conto muito conhecido a respeito dos Espíritos dos Natais do passado, presente e futuro, mas tem nessa versão britânica, que é um thriller-fantasia expressionista com usos extraordinários de luz e sombra, efeitos visuais e sonoros realmente muito bons até para os dias atuais. Uma versão que não envelhece! O texto tem expressões (em inglês) do século XIX e confesso que sempre que assisto – particularmente nesta época do ano – ainda reviso uma ou outra parte da legenda, que inicialmente era literal, dessas que a gente encontra por aí, e hoje já respeita a construção e ambientação no conto de Dickens no seu tempo.”
Cláudia Bortolato, cineclubista do Museu da Imagem e do Som de Campinas
“De Olhos Bem Fechados”, de Stanley Kubrick (1999) escolhido por Cauê Nunes (Divulgação
“De Olhos Bem Fechados”, de Stanley Kubrick (1999)
“O meu favorito não é exatamente da temática do Natal, mas se passa nesse período. É o último filme do Kubrick. Ele tem uma cena em que o casal interpretado por Nicole Kidman e Tom Cruise está com a filha em uma loja de shopping escolhendo um presente para ela e conversam sobre a relação conjugal deles. É interessante porque a cena tem esse cenário que remete à futilidade do consumismo, a criança está ali escolhendo brinquedos, e tem muito ali no que está sendo dito, mas também muita coisa na troca de olhares, no silêncio, não necessariamente no que estão falando. É uma cena bem enigmática, até estranha. Mais na linha de Natal, ou pelo menos na temática de família, eu gosto muito de ‘O Garoto’, do Charles Chaplin. É a história de um pai e um filho que não se passa no Natal, mas tem essa coisa da cumplicidade da família e todo o aspecto emocionante que o diretor trazia.”
Cauê Nunes, professor da PUC-Campinas e cineasta, diretor de “A Orquestra das Diretas”
“Se Meu Apartamento Falasse” (1960) escolhido por Hamilton Rosa Jr. (Divulgação)
“Se Meu Apartamento Falasse” (1960)
“Meu filme de Natal preferido é este, do Billy Wilder. O filme não retrata o Natal como gostaríamos que fosse – com crianças alegres correndo em volta da árvore de Natal e a família se confraternizando –, mas o Natal como ele é na realidade. Às vezes, alegre, às vezes, solitário, querendo ostentar a beleza da comunhão em família, mas sempre com uma ponta de melancolia. As festas de fim de ano normalmente oferecem introspecção: esperamos um momento de gratidão, mas a vida em sua estranha crueldade prega tantas peças na gente... Todo mundo já passou um Natal triste e sabe bem o que é isso. É justamente sobre essa contradição que esse maravilhoso filme de 1960 se estrutura. O personagem central, feito por Jack Lemmon, aluga seu apartamento para o chefe encontrar a amante, acreditando que isso lhe trará uma promoção na empresa. Enquanto fica nos bares, esperando a chefia liberar o apartamento, ele pensa na moça que trabalha no elevador, vivida por Shirley Maclaine. O elevador, por sinal, serve de metáfora para o sobe e desce da vida capitalista ao qual esses dois seres humanos tão intensos, e cheios de ternura, estão presos. A data natalina no filme dá um alento a eles. Ambos possuem muitas coisas em comum e talvez o encontro deles seja a forma de remediar a solidão de ambos. Mas o diretor Billy Wilder não facilita o romance. O mundo é muito complicado e os anseios humanos mais ainda, e Wilder nos mostra que não temos controle sobre o que o cotidiano nos reserva. Acho que eu já vi esse filme umas 20 vezes. E toda vez, me pego torcendo para que, no final, os dois personagens fiquem juntos.”
Hamilton Rosa Jr., cineclubista no MIS e diretor dos filmes “Meninas” e “Atriz”
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