Dois estudos divulgados no último dia 12 de setembro, na 1ª Conferência Nacional de Mudanças Climáticas Globais (Conclima), trazem novidades e informações importantes sobre a questão climática no Brasil, particularmente no caso da Amazônia. A Conclima foi realizada pela Fapesp em parceria com a Rede Brasileira de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (Rede Clima) e o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas (INCT-MC), em São Paulo.Os dois estudos foram realizados por pesquisadores da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA), da Universidade de São Paulo (USP), na esfera de Projeto Temático ligado ao Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG).Um dos estudos mostrou que 16,98% das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) da Amazônia são derivados de exportações diretas da região. Outros 6,29% das emissões da região resultam das exportações do resto do país, considerando a existência de produtos vindos da região que são processados e exportados por outros estados brasileiros.Por outro lado, o consumo interno soma 46,13% das emissões de GEE da Amazônia, dos quais 30,01% pelo consumo no restante do País e 16,12% pelo consumo dentro da própria região. Estes números significam que mais da metade das emissões de GEE da Amazônia acontecem pelo consumo de bens produzidos na região, mas consumidos fora dela.Outro estudo revelou que entre 2002 e 2009 houve relevante expansão da área de produção agropecuária brasileira (cana-de-açúcar, soja e milho somando 95% da expansão líquida da área colhida no período e acréscimo de 26 milhões de cabeças de gado bovino), enquanto, concomitantemente, ocorreu uma redução de 79% do desmatamento na Amazônia.Tentando entender como se deu este processo, os pesquisadores usaram dados de satélite e outras fontes. A pesquisa mostrou que, no período de 2002 a 2009, foram desmatados 12,062 milhões de hectares da Amazônia, 10,015 milhões de hectares do Cerrado, 1,846 milhão de hectares da Caatinga, 447 mil hectares do Pantanal, 375 mil hectares da Mata Atlântica e 257 mil hectares do Pampa. A conclusão foi a de que, se houve redução no desmatamento amazônico, por outro lado, outros biomas sofreram importantes impactos da expansão da atividade agropecuária.Os dois estudos ratificam que a sociedade brasileira precisa olhar com muita atenção o que está acontecendo na Amazônia. Em primeiro lugar, que o consumo em São Paulo e outros estados (e também em outros países), de produtos originados da Amazônia, contribuem para a emissão de Gases de Efeito-Estufa originária da região. Enfim, se compramos um móvel, uma fruta ou outro produto processado com produto amazônico, também contribuímos para o desmatamento e a emissão de gases-estufa “amazônicos”. Ou seja, ainda é necessário um trabalho intenso de verificação dos impactos socioambientais ao longo das cadeias produtivas, para de fatos e falar em consumo consciente ou responsável.O outro ponto é que, se a Amazônia vem sendo menos desmatada (em função da ação dos povos da região, de ecologistas, e da opinião pública em geral e ação de órgãos públicos), por outro lado, outros biomas fundamentais estão sofrendo muito com a degradação. Em outras palavras, é preciso um olhar amplo, geral, para o território brasileiro e seu processo de desenvolvimento.A Amazônia é um tema complexo, apaixonante. Mas diz respeito a todos, não só aos moradores de lá, mas a todos brasileiros, a todos cidadãos do mundo. Desmatamento é igual a mais aquecimento global e destruição da biodiversidade. A vida toda em risco.