FALTA DE RESPEITO

Vandalismo contra banheiros públicos afetam a população

Prefeitura de Campinas alega que não dá conta de manter os sanitários em condições de uso

Luis Eduardo de Sousa/ luis.reis@rac.com.br
24/04/2024 às 10:47.
Atualizado em 24/04/2024 às 10:47

Os banheiros públicos da Praça Ruy Barbosa foram reabertos no início de outubro; segundo a Prefeitura, atos recorrentes de vandalismo têm comprometido o funcionamento das instalações (Alessandro Torres)

Reabertos em outubro do ano passado após um longo período de fechamento, os banheiros públicos da Praça Ruy Barbosa, no Centro de Campinas, estão em condições insalubres, prejudicando os usuários que dependem dos serviços. Quebrados, sujos, danificados e com falta de produtos de higiene, os banheiros sofrem com a falta de manutenção e com atos recorrentes de vandalismo. Esses problemas evidenciam a dificuldade da cidade em manter os banheiros públicos do Centro em pleno funcionamento. No Terminal Mercado, a situação é ainda mais crítica: todas as torneiras foram arrancadas, forçando a Administração a interditar o espaço temporariamente.

No final de agosto do ano passado, o Ministério Público de São Paulo (MPSP) exigiu da Prefeitura a reabertura dos banheiros públicos, que permaneceram fechados por mais de três meses. Após vários atrasos, os banheiros da Praça Ruy Barbosa foram reabertos no início de outubro. No entanto, funcionários que trabalham no local relatam que os banheiros não receberam manutenção desde então. Em nota, a Prefeitura afirmou que os atos recorrentes de vandalismo comprometem o funcionamento dos equipamentos. A situação no Terminal Mercado é especialmente frequente, com depredações quase diárias que resultam em fechamentos parciais.

Na última semana, a equipe de reportagem do Correio Popular visitou os dois banheiros e encontrou condições precárias em ambos os locais. Nos banheiros da Praça Ruy Barbosa, que atendem comerciantes, lojistas, clientes e a população em situação de rua da região, funcionários relataram que a situação é insustentável.

No banheiro masculino, três dos seis boxes estavam interditados pelos próprios funcionários públicos. Um quarto box estava em funcionamento apenas porque os servidores improvisaram uma solução para consertar a descarga, que estava quebrada. Além disso, havia apenas um rolo de papel higiênico disponível, pendurado por um arame na porta de acesso. Na pia, o sabão era armazenado em uma garrafa pet com um furo na tampa.

Já no banheiro feminino, apenas dois dos seis sanitários estavam em funcionamento. Vasos sanitários quebrados, descargas arrancadas e portas que não fecham são alguns dos problemas apontados pelos trabalhadores locais.

"Esses banheiros só funcionam porque nós nos esforçamos diariamente para consertar o que podemos, mas estamos desanimados. Todo dia é um novo problema, e as solicitações enviadas aos responsáveis pela manutenção nunca são atendidas", disse uma funcionária, que preferiu não se identificar.

A funcionária levou a reportagem ao fraldário, que também enfrenta problemas. O boxe destinado a quem precisa usar o espaço com crianças está interditado devido ao vaso sanitário quebrado. Dessa forma, os pais que dependem do fraldário não conseguem usar o banheiro acompanhados pelos filhos pequenos.

"A estrutura desses banheiros permaneceu intacta apenas na primeira semana. Desde então, quase nunca aparecem aqui para realizar manutenção. Há uma torneira do bebedouro aguardando troca há mais de um mês, desde que fizemos a solicitação. Toda semana dizem que vão trocar, mas isso nunca acontece", relatou outro funcionário, que também preferiu não ser identificado.

Além disso, as lâmpadas dos postes que iluminam o espaço estão queimadas. Segundo os funcionários, o local fica escuro após as 18h. Os banheiros da Praça Ruy Barbosa funcionam diariamente das 7h às 21h. Durante o período noturno, quem precisa usar o sanitário tem que recorrer a dois banheiros químicos instalados do lado de fora. Os equipamentos, porém, são insalubres. Além de não receberem manutenção, eles carecem de higienização, com um forte odor de fezes e urina que pode ser sentido a metros de distância.

"Há vândalos que tentam roubar lâmpadas e subtrair torneiras, o que acaba nos prejudicando. Esses banheiros só permanecem em funcionamento graças ao esforço dos funcionários da limpeza, que estão de parabéns. Ninguém do poder público vem aqui para arrumar as coisas, apenas para cobrar deles", afirmou Fábio Júnior Bierrenbach, 38 anos, que vive na calçada ao lado do banheiro há um ano e meio.

"Depois que o banheiro fecha, ficamos sem opção, pois os banheiros químicos não são utilizáveis. As pessoas defecam e urinam no chão, em cima do vaso, usam drogas dentro deles, tornando o local impraticável para uso", complementou Bierrenbach, destacando que o sanitário do Terminal Mercado também não está disponível.

Sobre os banheiros da Praça Ruy Barbosa, a administração afirmou, em nota, que a manutenção diária é realizada pelos servidores. No entanto, os próprios funcionários reclamam da falta de apoio.

"Quando ocorre algum dano, providenciamos o reparo. No momento, devido a atos de vandalismo nos vasos sanitários, duas cabines femininas e uma masculina estão interditadas. Cada banheiro possui seis cabines, por isso, ainda há acesso ao local. Os reparos serão realizados. O vandalismo, como quebra de sanitários e de outras peças, é constante, o que prejudica o uso do equipamento, gratuito e disponível a todos", informou a prefeitura.

A Administração acrescentou que, no ano passado, a grande quantidade de itens destruídos levou ao fechamento da estrutura. "Para recuperar o equipamento, foram gastos cerca de R$ 80 mil. Na ocasião, foram danificados os vasos sanitários, a caixa d'água, as divisórias, os gabinetes e outras partes. Para manter os equipamentos públicos, como os banheiros, em funcionamento gratuito, é fundamental o respeito e a colaboração de todos os usuários", complementou a nota.

O banheiro do Terminal Mercado, uma das opções para a população que vive ou frequenta a área próxima ao Mercado Municipal, foi temporariamente fechado. Embora o terminal esteja em reformas, os sanitários continuavam abertos para atender à população local. Camelôs que trabalham no entorno relataram à reportagem que o banheiro havia sido fechado há pelo menos cinco dias, após todas as torneiras terem sido arrancadas. "Este banheiro é pior. Vive sem torneira, com vasos quebrados. Frequentemente é fechado para conserto, mas logo volta a ficar danificado", disse o proprietário de uma banca em frente à entrada do sanitário.

A Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec), que administra o terminal, informou que o fechamento se deveu a um problema pontual de abastecimento de água. A empresa afirmou ainda que os banheiros, assim como o restante do terminal, serão reformados. "Serão construídos banheiros acessíveis para pessoas com deficiência, além de banheiros feminino, masculino e espaço família, e os banheiros atuais serão reformados. Além disso, o Terminal BRT Mercado (ao lado do Mercadão) também possui banheiro público, que está aberto ao público", declarou a nota.

Além dos banheiros da Praça Ruy Barbosa e do Terminal Mercado, o banheiro do Terminal Central também atende à população e apresenta a melhor estrutura entre os três locais visitados.

Tanto nos banheiros femininos quanto nos masculinos, todos os vasos sanitários, descargas e torneiras estavam em perfeito estado. A limpeza do local também estava em dia e os itens de higiene eram adequados. Uma funcionária relatou à reportagem que, com frequência, itens de metal são subtraídos, mas a Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec) realiza a substituição sempre que é informada sobre a necessidade.

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