CIÊNCIA NACIONAL

Um dos primeiros computadores brasileiros nascia há 50 anos

O Patinho Feio foi construído em 1972 pela USP, num disputa com a Unicamp

Thiago Rovêdo / thiago.rovedo@rac.com.br
23/07/2022 às 19:34.
Atualizado em 24/07/2022 às 10:04
Patinho Feio, da USP, era considerado até pouco tempo o 1° computador brasileiro; na verdade, foi o do ITA (Poli/USP)

Patinho Feio, da USP, era considerado até pouco tempo o 1° computador brasileiro; na verdade, foi o do ITA (Poli/USP)

 Há exatos 50 anos, no dia 24 de julho de 1972, um dos primeiros computadores projetados e construídos no Brasil foi colocado em funcionamento na Escola Politécnica (Poli) da Universidade de São Paulo (USP). Campinas também teve participação no desenvolvimento do projeto, já que a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) disputava o mesmo edital da Marinha que os concorrentes da capital. Pequeno e com apenas 8 bits, ele se tornou essencial no desenvolvimento da indústria de tecnologia no Brasil.

No começo dos anos 70, a Marinha, que desejava equipar sua nova frota com computadores nacionais, lançou um edital. A Unicamp montou uma equipe para encarar o desafio e chamou seu projeto de Cisne Branco, em alusão ao hino da Marinha. Já a turma da USP reagiu, nomeando o seu de Patinho Feio — e acabou ganhando o contrato. Como o sistema de armas era controlado por computador, dominar a nova tecnologia era prioridade de segurança nacional. Até então, os equipamentos existentes eram importados.

"Naquela época, o governo estava muito interessado em fazer uma indústria nacional de computadores para colocar nas fragatas da Marinha. Vários estudantes ficaram interessados no projeto. Houve uma entrevista para um jornal com o pessoal da Unicamp. Lá descobrimos que ele se chamaria Cisne Branco, que é o nome do hino da marinha. A gente, na USP, decidiu ser mais modesto e decidimos chamar o nosso de Patinho Feio. Foi desse jeito que surgiu o nome", contou Edith Ranzini, professora sênior da Poli. Ela integrou a equipe responsável pela criação do Patinho Feio.

Para que se possa fazer uma comparação com os computadores atuais, qualquer máquina pessoal atual tem uma capacidade média que varia de 64 a 128 bits. 

O grupo da Escola Politécnica da USP responsável pelo projeto Patinho Feio investiu três anos em estudos e pesquisas e ganhou a assinatura do contrato de milhões de dólares firmado entre a Escola Politécnica e a Marinha.

"Ele tinha poucos recursos, mas conseguia rodar alguns programas. O objetivo, na verdade, foi a gente aprender a fazer um computador. Tivemos que fazer tudo, como circuito impresso, algumas placas e, depois, a caixa. Fomos nós que fizemos. Foi um trabalho artesanal", disse a professora. 

O projeto do Patinho Feio foi possível porque a USP comprou um computador da IBM que foi disponibilizado para ser desmontado e remontado de forma que os professores e estudantes pudessem entender melhor como ele funcionava. O processo chama-se engenharia reversa. "Conseguimos fazer uma coisa que funcionasse e, na inauguração, até a igreja mandou representantes. Era um grupo jovem, mas determinado em fazer e ninguém ia impedir", lembrou.

Mais tarde, em 1974, esse projeto serviu de base para a criação da empresa Computadores Brasileiros (Cobra) — a primeira empresa totalmente nacional e estatal a produzir computadores. "O Patinho Feio foi a base de estudos para a criação de toda uma geração de engenheiros capacitados a iniciar a indústria de computadores no Brasil", finalizou a professora.

Inovação

Depois desses 50 anos, Campinas continua se destacando no cenário nacional. A cidade é palco de diversos laboratórios de pesquisa avançada, como o Sírius, Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) e o Centro de Tecnologia da Informação (CTI) Renato Archer — este último desenvolveu a tecnologia da impressora 3D que hoje é utilizada pela Medicina. 

A unidade conta com uma Divisão de Tecnologias Tridimensionais (DT3D). O setor virou referência e passou a ser consultado por hospitais em tudo o que diz respeito à aplicação das tecnologias tridimensionais a desafiadores casos médicos - em sua maioria, cirurgias cranianas, de face e ortopédicas. 
"O avanço da tecnologia é de escala astronômica. Foi muito rápido que aconteceu. Eu já passei por três ou quatro evoluções de computadores. E considero a tecnologia da impressora 3D evoluída demais. Um exemplo é imaginar que você pode montar, por exemplo, uma base humana na Lua e caso algum equipamento seja danificado, você possa produzir outro na hora sem precisar voltar à Terra. Isso já é possível apenas 50 anos depois do primeiro computador", contou Pedro Noritomi, chefe da Divisão de Tecnologias para Produção e Saúde do CTI.

O primeiro

Hoje considerado o primeiro computador brasileiro, o Zezinho, construído por alunos do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), de São José dos Campos, passou muito tempo desconhecido por pura falta de divulgação na época — ele foi finalizado e colocado em funcionamento em 1961. A máquina foi construída com finalidade didática, não havendo interesse, na época, de iniciar uma indústria nacional de computação.

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