INCLUSÃO NO ENSINO SUPERIOR

Universidade Zumbi dos Palmares considera abrir unidade em Campinas

Assunto foi discutido ainda de maneira preliminar com o prefeito Dário Saadi; seria a primeira instalação fora da cidade de São Paulo

Edimarcio A. Monteiro/edimarcio.augusto@rac.com.br
11/05/2024 às 14:41.
Atualizado em 11/05/2024 às 15:45

Encontro também discutiu a ampliação das ações de política antirracista na área da educação municipal e a realização na cidade da Virada da Consciência Negra, evento cultural celebrado na capital no dia 20 de novembro (Rodrigo Zanotto)

A Universidade Zumbi dos Palmares (UZP), focada na inclusão de pessoas negras e de baixa renda no ensino superior, estuda abrir uma unidade em Campinas, a primeira fora da cidade de São Paulo. O assunto foi discutido ontem em reunião do prefeito Dário Saadi (Republicanos), com o reitor da instituição de ensino sem fins lucrativos, José Vicente, e o diretor Pedagógico, o desembargador Costa Wagner. O encontro também teve a participação do coordenador geral das áreas geográficas da Escola Superior de Advocacia (ESA) da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Seção São Paulo, Sérgio Vallim Filho, que apoia o projeto, e do advogado Fernando Quércia.

“É nosso desejo ter uma unidade em Campinas, (cidade) que tem uma participação intensa no movimento negro brasileiro e paulista”, disse o reitor. Ele também discutiu a ampliação das ações de política antirracista na área da educação municipal e a realização na cidade da Virada da Consciência Negra, evento cultural celebrado na capital em 20 de novembro. A data da Virada é em homenagem ao Dia da Consciência Negra, que este ano será feriado nacional pela primeira vez.

De acordo com José Vicente, a reunião fez parte de uma série de encontros que a UZP está realizando com prefeituras da região para discussão da ampliação dessas atividades. “A legislação já obriga os municípios a terem nas escolas programas de divulgação da cultura negra e antirracista, mas muitos ainda não têm ações nesse sentido”, afirmou. Ele explicou que a Universidade Zumbi dos Palmares está envolvendo o Ministério Público e o Tribunal de Contas do Estado (TCE-SP) na cobrança do cumprimento da lei federal nº 10.639/2003, que obriga o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana no país.
Dário Saadi ressaltou a importância da discussão e o envolvimento de outras áreas nessa questão. “A educação antirracista é o tema do ano letivo de 2024 em Campinas, e nós discutimos a ampliação envolvendo a cultura e o esporte para destacar a importância dessa política”, afirmou o prefeito. As atividades começaram em fevereiro com um evento voltado aos professores para início das reuniões pedagógicas. O intuito foi definir as atividades que envolvem os 64 mil alunos matriculados na educação infantil e fundamental.

FACULDADE

De acordo com o reitor da UZP, a abertura de uma unidade em Campinas está em fase inicial de avaliação e faz parte de um projeto de ampliação das atividades da instituição. Na segunda-feira (13), a universidade inaugurará, em São Paulo, o Colégio Técnico Dandara dos Palmares, iniciativa para que as pessoas possam ter uma qualificação profissional de ensino médio para se firmarem no mercado de trabalho e obterem estabilidade financeira antes da busca por uma graduação acadêmica.

A nova iniciativa, que terá 50% das vagas destinadas para mulheres, é uma parceria com o Serviço Social da Indústria (Sesi) e inicialmente oferecerá cursos de pizzaiolo, desenvolvedor digital e modelagem para corte e costura. Além dos cursos profissionalizantes, o colégio contará com um hub de incubação e aceleração de potencial dos alunos, além de impulsionamento financeiro em rede por meio de cooperativas de crédito, fomento e crowdfunding (instrumento de múltiplas fontes de financiamento, geralmente pessoas físicas interessadas na iniciativa).

