TRAGÉDIA

Tempestade deixa um morto e uma mulher desaparecida em Campinas

Corpo de Jair Samuel da Silva Oliveira Marques, 22 anos, foi identificado ontem após o temporal de quinta; Sara Gabrielly, 18 anos, desapareceu na região do Piçarrão e ainda não foi encontrada

Edimarcio A. Monteiro/edimarcio.augusto@rac.com.br
26/10/2024 às 06:11.
Atualizado em 26/10/2024 às 06:11
Força-tarefa continua realizando buscas às margens do Córrego Piçarrão para tentar encontrar a jovem Sara Gabrielly, arrastada pela enxurrada na noite de quinta-feira; a gerente de loja foi levada pela água na Rua Sylvio Moro, que se transformou em um rio com a força da correnteza, ao sair do carro que dirigia (Alessandro Torres)

Força-tarefa continua realizando buscas às margens do Córrego Piçarrão para tentar encontrar a jovem Sara Gabrielly, arrastada pela enxurrada na noite de quinta-feira; a gerente de loja foi levada pela água na Rua Sylvio Moro, que se transformou em um rio com a força da correnteza, ao sair do carro que dirigia (Alessandro Torres)

Uma pessoa morreu e outra está desaparecida após a tempestade que castigou Campinas na noite de quinta-feira (24). A vítima fatal foi Jair Samuel da Silva Oliveira Marques, 22 anos, levado pelas águas pluviais enquanto estava no interior de uma galeria na Vila Formosa. De acordo com um parente, ele estaria traficando drogas no momento. O corpo de Jair foi encontrado ontem à tarde. A gerente de loja Sara Gabrielly de Souza Silva, de 18 anos, continua desaparecida após ser arrastada pela forte correnteza na Rua Sylvio Moro, na Vila Industrial, região que registrou 120 milímetros de chuva em três horas, de acordo com a Defesa Civil de Campinas, mais do que média histórica de outubro na cidade.

Segundo o Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a média de chuva para o mês de outubro no período de 1990 a 2023 é de 115,8 mm. “Foi uma chuva muito forte, localizada. Não tivemos grandes estragos em outros pontos da cidade”, afirmou ontem o diretor da Defesa Civil de Campinas e coordenador regional, Sidnei Furtado, enquanto acompanhava as operações de busca no Córrego Piçarrão, onde desapareceu Sara Gabrielly. 

Jair Marques estava em uma galeria na Rua Ademar Pereira de Barros, na Vila Formosa. O tio da vítima, Célio Silva, afirmou que o rapaz “mexia com entorpecentes”. As águas pluviais da galeria deságuam no Córrego Samambaia, onde foram feitas as buscas. O corpo foi localizado a cerca de 1,5 quilômetro de distância, na Rua Iberê Gomes Grosso, altura do número 620, no Jardim Estoril. O corpo foi reconhecido por parentes ontem à tarde. O diretor da Defesa Civil revelou que encaminhou à Secretária Municipal de Serviços Públicos um pedido para vistoria nessa galeria. “A finalidade dela foi alterada. Não sabemos o motivo, mas ela não estava captando água devidamente, como o necessário”, explicou. 

BUSCAS 

Sara Gabrielly desapareceu na Rua Sylvio Moro, às margens do Piçarrão. O local se transformou em um rio com a força da correnteza. A gerente de loja foi arrastada pela enxurrada ao sair do carro que dirigia. Sara estava voltando para casa. “Ela sempre passava por ali, mas não tinha noção do perigo”, disse ontem Edicleia Souza, tia da vítima. “A Sara chegou a ligar para a mãe pedindo socorro, mas, de repente, parou de falar. O celular continuou ligado e dava para ouvir apenas o barulho da água”, completou. 

Moradores da Sylvio Moro tentaram resgatar Sara Gabrielly. Eles jogaram uma mangueira de jardim para que ela pudesse se agarrar e ser resgatada, mas sem sucesso. A vítima estava se segurando em uma mureta da rua, não suportou a força da água e foi arrastada. A busca pela gerente de loja envolveu equipes que percorreram as margens do córrego a pé, um helicóptero da PM e dois drones da Defesa Civil, um deles com câmera térmica, capaz de detectar fontes de calor, e com infravermelho, possibilitando captar imagens no escuro, como em galerias e em vãos entre as pedras. 

