RARAS E PRESERVADAS

Acervo de biblioteca da Unicamp reúne cerca de 5 mil obras raras

Livros raros e especiais, objetos históricos e documentos que registram a memória e a cultura brasileira estão preservadas na Biblioteca de Obras Raras da Unicamp, disponíveis para consulta

Cibele Vieira/ cadernoc@rac.com.br
05/04/2024 às 09:03.
Atualizado em 05/04/2024 às 12:23
Danielle Ferreira, coordenadora técnica da Biblioteca de Obras Raras Fausto Castilho, manipula livro de canto litúrgico medieval, que seria de 1.430: maior foco da unidade são coleções de livros e estudos sobre o Brasil (brasiliana) (Alessandro Torres)

Danielle Ferreira, coordenadora técnica da Biblioteca de Obras Raras Fausto Castilho, manipula livro de canto litúrgico medieval, que seria de 1.430: maior foco da unidade são coleções de livros e estudos sobre o Brasil (brasiliana) (Alessandro Torres)

"Nossa missão é preservar este acervo para o futuro, pois ele guarda a memória e a história de nossa constituição como País, vindo de pessoas que tiveram grande significado para nossa formação." Esta é a forma como a bibliotecária e coordenadora técnica Danielle Thiago Ferreira resume a importância da Biblioteca de Obras Raras Fausto Castilho, da Unicamp, mais conhecida como Bora. Em área de 3.500 m², o local preserva cerca de 140 mil itens, sendo 5 mil obras raras e 26 coleções especiais com obras que pertenceram a grandes intelectuais brasileiros, além de exemplares raríssimos e antigos, que exigem técnicas especiais de preservação. Todo esse acervo é público e pode ser consultado presencialmente (via agendamento) ou digitalmente. 

Muitos dos livros do acervo têm dedicatórias especiais, como por exemplo as de Carlos Drummond e Mário de Andrade para Sérgio Buarque de Holanda. Uma das curiosidades - e esta pode ser visitada pelo Youtube - é a exposição virtual "Censurados — livros vetados pela ditadura militar". Os exemplares do acervo fizeram parte da lista de títulos censurados pela ditadura militar no Brasil (1964-1985) e exibem os carimbos da censura em suas páginas. Uma das raridades do acervo é um grande antifonário (livro de canto litúrgico medieval), todo manuscrito em páginas de couro de animal, formatado com cantoneiras de aço e de procedência italiana. Sua datação ainda está sendo definida em pesquisas feitas em conjunto pela USP e Unicamp, mas os pesquisadores acreditam que seja por volta de 1.430. O exemplar ainda não está disponível para visualização pública por estar em processo de tratamento para conservação. 

O projeto de construção do prédio, que levou cerca de dez anos para ser concluído e recebeu investimentos da ordem de R$ 13 milhões, levou em consideração necessidades únicas para conservação do acervo. O arquiteto Cláudio Mafra projetou o prédio evitando a incidência do sol em algumas áreas e toda a construção utilizou somente materiais não inflamáveis. Os brises laterais (traduzido do francês como quebra-sol) auxiliam na regulação térmica do ambiente interno, já que a conservação adequada exige climatização diferenciada nas salas. Danielle conta que "todos os detalhes foram planejados com o objetivo de proteger as coleções dos danos que podem ser causados por umidade, pela luz, pelas oscilações de temperatura, pela ação de agentes biológicos entre vários outros". 

MEMÓRIAS HISTÓRICAS

A primeira coleção adquirida pela Unicamp, em 1970, e que posteriormente iria compor o acervo da BORA foi a do jornalista, escritor e antropólogo Paulo Duarte (1899-1984). Em 1983, foi adquirido o acervo de Sérgio Buarque de Holanda (1902 - 1982), historiador, crítico literário e professor de História da Civilização Brasileira. Com a criação da Diretoria de Coleções Especiais e Obras Raras, o acervo foi crescendo e ficou por mais de 30 anos sediado na Biblioteca Central da universidade. Com a necessidade de cuidados especiais para preservação das obras, o prédio da Biblioteca de Obras Raras Fausto Castilho começou a ser construído em 2013, mas a inauguração só aconteceu em 2020. 

O prédio, em área total de 3.500 m2, tem quatro pavimentos. No térreo é feita a triagem e recepção dos acervos, com preparo para conservação em laboratórios com maquinário para higienização e restauração de itens históricos, além de equipamentos para digitalização de obras. No primeiro andar, tem a coleção Fausto Castilho (filósofo e professor emérito da Universidade, falecido em 2015 e que dá nome à Biblioteca), o gabinete de estampas e espaço para exposições. O segundo andar é reservado para as coleções de Sérgio Buarque de Holanda, Antonio Candido e Aristides Candido de Mello e Souza. Também é onde ocorre o atendimento aos pesquisadores e a consultas de materiais. No terceiro andar, ficam as coleções especiais, objetos e móveis históricos, além da área administrativa e processamento técnico.

A Biblioteca de Obras Raras e Coleções Especiais da Unicamp fica na Rua Sérgio Buarque de Holanda, nº 441, na Cidade Universitária, e funciona de segunda a sexta-feira das 9h às 17h. O telefone é (19) 3521 6464 e o site, por onde são feitos agendamentos para visitas presenciais e consultas digitais, é: https://bora.unicamp.br/

EXPOSIÇÃO 

Quem espera um bom momento para visitar a Bora talvez seja motivado pela exposição que foi inaugurada dia 15 de março e segue aberta para visitação gratuita até 29 de junho, no horário de funcionamento da biblioteca. "Rubens Borba de Moraes: um protagonista invisível" é o nome da mostra que reúne documentos, vídeos, reportagens, fotos e textos que ocupam a área de 130 m². Dividida em sete seções, a exposição mostra a trajetória do protagonista como bibliotecário, modernista, historiador, editor, diretor de biblioteca, revolucionário e intelectual. 

Rubens Borba de Moraes foi um dos responsáveis pela profissionalização do bibliotecário e pela institucionalização da Biblioteconomia no Brasil. No entanto, explica Danielle Ferreira, "a exposição não se limita apenas ao campo biblioteconômico, pois seu caráter histórico-cultural abrange boa parte do século XX. É possível explorar os acontecimentos culturais, sociais e políticos que ocorreram no Brasil desde os anos 20 até os 60, desde a Semana de 22, passando pela inauguração da Biblioteca Mário de Andrade". Outros detalhes da exposição: no site exposicaorbm.org/

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