Nome da banda Francisco, El Hombre foi inspirado na obra Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez (Divulgação)
Com nove anos de existência e de estrada apresentando shows pelo Brasil e fora dele, a banda Francisco El Hombre se prepara para tocar em um palco ainda inédito: o Rock in Rio Lisboa, no dia 25 de junho. Para o violonista e vocalista da banda Mateo Piracés-Ugarte - mexicano de nascimento, mas naturalizado brasileiro em Campinas -, tocar em Portugal em um evento tão grande e diverso é uma oportunidade musical e artística. "Durante aqueles 40 minutos, nós temos uma janela aberta para o Brasil. É uma grande visibilidade, por isso a gente tenta levar para lá o que está acontecendo aqui hoje".
O quinteto formado por Mateo, seu irmão Sebastianismos, LAZÚLI, Andrei Kozyreff e Helena Papini, começou a banda em Barão Geraldo despretensiosamente, quando todos ainda estudavam na Unicamp. Afinal, cada um deles estava desenvolvendo um projeto diferente e as prioridades eram diversas. "A banda não era nem nosso projeto B, estava mais para D, E ou F. Mas não estávamos felizes fazendo nenhuma das outras coisas. Estávamos desiludidos. Eu e meu irmão nos reunimos com os nossos melhores amigos, tínhamos umas músicas que queríamos tocar e vimos esse nome, 'Francisco, El Hombre' no livro 'Cem Anos de Solidão', do Gabriel García Márquez", recorda o músico. Mas ele lembra também que a vontade do grupo de pegar um carro e sair viajando, em troca de ganhos pela música, definiu aquela que seria a primeira turnê da Francisco, El Hombre pela América do Sul.
Sobre a ida a Lisboa, o violonista conta que a banda está muito animada. "É a primeira vez que temos a chance de tocar em um palco grande e para um público maior na Europa. Ainda nesse evento, que mistura tribos e nichos, queremos alcançar o máximo de pessoas possível". O músico revela ainda um desejo pessoal: "estou muito animado para o show do Duran Duran também", brinca.
Rock irreverente, sul-americano e tropical
Foi na estrada que a banda encontrou a motivação para viver da música e a musicalidade característica de suas canções. "Ainda que nós cinco, como brasileiros e mexicanos, tenhamos essa referência latina no sangue, foram nas viagens que entendemos que era o que gostaríamos de tocar", explica Mateo. A Francisco, El Hombre, ao longo de quase uma década, foi incorporando a identidade dos membros aos seus discos, como a intenção de se inspirar nos ritmos sul-americanos. O resultado são as melodias dançantes, tropicais, somadas às letras poéticas e poderosas. "A gente também vem dessa escola punk de atitude que desenvolvemos em Campinas e no interior de São Paulo. Essa vontade de dizer o que pensa, criar o próprio caminho, levantar e discutir questões atuais da nossa sociedade. Nosso show é formado dessa mistura do dançante com o rock irreverente", define o músico. O terceiro e mais recente álbum, "Casa Francisco", foi lançado em outubro de 2021.
Para a Francisco, El Hombre, a música é um instrumento de comunicação, de mensagem. De acordo com Mateo, os integrantes usam seu trabalho para falar sobre as dificuldades sociais que existem no país e em outras regiões do continente sul-americano. "Escrevemos uma canção em 2016, já vendo que estava surgindo uma onda de fascismo. É papel do artista levantar discussões", afirma. Hoje, voltando aos shows presenciais, o violonista explica que a energia no palco e entre o público é quase catártica. "Cada apresentação tem sido vivida tão intensamente que estamos levando isso, essa energia do ao vivo, para as nossas próximas músicas. Já estamos tocando algumas delas nos novos shows".
"Triste, Louca ou Má": maior que a banda
Canção do álbum de estreia da banda, "Soltasbruxa" de 2016, "Triste, Louca ou Má" é a música mais ouvida do grupo. No Spotify, ela soma mais de 30 milhões de reproduções, mais 36 milhões de visualizações no clipe no YouTube. Em 2017, foi indicada ao Grammy Latino como melhor música em língua portuguesa. De acordo com Mateo, ela nunca parou de crescer, e seu alcance foi aumentando em paralelo com a história da banda. "Quando a Juliette começou a cantar a música no BBB21, deu mais uma empurrada, mas ela já tinha mais de 20 milhões de visualizações. É louco, mas a 'Triste, Louca ou Má' é maior do que a Francisco, El Hombre. E acho incrível que seja", reforça. A letra deste necessário hino feminista composta por LAZÚLI, segundo Mateo, fala por si: "Um homem não te define, sua casa não te define, sua carne não te define, você é seu próprio lar".