Livros raros e especiais, objetos históricos e documentos que registram a memória e a cultura brasileira estão preservadas na Biblioteca de Obras Raras da Unicamp, disponíveis para consulta
Danielle Ferreira, coordenadora técnica da Biblioteca de Obras Raras Fausto Castilho, manipula livro de canto litúrgico medieval, que seria de 1.430: maior foco da unidade são coleções de livros e estudos sobre o Brasil (brasiliana) (Alessandro Torres)
"Nossa missão é preservar este acervo para o futuro, pois ele guarda a memória e a história de nossa constituição como País, vindo de pessoas que tiveram grande significado para nossa formação." Esta é a forma como a bibliotecária e coordenadora técnica Danielle Thiago Ferreira resume a importância da Biblioteca de Obras Raras Fausto Castilho, da Unicamp, mais conhecida como Bora. Em área de 3.500 m², o local preserva cerca de 140 mil itens, sendo 5 mil obras raras e 26 coleções especiais com obras que pertenceram a grandes intelectuais brasileiros, além de exemplares raríssimos e antigos, que exigem técnicas especiais de preservação. Todo esse acervo é público e pode ser consultado presencialmente (via agendamento) ou digitalmente.
Muitos dos livros do acervo têm dedicatórias especiais, como por exemplo as de Carlos Drummond e Mário de Andrade para Sérgio Buarque de Holanda. Uma das curiosidades - e esta pode ser visitada pelo Youtube - é a exposição virtual "Censurados — livros vetados pela ditadura militar". Os exemplares do acervo fizeram parte da lista de títulos censurados pela ditadura militar no Brasil (1964-1985) e exibem os carimbos da censura em suas páginas. Uma das raridades do acervo é um grande antifonário (livro de canto litúrgico medieval), todo manuscrito em páginas de couro de animal, formatado com cantoneiras de aço e de procedência italiana. Sua datação ainda está sendo definida em pesquisas feitas em conjunto pela USP e Unicamp, mas os pesquisadores acreditam que seja por volta de 1.430. O exemplar ainda não está disponível para visualização pública por estar em processo de tratamento para conservação.
O projeto de construção do prédio, que levou cerca de dez anos para ser concluído e recebeu investimentos da ordem de R$ 13 milhões, levou em consideração necessidades únicas para conservação do acervo. O arquiteto Cláudio Mafra projetou o prédio evitando a incidência do sol em algumas áreas e toda a construção utilizou somente materiais não inflamáveis. Os brises laterais (traduzido do francês como quebra-sol) auxiliam na regulação térmica do ambiente interno, já que a conservação adequada exige climatização diferenciada nas salas. Danielle conta que "todos os detalhes foram planejados com o objetivo de proteger as coleções dos danos que podem ser causados por umidade, pela luz, pelas oscilações de temperatura, pela ação de agentes biológicos entre vários outros".
MEMÓRIAS HISTÓRICAS
A primeira coleção adquirida pela Unicamp, em 1970, e que posteriormente iria compor o acervo da BORA foi a do jornalista, escritor e antropólogo Paulo Duarte (1899-1984). Em 1983, foi adquirido o acervo de Sérgio Buarque de Holanda (1902 - 1982), historiador, crítico literário e professor de História da Civilização Brasileira. Com a criação da Diretoria de Coleções Especiais e Obras Raras, o acervo foi crescendo e ficou por mais de 30 anos sediado na Biblioteca Central da universidade. Com a necessidade de cuidados especiais para preservação das obras, o prédio da Biblioteca de Obras Raras Fausto Castilho começou a ser construído em 2013, mas a inauguração só aconteceu em 2020.
O prédio, em área total de 3.500 m2, tem quatro pavimentos. No térreo é feita a triagem e recepção dos acervos, com preparo para conservação em laboratórios com maquinário para higienização e restauração de itens históricos, além de equipamentos para digitalização de obras. No primeiro andar, tem a coleção Fausto Castilho (filósofo e professor emérito da Universidade, falecido em 2015 e que dá nome à Biblioteca), o gabinete de estampas e espaço para exposições. O segundo andar é reservado para as coleções de Sérgio Buarque de Holanda, Antonio Candido e Aristides Candido de Mello e Souza. Também é onde ocorre o atendimento aos pesquisadores e a consultas de materiais. No terceiro andar, ficam as coleções especiais, objetos e móveis históricos, além da área administrativa e processamento técnico.
A Biblioteca de Obras Raras e Coleções Especiais da Unicamp fica na Rua Sérgio Buarque de Holanda, nº 441, na Cidade Universitária, e funciona de segunda a sexta-feira das 9h às 17h. O telefone é (19) 3521 6464 e o site, por onde são feitos agendamentos para visitas presenciais e consultas digitais, é: https://bora.unicamp.br/
EXPOSIÇÃO
Quem espera um bom momento para visitar a Bora talvez seja motivado pela exposição que foi inaugurada dia 15 de março e segue aberta para visitação gratuita até 29 de junho, no horário de funcionamento da biblioteca. "Rubens Borba de Moraes: um protagonista invisível" é o nome da mostra que reúne documentos, vídeos, reportagens, fotos e textos que ocupam a área de 130 m². Dividida em sete seções, a exposição mostra a trajetória do protagonista como bibliotecário, modernista, historiador, editor, diretor de biblioteca, revolucionário e intelectual.
Rubens Borba de Moraes foi um dos responsáveis pela profissionalização do bibliotecário e pela institucionalização da Biblioteconomia no Brasil. No entanto, explica Danielle Ferreira, "a exposição não se limita apenas ao campo biblioteconômico, pois seu caráter histórico-cultural abrange boa parte do século XX. É possível explorar os acontecimentos culturais, sociais e políticos que ocorreram no Brasil desde os anos 20 até os 60, desde a Semana de 22, passando pela inauguração da Biblioteca Mário de Andrade". Outros detalhes da exposição: no site exposicaorbm.org/
Siga o perfil do Correio Popular no Instagram.