NA REGIÃO DO CAMPO GRANDE

Uma ‘outra Campinas’ cresce ao longo da Av. J.B. Dunlop

Conheça a história dos 15 quilômetros da via expressa mais extensa da cidade

Edimarcio A. Monteiro/ edimarcio.augusto@rac.com.br
09/02/2023 às 08:48.
Atualizado em 09/02/2023 às 08:48
JBD tem circulação mensal de 482 mil veículos e os bairros do entorno recebem novos empreendimentos imobiliários desde 2018 (Rodrigo Zanotto)

JBD tem circulação mensal de 482 mil veículos e os bairros do entorno recebem novos empreendimentos imobiliários desde 2018 (Rodrigo Zanotto)

A Avenida John Boyd Dunlop, a maior via de Campinas, acompanha as mudanças no distrito do Campo Grande, um dos atuais eixos de desenvolvimento da cidade. Com 15 quilômetros de extensão, começa na Vila Teixeira e vai até o novo Terminal Campo Grande, no Jardim Sul América, cortando aproximadamente 90 bairros da região Oeste. “Quando me mudei para cá, havia duas casas no bairro, a minha foi a terceira. As ruas eram de terra e era puro barro quando chovia”, lembra o comerciante Augusto Dantas de Lima, que há 43 anos mora no Parque Valença, bairro no final da avenida. Os bairros foram se formando em uma área antes ocupada por antigas olarias, pastagens e agricultura.

Ex-cozinheiro de restaurantes tradicionais do Centro, em 1979, ele trabalhava como vendedor ambulante comercializando salgadinhos, o que rendeu dinheiro para comprar o terreno onde construiu a casa nos fundos e montou um bar na frente, que está funcionando até hoje. De trás do balcão, ele atende os fregueses que entram e fica de prosa com os amigos que fez ao longo de mais de quatro décadas no bairro. “Eu conheço neto e bisnetos de pessoas que vi criança brincando na rua”, orgulha-se ele. 

Diante de seus olhos, ao longo de pouco mais de quatro décadas, os bairros ao longo da John Boyd Dunlop, alguns nascidos de loteamentos e outros de invasões, foram se multiplicando, as ruas ganharam asfalto, a avenida foi duplicada e a população aumentou. Hoje, o número de habitantes dos bairros cortados pela via é estimado em 200 mil pessoas, um sexto da população de Campinas.

Para se ter uma projeção do que representa e da transformação ocorrida na região, em 1980, quando Lima inaugurou o bar, Campinas tinha 375.864 habitantes, segundo os números do Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ou seja, uma “nova cidade” surgiu às margens da John Boyd Dunlop. A expansão é evidenciada pelos equipamentos que instalaram na avenida. São faculdades, dois shopping centers, a 2ª Delegacia Seccional de Campinas, supermercados, um hospital e um comércio diversificado.

Expansão segue adiante “Aqui tem de tudo, lotérica, banco, lojas. Aqui mudou bastante. Isso tudo era mato e esses bairros não existiam”, compara o frentista Almir Storer, que há 30 anos mora na região. Há uma década, arrumou emprego em um posto de combustíveis no Jardim Sul América, o que faz com que não precise ir para outras regiões de Campinas para nada. Ali, ele se casou, criou os dois filhos e fincou raízes. 

Até mesmo quem cresceu nas redondezas e saiu não fica distante. “Eu cresci correndo por aqui”, diz o microempresário Alexsandro de Paula, que hoje mora no Jardim Chapadão. Aos 41 anos, ele investe na montagem de uma chácara para eventos no Jardim Lisa, o que o faz continuamente ir a região, como ocorreu na quarta-feira (8) no final da manhã. Essa é uma região que segue em franco desenvolvimento. Ao longo da via, há outdoors de novos loteamentos, da construção do primeiro edifício residencial do Campo Grande e empreendimentos, como atacadista e supermercado.

Trânsito Para o mecânico Edson Correia, que há 9 anos se mudou para o Jardim Cosmo, onde montou a própria oficina, a região atende a todas as necessidades da família. Para ele, o único ponto negativo é o trânsito na John Boyd Dunlop, principalmente no período da manhã. “Ela fica intransitável. É difícil”, afirma. A avenida recebe a circulação de 482 mil veículos por mês e é a mais perigosa de Campinas, com 374 acidentes em 2021, com 12 mortes, revelam as estatísticas da Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec). 

