Guardas Municipais vistoriam local usado como desmanche (Alenita Ramirez)
Em Campinas os ladrões de carros agem de forma organizada e discreta para suprir as necessidades de uma indústria que cresce cada vez mais e alimenta a criminalidade. Os desmanches ilegais de peças usadas são destinos certos de grande parte dos veículos que são levados das ruas da cidade.
Em janeiro deste ano, os casos de roubo e furto de veículos explodiram em comparação com o mesmo período do ano passado. Os roubos aumentaram 66% (de 306 para 508) e os furtos, 51,6% (de 335 para 508). Segundo a polícia, o índice de recuperação desses veículos chega a 40%. Porém, grande parte dos outros 60% desaparece. Eles são “depenados” e suas peças acabam comercializadas no mercado negro a preços muito inferiores aos do mercado legal.
No segundo semestre do ano passado uma operação da Polícia Civil em conjunto com a Prefeitura e outros órgãos públicos fechou 53 desmanches e lacrou outros 13 irregulares. No começo desta semana, a Guarda Municipal (GM) descobriu um desmanche de veículos em um barracão no Parque Industrial. Além de ter revestimento com isolamento acústico, a oficina de desmanche contava com um bloqueador de sinal de GPS que impedia a localização do carro. Porém, devido a uma forte ventania, a energia do bairro foi interrompida e o bloqueador dos bandidos foi desligado. O sinal de um veículo Crossfox, que havia sido roubado quatro dias antes, voltou a funcionar e deu sua localização.
No barracão havia também um sistema moderno de monitoramento com três câmeras de segurança, mas a vigilância não evitou que a quadrilha fosse presa. Quando os GMs chegaram, o veículo com o localizador já estava totalmente picotado. Além dele, um Siena aguardava na fila para ser depenado. Ao menos dez carros já tinham virado sucata e suas peças estavam separadas em sacos.
Organização industrial
De acordo com a polícia, a indústria do desmanche ilegal é muito organizada e estruturada. Cada bandido tem sua função. Os locais onde os veículos são partidos são sempre alugados e costumam ser pontos discretos, como barracões.
A maioria dos carros para este fim é furtada. Os ladrões são experientes e agem discretamente. Eles saem às ruas, em três ou quatro, já com uma lista de veículos que precisam recolher. Os carros populares são os alvos preferenciais, já que são a maioria em circulação pelas ruas e, por isso, têm as peças mais “encomendadas”.
“Diferente do ladrão que rouba o carro, que muitas vezes age por oportunidade, o furtado é discreto e inteligente. Ele entende do assunto, sabe desativar o alarme e em menos de 50 segundos abre o carro, sem levantar suspeita”, afirmou o porta-voz da Polícia Militar (PM), major Marci Resende da Silva.
Assim que pega o veículo, o ladrão costuma deixá-lo em um local tranquilo para “descansar” por até dois dias para saber se ele possui rastreador. O estacionamento do Aeroporto Internacional de Viracopos era um dos pontos prediletos para isso. Já as quadrilhas que possuem o bloqueador de sinal levam os carros até o receptador imediatamente.
Nas oficinas de desmanches os profissionais levam até 40 minutos para desmontar os veículos. Todas elas possuem material de isolamento acústico.
Segundo a polícia, nem todas as peças de veículos são comercializadas em desmanches ilegais da cidade ou da região. Muitas vezes elas seguem caminhos longos e atravessam o Estado em caminhões baús, o que dificulta ainda mais o trabalho da polícia para localizar essas peças.
Estados como Minas Gerais, Goiás e Distrito Federal são os principais destinos dessas mercadorias. “Não tenho dúvidas de que a maioria dos veículos subtraídos na cidade são desmanchados e sustentam o fornecimento de peças em diversas regiões, fora até mesmo do Estado. Campinas é uma metrópole e isso atrai o crime”, afirmou o secretário municipal de Segurança Pública, Luiz Augusto Baggio.