A Unicamp criou uma comissão para investigar 139 alunos que supostamente teriam fraudado o ingresso na universidade através das cotas raciais. Eles teriam se autodeclarado negros, mesmo sem fazer parte da etnia. A denúncia foi feita pela ONG Educafro, que apresentou um dossiê com o curso, nome completo e perfil das redes sociais destes alunos. Se as fraudes se confirmarem, os estudantes perderão as vagas. A denúncia foi feita no final de abril. Uma comissão foi aberta em maio e tem 90 dias para apresentar respostas. O levantamento das possíveis fraudes foi feito a partir de denúncias de professores, alunos, funcionários, e principalmente, de rede social, segundo frei David Raimundo Santos, presidente da Educafro. A denúncia seria entregue ao Ministério Público (MP), mas por conta da abertura por parte de Marcelo Knobel, reitor da Unicamp, a iniciativa foi suspensa. “Demos um voto de confiança à Universidade. Entregamos a denúncia na mão do reitor, e ele se comprometeu a abrir uma comissão”, explica o frei. Ele elogiou a atitude do reitor e disse ter confiança na apuração em andamento pela universidade. O dossiê apresentado pela ONG aponta possível fraude em diversos cursos, inclusive medicina e engenharias, que estão entre os mais concorridos. As supostas fraudes atingiriam a graduação, mestrado e doutorado. O frei defende que os vestibulares e os concursos públicos tenham uma comissão de heteroidentificação. Com ela, os candidatos continuam fazendo a autodeclaração, no entanto, ela precisa ser validada por essa comissão. Neri de Barros, diretora executiva de Direitos Humanos da Unicamp, confirma que recebeu a denúncia e abriu uma comissão para investigar o caso, e salienta que até o momento não foi verificada nenhuma fraude no sistema de cotas, mas que acolheu a denúncia, como de costume. “Os integrantes da comissão representam as três categorias da universidade — pessoal técnico-administrativo, estudantes e docentes — e foram escolhidos tendo em vista critérios diversos: representatividade junto à comunidade negra, saber técnico a respeito dos processos de geração e reprodução das desigualdades no Brasil e saber técnico a respeito da dinâmica do ingresso na Unicamp”, informa Neri. Segundo o frei, o erro da Unicamp é que demorou em fazer uma banca para os que entram no curso, antes da matrícula. "Esse é o meio mais eficiente, menos danoso e dramático", afirma. A Unicamp respondeu que quando criou o sistema de cotas, foi decidido que teria uma instância encarregada de apoiar esse sistema. Essa instância também estaria encarregada de desenvolver mecanismos de combate a fraudes. "Essa instância já existe. Ela não está operante ainda devido a questões internas de encaminhamento. Por isso, quando recebemos a primeira denúncia, foi criada pelo reitor uma comissão ad hoc (para isso). É preciso que se diga que a averiguação dessa primeira denúncia já foi concluída e que, nesse caso, a comissão concluiu que não houve fraude", ressalta. Aplicativo A ONG Educafro está desenvolvendo um aplicativo que poderá ser utilizado por candidatos nos vestibulares que estiverem com dúvidas quando a sua etnia. “Parte das pessoas que estão fraudando o sistema cotas, não está fazendo por maldade. Está com dúvida”, alega frei. De acordo com ele, o aplicativo vai auxiliar essas pessoas que estão em dúvida se pertencem ou não a determinado grupo étnico. “Ele vai dando elementos para discernir se ela é ou não negra, branca, ou indígena, por exemplo”, explica. De acordo com ele, o reitor ficou interessado em verificar o aplicativo quando ele estiver pronto. “A universidade pública se diferencia pela atenção que dá à sociedade. Qualquer ajuda para que nossas políticas sejam bem sucedidas, é bem vinda e será avaliada tendo em vista a verificação de sua adequação à consecução de nossos fins”, confirma a Unicamp.