No alambrado do campo de futebol da entidade assistencial M.A.E. Maria Rosa, estão em exposição 13 fotos que retratam cenas das comunidades da Vila Esperança, Jardim Campineiro e São Marcos (Isabela Senatore)
Como você vê seu bairro? O que gostaria de mostrar dele? O que existe de estrutura e o que precisa melhorar? Essas perguntas, comuns em qualquer comunidade, vêm sendo respondidas pelo olhar minucioso e crítico dos moradores de três bairros afastados do Centro de Campinas, localizados na região do Aeroporto dos Amarais: Vila Esperança, Jardim Campineiro e São Marcos. É nessa região que a fotógrafa Isabela Senatore encontrou o espaço ideal para uma exposição fotográfica ao ar livre, no alambrado do campo de futebol da entidade assistencial M.A.E. Maria Rosa. "É uma mostra que convida todos a explorar as histórias contidas nas imagens, ressaltando a importância da colaboração e da singularidade de cada olhar", afirma.
"O click é meu, mas o olhar é dos moradores", explica Isabela, ao contar que as 13 fotos selecionadas para a exposição foram escolhidas entre as mais de 50 produzidas durante três caminhadas que ela fez pelos bairros com grupos de moradores (adultos, jovens e crianças). As imagens foram ampliadas no tamanho de 2m X 1,33m e impressas em lona plástica, para montar o painel ao ar livre que ocupa 26 metros de extensão do alambrado do campo. Esse é resultado do projeto fotográfico "Retratos do Nosso Bairro", que fica exposto no Jardim Campineiro até 12 de dezembro e, depois, segue sua itinerância circulando pelos outros bairros.
Ocupar espaços e criar oportunidades para o acesso à arte e à cultura são os objetivos do projeto, que permitiu às pessoas de diferentes idades se expressarem por meio da fotografia, mostrando ambientes, pessoas e detalhes que revelam a essência do bairro. A experiência de organização das comunidades dos bairros no entorno dos Amarais chamou a atenção da fotógrafa, que se surpreendeu com o desenvolvimento da população local. Para ela, isso se deve principalmente ao trabalho de cinco Organizações Não-Governamentais (ONGs) que atuam na região, algumas há cerca de 30 anos. É o caso da Associação Beneficente Direito de Ser, que tem missão socioeducativa e realizou o projeto fotográfico em parceria com a Fundação Feac.
Durante as oficinas participativas oferecidas pela fotógrafa, os moradores compartilharam suas percepções sobre o cotidiano e as interações que moldam a identidade local. Mas antes dos clicks fotográficos acontecerem, já havia muita história rolando.
"Quando cheguei, já existia um grupo de adolescentes, jovens e adultos que, há algum tempo, vinha estudando e mapeando os bairros também no aspecto cultural. Eles me conduziram aos locais onde estavam seus olhares. Como, por exemplo, a praça criada por um morador cuja filha foi vítima de feminicídio. Na entrada do Jardim São Marcos, ele construiu um lindo local de lazer. Essa praça fica próxima do córrego que divide os territórios, ali também tem uma horta comunitária e a passarela que conecta os bairros, entre outros pontos de conexão.
As imagens da exposição foram feitas por Isabela, mas os moradores participantes das caminhadas e oficinas também registraram cenas com seus celulares e máquinas fotográficas digitais emprestadas. Entretanto, a principal contribuição do grupo foi orientar o foco da fotógrafa. "As fotografias capturadas durante as caminhadas fotográficas revelam a beleza das paisagens, as cores e as texturas do ambiente, transformando cada imagem em uma narrativa poética", diz Isabela.
Este é o terceiro projeto social que usa a fotografia como instrumento comunitário que Isabela Senatore participa. No ano passado, ela foi uma das artistas que ajudou a transformar as ruas dos bairros Monte Cristo e Oziel em galerias a céu aberto. Antes, havia participado de uma ação semelhante em uma vila de pescadores no município de Santos, no litoral paulista.
"Precisamos pensar em levar nosso trabalho para outros espaços, sair das galerias e ocupar espaços onde a gente pode dar acesso a outros públicos, permitindo a qualquer pessoa dialogar e entender todo o processo de criação de um projeto de arte. Nesse caso, deixa de ser só fotografia, cria uma história", comenta Isabela.
A exposição ao ar livre tem sido vista por moradores dos bairros próximos, que se enxergam nas imagens, mas a ideia é fazer um intercâmbio sociocultural, atraindo pessoas de outras regiões.
PROGRAME-SE
Projeto fotográfico ‘Retratos do Nosso Bairro’
Quando: até 12 de dezembro, de segunda a sexta das 8h às 16h.
Onde: Campo de futebol da M.A.E. Maria Rosa, Rua Vicente Palombo, 34, Jardim Campineiro
Entrada: Gratuita
Informações: @abracoredeamarais; @isabelasenatore