Esse é o mesmo superdrone usado pela Defesa Civil de Campinas na operação que auxiliou a cidade de Canoas durante as tempestades e enchentes no Rio Grande do Sul, entre maio e junho deste ano. Familiares e amigos de Sara Gabrielly também formaram grupos de busca, percorrendo as margens do Córrego Piçarrão em carros e motocicletas. 

CAUSA E DANOS 

Na quarta-feira (23), a Defesa Civil do Estado emitiu alerta para chuvas com ventos de até 70 km/h em todo o território paulista. A tempestade de quinta-feira foi favorecida pela associação de um ciclone extratropical a uma frente fria. De acordo com o Cepagri, essa frente fria entre o Paraná e São Paulo favorece a formação e desenvolvimento de nuvens profundas, com risco de chuva forte ainda hoje, principalmente até o início da manhã. A partir da tarde, há possibilidade de pancadas isoladas. As temperaturas devem ficar entre a mínima de 20ºC e a máxima de 29ºC. Amanhã, o dia deverá permanecer nublado e não está descartada a possibilidade de chuva leve e isolada. Para segunda-feira, a previsão é de céu parcialmente nublado, com a volta da chuva na terça-feira.

O volume registrado na tempestade ocorrida na noite de quinta-feira na região da Vila Industrial ficou pouco abaixo da soma de tudo o que foi contabilizado na cidade nos últimos três meses - 126 mm de julho a setembro, segundo o Cepagri. 

A tenente Jenifer Santana, do 7º Grupamento dos Bombeiros, orientou as pessoas a redobrarem os cuidados com o período de chuvas. “Elas devem evitar áreas sujeitas a alagamentos durante a ocorrência de chuvas”, aconselhou. Ao participar das buscas pela vítima fatal na Vila Formosa, ela acrescentou que galerias de águas pluviais não são seguras. “A água sobre muito rápido quando chove”, avisou. 

SERVIÇOS

Várias vias de Campinas foram sinalizadas com placas alertando o risco de alagamento após os grandes estragos ocorridos na cidade nas tempestades de janeiro de 2023, como as avenidas Princesa d'Oeste, José de Souza Campos (Via Norte-Sul) e Orosimbo Maia. 

A Prefeitura divulgou um balanço de ocorrências com vários pontos de alagamentos na cidade, no Centro e em alguns bairros, como Vila Formosa e Chácara da Barra. Além disso, 22 centros de saúde, escolas da rede municipal e Centros de Atenção Psicossocial (CAPs) sofreram danos. Nos centros de saúde, houve atraso no início do funcionamento, mas nenhuma consulta foi desmarcada. 

No CEI Jardim Encantado, bairro Novo Campos Elíseos, o muro da parte lateral da escola caiu, mas as aulas não foram suspensas. Já no Centro de Educação Infantil (CEI) Zoé Valente Bellochio, no Jardim Santo Expedito, os 189 estudantes foram dispensados após o alagamento das salas de aula. Já na CEI Perseu Leite de Barros, no Centro, cerca de 50 alunos também foram dispensados por conta do alagamento de duas salas de aulas. 

A Defesa Civil registrou 31 ocorrências entre alagamentos, queda de árvores, galhos e erosão de córregos. Foram 11 alagamentos de imóveis, cinco quedas de árvores, queda de dois muros nos jardins Campos Elíseos e Ouro Preto, um deslizamento no Jardim Satélite Íris e uma erosão no córrego do Parque dos Cisnes. A Prefeitura mobilizou equipes com 780 homens, 30 máquinas e 50 caminhões para fazer a limpeza em diversos pontos da cidade. 

Na esquina das ruas Ceará e Rio de Janeiro, no bairro São Bernardo, a chuva da noite de quinta abriu uma cratera e danificou parte da calçada de uma creche municipal. Ontem, por volta das 10h30, equipes estavam finalizando o conserto dos estragos. 

DEFESA CIVIL ALERTA 

A Defesa Civil de Campinas divulgou uma série de dicas de segurança para evitar problemas durante tempestades. São elas: nunca tentar atravessar uma enxurrada a pé ou com veículos, pois a força da água pode ser perigosa; em caso de ventos fortes, evitar ficar perto de árvores, postes ou fios de eletricidade; desligar os aparelhos eletrônicos da tomada em caso de raios e tempestades; estar sempre atento às informações que são emitidas pela Defesa Civil, pois os alertas quando são emitidos têm uma previsão muito preocupante. A população também deve ficar atenta às placas e sinalização que indicam áreas de possível alagamento para evitar estar passar por esses locais em dias de chuva.

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