artes plásticas

Campineiros inspiram-se em pássaros para criar suas obras

Guilherme Cotegipe e Carolina Gobbi retratam a brasilidade e a beleza da natureza

Aline Guevara
29/07/2022 às 09:45.
Atualizado em 29/07/2022 às 09:45
À esquerda, o artista autodidata Guilherme Cotegipe em seu ateliê; à direita, pássaro em seu ninho modelado em biscuit pela artista plástica Carolina Gobbi (Gustavo Tílio)

À esquerda, o artista autodidata Guilherme Cotegipe em seu ateliê; à direita, pássaro em seu ninho modelado em biscuit pela artista plástica Carolina Gobbi (Gustavo Tílio)

Quando o poeta romântico Gonçalves Dias escreveu sua "Canção do Exílio", ele citava o canto dos pássaros para referenciar sua terra natal, lembrando de sua fauna única para expressar a saudade do Brasil. "Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá, as aves que aqui gorjeiam não gorjeiam como lá", declamava o escritor. E essa é apenas umas das representações das aves na arte brasileira.

Assim como Gonçalves Dias, o artista autodidata campineiro Guilherme Cotegipe, de 74 anos, também vê nos pássaros uma forma de olhar para o nosso país. Ele, que sempre foi apaixonado pelas manifestações culturais brasileiras, passou a vida retratando-as a partir do desenho e da pintura sobre a madeira de compensados. Apesar de ter nascido em Campinas, a vida o levou a conhecer quase o Brasil inteiro, do Rio Grande do Sul ao Maranhão - mas especialmente a Bahia, onde morou por seis anos. Foram essas vivências que o influenciaram.

"A arte e cultura brasileira, com suas manifestações através da dança e do canto, sempre foram marcantes no meu trabalho artístico. Retratei a festa do divino, a congada, boi-bumbá, frevo, capoeira, as escolas de samba, o Pelourinho de Salvador", lembra. Mas foi em 2020, durante um dos períodos mais críticos da pandemia, que ele visualizou como a fauna tupiniquim entraria de vez para suas peças.
Guilherme foi convidado para participar de uma exposição online na Noruega, para a qual desenvolveu uma peça que retrata um tucano. "Foi naquele momento que me ocorreu a ideia de trabalhar o tema 'Aves do Brasil'. Nele eu faço registro de uma série de pássaros presentes nos diversos biomas brasileiros, dando um sentido didático ao trabalho e que leve as pessoas a se conscientizarem da importância da preservação ambiental", explica.

O artista passou então a estudar o trabalho de fotógrafos que registram aves brasileiras em seu habitat natural para recriar essa diversidade em seu ateliê. Ainda dentro do tema, ele desenvolveu uma "tela" única: utiliza cascas de bambu que recolhe aos arredores da Mata Santa Genebra e, sobre ela, depois de devidamente tratada, trabalha com lápis e tintas para criar suas obras. 

Para ele, retratar a biodiversidade brasileira é também expor as riquezas do nosso país. Um dos sonhos de Guilherme, que está à procura de um espaço para fazer sua exposição, é criar o Instituto Brasileiro de Arte e Cultura Guilhermina Cotegipe, um espaço em homenagem à mãe, onde ele possa divulgar o que o Brasil produz culturalmente. 

Pulando das telas

Outra artista campineira tem nos pássaros uma de suas maiores inspirações. Carolina Gobbi, de 51 anos, sempre trouxe para as telas o que via no meio ambiente. "A natureza sempre me encantou. Eu vejo um pássaro e penso: como algo tão delicado e pequeno pode cantar e encantar? É fascinante".

Apaixonada por cores, formas, beleza e delicadeza, a artista, que é formada pela Unicamp em Artes Plásticas, buscou colocar cada uma dessas características no seu trabalho. Durante muitos anos trabalhou com papel e aquarelas, mas nos últimos meses ela sentiu uma vontade de tirar os seus passarinhos das telas, fazendo com que pudessem ser algo para tocar.

A sua série "Passarim" surgiu desse desejo. Foram-se os pincéis e entrou o biscuit para dar forma às aves, que, seguindo os preceitos da arte de Carolina, sempre são modelados em formatos delicados. O acabamento ainda tem as cores que tanto preza, mas a surpresa é o cenário em volta da ave: um ninho feito troncos, galhos, cascas de coqueiro, vagens e sementes. Tudo ela recolhe do chão das praças da cidade. 

"O propósito da minha arte é voltar o olhar das pessoas para a beleza que a natureza nos oferece. Isso ficou ainda mais forte durante a pandemia, porque a sociedade precisa se conectar, precisa de afeto e de um ninho. Daí veio minha ideia, pois o ninho é o abrigo do passarinho, mas também traz esse sentimento de aconchego que toca as pessoas", esclarece Carolina, que ainda reforça como gostaria que esse olhar carinhoso para a natureza trazido por suas obras também fosse acrescido de uma consciência para a necessidade de preservação da fauna e flora brasileiras. 

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