José Vicente lembrou que emCampinas foi lançado o movimento Mais Negros nas Universidades, através de bolsas de estudo oferecidas por uma universidade particular. Ele evoluiu para a Universidade Zumbi dos Palmares, que em 2024 completa 20 anos. A instituição tem hoje em torno de 1,6 mil alunos em 11 cursos de bacharelado e licenciatura (Publicidade e Propaganda, Pedagogia, Direito e Administração), superior de tecnologia (Transporte Terrestre, Gestão de Segurança Privada, Segurança da Informação e Gestão dos Recursos Humanos) e pós-graduação (Africanidades e Cultura Afro-Brasileira e especializações em Direito Empresarial e Direito Público).

BARREIRAS

“É preciso trazer os advogados para essa questão da etnia racial”, analisou o coordenador da ESA, Sérgio Vallim Filho. Com 32 anos de vida acadêmica, ele faz parte do grupo de trabalho de atualização e expansão do curso de Direito da UZP. Para Vallim Filho, que já foi presidente da Subsecção Campinas da OAB, muitas conquistas ocorreram nas últimas décadas, como o aumento no número de advogados e advogadas negros, mas ainda há muito o que avançar.

A Universidade Zumbi dos Palmares nasceu com a responsabilidade de contribuir para concretizar ações que pretendem eliminar as desigualdades raciais ainda presentes na sociedade brasileira. A instituição aponta, com sua missão, atuar no ensino superior para desenvolver os aspectos educacionais, culturais, sociais, econômicos e políticos da sociedade afrodescendente em todo o país, contribuindo para melhorar a qualidade de vida da população negra e de baixa renda. 

O país atingiu no ano passado a maior proporção de universitários pretos e pardos em relação aos brancos. A relação foi de 51,7% de brancos e 48,3% de pretos e pardos no ensino superior público e privado, acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Educação, elaborado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Em 2016, quando começou a análise, a proporção era, respectivamente, de 54,1% e 45,9%. No entanto, a relação atual ainda não reflete o perfil da sociedade brasileira, que tem uma participação de 56,1% de pretos e pardos.

O Brasil tinha 3,6 milhões de universitários pretos e pardos em 2016 e passou para 4,1 milhões em 2022. Já o número total de alunos no ensino superior foi de 8,2 milhões para 8,7 milhões nesse mesmo período. Porém, o PNAD revelou uma tendência de afastamento dos alunos negros do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o que refletirá no aumento da diferença no futuro e na queda do número de estudantes pardos e indígenas. De acordo com a pesquisa, na edição de 2020, foram aproximadamente 2,7 milhões de estudantes pardos, enquanto em 2023 o total caiu para 1,3 milhão (redução de 51,7%). A queda também ficou acima de 50% entre pretos (53,1%) e indígenas (54,8%). Houve também redução no número dos participantes brancos, mas menor, de 35,8%.

Já a PNAD Contínua divulgada em março passado revelou que os negros brasileiros têm menos anos de estudo, maiores taxas de analfabetismo e menor acesso ao ensino superior. Entre os dados que mostram as diferenças raciais destaca- se a média de anos de estudo. Enquanto os brancos tinham, em média, 10,8 anos em 2023, os negros tinham 9,2 anos, ou seja, 1,6 ano a menos. Houve uma pequena queda nessa diferença desde 2016, quando era de 2 anos.

A parcela de negros de 15 a 17 anos que estudavam ou já tinham concluído o ensino médio, ciclo adequado para essa faixa etária, era de 71,5%, bem abaixo dos 80,5% atingidos pela população branca. “O abandono escolar começa a ficar muito mais forte a partir dos 15 anos, que é quando esse adolescente muitas vezes para de estudar, muito em função do trabalho”, afirmou a pesquisadora do IBGE Adriana Beringuy. Apenas 48,3% dos negros com mais de 25 anos haviam concluído o ensino médio no ano passado. Entre os brancos, o percentual era de 61,8%. Segundo o IBGE, 70,6% dos negros com 18 a 24 anos deixaram os estudos sem concluir o ensino superior. Para os brancos, a taxa foi menor, 57%.

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