Para reverter esse quadro, ela instalou radares na via, placas alertando sobre o número de vítimas fatais para chamar a atenção dos motoristas e limitou a velocidade máxima a 50 km/h. Quanto aos congestionamentos, a Emdec encerrou na segunda-feira, dia 6, o período de testes de faixas reversíveis na avenida, na altura da Rodovia dos Bandeirantes. Para mensurar os resultados, técnicos percorreram a via.

No dia 27 de janeiro, no pico da manhã, a viatura da Emdec levou 28 minutos para percorrer os 2,9 km entre a Rua Nivaldo Alves Bonilha, no Jardim Satélites Íris, e o campus II da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC). Esse tempo foi reduzido para 2 minutos e 37 segundos com o uso da faixa reversível. A implantação em definitivo da mudança será avaliada em uma reunião marcada para o próximo dia 27.

John Boyd ‘desconhecida’ 

Por ironia, o nome da avenida é uma homenagem ao “pai” do pneu com câmara de ar, criado pelo escocês John Boyd Dunlop em 1888. Ele transformou a invenção em um novo produto, que deu origem a uma multinacional que leva seu sobrenome. Hoje,ela atua em mais de 100 países, incluindo Estados Unidos, Japão, Indonésia, Tailândia, China, Turquia, países da Europa e Brasil. 

Algo que chama a atenção na avenida é que existe uma John Boyd “desconhecida”. Poucos mais de 2 quilômetros de onde a via termina, há uma estrada municipal com o mesmo nome. A avenida é ligada a ela pela Rua Luiz Raphael Lot. A estrada de terra tem cerca de 6 quilômetros de extensão e corta a zona rural. Ali não chegam os Correios, veículos de entrega e as crianças têm de andar em torno de 1,5 quilômetro para pegar o ônibus escolar. “Aqui tudo é muito complicado”, resume a dona de casa Tamires Rodrigues Alves da Silva, que dá o endereço de conhecidos de bairros próximos para receber correspondência e encomendas. 

Apesar dos percalços, ela e o marido enxergam no bairro Chácara Recreio Leblon, onde moram, potencial para melhorar de vida e estão investindo em um pequeno comércio para atender os moradores das proximidades. Isso evitaria que tivessem de ir até o Parque Valença II, bairro mais próximo, para comprar itens básicos para o dia a dia. 

A estrada municipal tem muitos buracos, obstáculos e passar de carro exige dirigir devagar e com cuidado. O período de chuva torna a aventura ainda mais delicada, quando as poças de água podem esconder perigos. A John Boyd Dunlop de terra termina onde acaba Campinas. Quando começa o asfalto, já é a Avenida dos Inajás, no Boa Vista. “Aqui já é Hortolândia”, explica Maria Inês Gonçalves, que mora no limite entre as duas cidades.

PERFIL DA AVENIDA JOHN BOYD DUNLOP 

Extensão: 15 quilômetros, começa na Vila Teixeira e termina no Jardim Sul América, no distrito do Campo Grande

Área cortada: aproximadamente 90 bairros, onde residem 200 mil pessoas, há dois shopping centers, comércio e o Hospital e Maternidade Celso Pierro, da PUC-Campinas

Trânsito: Circulação de 482 mil veículos por mês

Crescimento da região: É um dos corredores de desenvolvimento de Campinas, com os bairros em torno recebendo novos empreendimentos imobiliários desde 2018

Número de acidentes de trânsito em 2021: 374

Número de acidentes fatais em 2021: 11, com 12 mortos As vítimas fatais: 5 motociclistas, 3 passageiros de motocicletas, 2 condutores de automóveis, 1 passageiro de ônibus e 1 pedestre

Sexo das vítimas: 8 homens e 4 mulheres, com idade entre 18 e 35 anos

Número de atropelamentos em 2021: 16

Dias da semana com maior número de acidentes: terça, quarta e domingo

Horários mais perigosos: 7 às 9 horas e 13 às 15 horas

Fonte: Emdec

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