Durante o evento, foi utilizada uma antiga aeronave do modelo 737-200 para simular uma explosão durante o abastecimento do avião em solo, ocorrida em um pátio anexo ao terminal de cargas do aeroporto de Viracopos (Alessandro Torres)
A concessionária Aeroportos Brasil Viracopos, administradora do Aeroporto Internacional de Viracopos, realizou ontem o Exercício Simulado de Emergência em Aeródromo (Esea). Durante o evento, foi utilizada uma antiga aeronave do modelo 737-200 para simular uma explosão durante o abastecimento do avião em solo, ocorrida em um pátio anexo ao terminal de cargas do aeroporto. A simulação contou com 30 voluntários de uma escola de aviação, que interpretaram as vítimas resgatadas pela equipe do Corpo de Bombeiros de Viracopos e encaminhadas para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). A operação, realizada a cada quatro anos, tem como objetivo aprimorar as ações de resgate a passageiros acidentados dentro do aeroporto.
Após a detecção do acidente, a sirene de emergência foi acionada. Em apenas vinte segundos, três caminhões do modelo Rosenbauer Panther, pertencentes à equipe do Serviço de Salvamento e Combate a Incêndios em Aeródromos Civis (Sescinc), já estavam posicionados para o pronto combate às chamas. Simultaneamente, um grupo de cinco bombeiros se aproximava da aeronave com mangueiras para combater as chamas dos motores, procedimento indicado para conter o foco principal do incêndio. Para aumentar o realismo do exercício, os voluntários que representavam as vítimas estavam maquiados, simulando sangue, fraturas e cortes, e gritavam por socorro enquanto as equipes tentavam alcançá-los com segurança.
Wesley Correa, gerente de segurança do aeroporto, destacou que cerca de 12 milhões de pessoas passam anualmente pelo terminal de passageiros, e que o terminal de cargas é um dos mais importantes do país. Ele afirmou que exercícios como esse são fundamentais para manter níveis aceitáveis de segurança no aeródromo. "Foram seis meses de planejamento desse simulado, com o objetivo de treinar nossas equipes, avaliando a proficiência, os planos de ação, as instruções de trabalho e os planos de emergência", explicou. Correa reforçou que o exercício realizado é o mais completo e mobiliza muitos recursos disponíveis do aeroporto: "Contamos com os quatro caminhões Panther, que representam o estado da arte no combate a incêndios, 68 bombeiros, integrados às equipes do Samu, Defesa Civil, Polícia Militar, Setec e Polícia Federal, avaliando o desempenho de cada um". Ao final do treinamento, Correa avaliou positivamente o exercício: "Foi ótimo, tudo ocorreu de forma organizada e já identificamos os pontos que podemos melhorar para garantir mais segurança ao aeroporto".
Para a triagem das vítimas, as equipes aplicam o protocolo internacional START, que utiliza perguntas simples e objetivas para classificar as prioridades de atendimento, levando em consideração a capacidade de andar, avaliando a respiração, circulação e nível de consciência. Os acidentados são divididos em quatro cores: verde, para aqueles que apresentam ferimentos leves, amarelo, pacientes que podem aguardar até uma hora para receber tratamento; vermelho, para vítimas graves que podem sobreviver com tratamento rápido, e preto, com pessoas em situação de parada cardiorrespiratória.
A comissária de bordo, Taís Eduarda Becker, interpretou uma vítima que veio à óbito, ela comentou que ficou sensibilizada com a situação, "eu imagino como seria a reação dos familiares ao receber uma notícia como essa", complementando que esse tipo de treinamento prepara os profissionais da aviação para esse tipo de situação extrema, "a aviação é um dos meios de transporte mais seguros e nós estamos preparados para fazermos o que for possível para salvarmos as vidas dos passageiros".
Para Gustavo Trindade, supervisor geral do Samu, destacou que o fator entrosamento com as equipes de Viracopos é importante, com o trabalho de triagem adequado e do pronto atendimento, para a destinação correta aos hospitais da cidade e região. Questionado sobre o realismo apresentado na situação, Trindade respondeu que é essa a intenção, "pois o atendimento tem que ser protocolar, usando todos os mecanismos e materiais que temos para um atendimento real, assim as equipes treinam para que na prática façamos um ótimo atendimento". Ao todo foram 32 profissionais do Samu Campinas, contando com quatro ambulâncias da cidade e mais duas do próprio aeroporto.
O auditor Daniel Alves da Cunha, da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), explicou que sempre há um agente da Anac nos simulados realizados em aeródromos nacionais, com o intuito de verificar se todos os protocolos são seguidos e se a coordenação de todos os órgãos envolvidos é bem executada. Ele também explicou que todas as informações do relatório final do exercício simulado são obrigatoriamente repassadas à agência. "Nós exigimos dentro de um cronograma previamente estabelecido o repasse das informações, que serão analisadas no debriefing (reunião onde se reporta a execução de uma tarefa) e posteriormente repassadas a todos os aeródromos do Brasil".
Bruna Arruda de Souza, 23 anos, aluna prestes a se formar como comissária de bordo em dezembro, participou da simulação interpretando uma parente em busca de informações sobre um primo supostamente a bordo da aeronave acidentada. Ela relatou ter seguido as orientações dos funcionários do aeroporto até ser encaminhada a uma sala reservada aos familiares das vítimas. "É uma situação angustiante não saber o que está acontecendo. Por isso, é tranquilizador receber informações atualizadas, mesmo em uma situação tão delicada. Saber como proceder é fundamental", comentou Bruna, destacando que as famílias eram prontamente informadas conforme chegavam notícias sobre o combate ao incêndio.