Os atores Esio Magalhães e Miguel Rosa encenando “Nau Frágil”: peça marca a reabertura do Barracão Teatro, um momento de resistência (Antonio Apolinário)
Depois de dois anos fechado por conta da pandemia, mais um espaço cultural campineiro retoma suas atividades. O Barracão Teatro, cujas apresentações presenciais foram pausadas em março de 2020, fará sua reabertura neste sábado, às 21h, com a peça "Nau Frágil", que também será encenada no domingo, 22, e no fim de semana seguinte (sábados sempre às 21h e domingos às 20h). Ela faz parte do Projeto Barracão 20V, que oferece espetáculos diferentes todos os meses e quem decide o custo do ingresso é o próprio espectador: ele escolhe quanto quer pagar e oferece ao final.
"A pandemia interrompeu um fluxo que teremos que recuperar. E é isso que estamos dispostos a fazer. Reabrir o Barracão Teatro, com todos os cuidados sanitários, é oferecer à cidade um território de acolhimento e recomeço", compartilha Tiche Vianna, diretora de "Nau Frágil". A dramaturga revela que ainda não sabe como será a retomada, uma vez que antes da pandemia o projeto crescia em alcance com uma diversidade de público, mas confessa que tem bastante esperança. "Estamos olhando com otimismo para um cenário de termos sobrevivido nesses últimos anos que foram tão desafiadores para o mundo", diz. De acordo com Tiche, os últimos meses serviram de inspiração para a criação da peça. "Era assim que nos sentíamos nesses dois anos: por onde seguir, com quem nossos espetáculos falarão e como falar com pessoas que sofreram e sofrem com o que está acontecendo? Imaginamos que o mundo como era, já não existia e que depois da pandemia, não voltaria a ser como antes".
A narrativa de "Nau Frágil" acompanha Robinson (Esio Magalhães), único sobrevivente de um naufrágio. Ele vive isolado em uma ilha remota por muitos anos até que se depara com outro sobrevivente de um naufrágio que, sem memória, adota o nome de Sexta-Feira (Miguel Rosa). A chegada do novato põe em xeque as certezas de Robinson, que acreditava poder controlar a ilha, mas ambos acabam descobrindo um mistério sobre o local. "Nosso objetivo é falar do que é atual propondo reflexões capazes de nos potencializar, sem sofrimentos. Para isso, misturamos o humor à poesia e criamos figuras que, mais do que personagens, não nos falam dos sentimentos, mas nos fazem sentir através dos acontecimentos com os quais se envolvem", descreve Tiche. Como a sinopse indica, o espetáculo começou, na mente da dramaturga, de questionamentos que a levaram para a história de "Robinson Crusoé", do escritor Daniel Defoe, mas o texto adapta principalmente "O Arquiteto e o Imperador da Assíria", peça tragicômica do espanhol Fernando Arrabal.
Entre as inspirações usadas por Tiche para chegar ao texto final estão as provocações dos artistas Salloma Salomão, Roberta Estrela Dalva e Solange Dias, e do filósofo Luiz Fuganti, que a partir da obra de Arrabal trabalharam com releituras, cenas, linguagens e aulas. A dramaturga, então, reuniu o material para criar ao lado dos dois únicos atores em cena, seu marido e seu filho, uma maneira instigante de recontar a história. A diretora espera que seu espetáculo se torne um estímulo para o público: "Porque somos sobreviventes, criamos o mundo e se o fizemos uma vez, podemos fazê-lo e refazê-lo quantas vezes acharmos necessário. São desafios os mistérios que nos circundam, mas coragem é algo que temos de sobra, só precisamos acreditar que é possível dar o primeiro passo".
Além da estreia de "Nau Frágil", outros espetáculos já estão confirmados e agendados para junho no Barracão Teatro: "WWW para Freedom" e "Birita procura-se". Para garantir o lugar, o público deve chegar com uma hora de antecedência da apresentação e o uso da máscara segue obrigatório durante a permanência no local.
PROGRAME-SE
Espetáculo "Nau Frágil"
Quando: dias 21, 22, 28 e 29/05, às 21h aos sábados e às 20h aos domingos
Onde: Barracão Teatro - Rua Eduardo Modesto, 128, Vila Santa Isabel, Barão Geraldo
Ingresso no chapéu (público coloca o valor que atribui à experiência cênica, ao final do espetáculo e pode ser pago com dinheiro, cartão ou pix)