AMPLIAÇÃO DE RECURSOS

Setor automotivo injeta R$ 14 bi na região de Campinas nos últimos 46 meses

Maior parte dos valores aplicados se concentrou nos últimos 10 meses de 2022

Edimarcio A. Monteiro/ edimarcio.augusto@rac.com.br
06/12/2022 às 06:07.
Atualizado em 06/12/2022 às 08:19
Montadora chinesa investirá R$ 10 bilhões na região nos próximos 10 anos, sendo 4 bilhões para implementação de uma nova fábrica até 2025 e o restante dos recursos para ampliação e melhorias de produção até 2032 (Divulgação)

Montadora chinesa investirá R$ 10 bilhões na região nos próximos 10 anos, sendo 4 bilhões para implementação de uma nova fábrica até 2025 e o restante dos recursos para ampliação e melhorias de produção até 2032 (Divulgação)

As indústrias automotivas da Região Administrativa de Campinas (RA) lideraram os investimentos no Estado de São Paulo nos últimos 46 meses. Foram R$ 14,4 bilhões para ampliar a produção em suas fábricas e abrir novas unidades, representando 53,33% dos R$ 27 bilhões anunciados pelo segmento. Sendo o principal responsável pelos recursos destinados à indústria paulista entre janeiro de 2019 e outubro deste ano. 

De acordo com a Pesquisa de Investimentos Anunciados no Estado de São Paulo (Piesp) da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), a RA concentrou R$ 1,06 de cada R$ 2 anunciados. A Piesp faz o monitoramento dos recursos anunciados por empresas privadas e públicas, realizando análises por tipo de investimento e setor de atividade econômica, além de organizar os investimentos por municípios e regiões administrativas. 

Em todo o Estado, o segmento automobilístico foi responsável por 45,68% dos R$ 59,1 bilhões dos investimentos divulgados nesses 46 meses, de acordo com o estudo. O maior montante, no entanto, se concentrou em 2022 com R$ 11,8 bilhões. O montante representa mais da metade dos investimentos destinados à indústria neste ano.

Dos recursos revelados por empresas para a RA de Campinas, o maior deles é a instalação de uma fábrica em Iracemápolis da maior montadora de automóveis de capital 100% privado da China. A empresa destinou R$ 10 bilhões para a sua primeira unidade no Brasil e a sua maior base de produção fora do território chinês. Ela terá o objetivo de atender o mercado local e também as exportações para a América Latina. 

Serão dois ciclos de investimento para produzir SUVs e picapes híbridas e elétricas, com cerca de R$ 4 bilhões de 2022 a 2025 e mais R$ 6 bilhões entre 2026 e 2032. A unidade terá capacidade de produzir 100 mil veículos por ano e gerar 2 mil empregos na próxima década. Segundo a montadora, os veículos terão plataforma inteligente, conectividade avançada e recursos semi autônomos de segurança. Ela acrescenta que a nova unidade estimulará a indústria local de fornecedores com a nacionalização de componentes e a criação de uma rede de eletropostos.

A montadora tem plano de lançar dez veículos no mercado brasileiro nos próximos três anos, atingindo a marca de R$ 30 bilhões de faturamento em 2025. A fábrica foi comprada de uma montadora alemã e passa por uma modernização, que inclui processos digitais na produção e linha de montagem inteligente. “O mercado brasileiro não é apenas o líder da América Latina, mas também um dos dez maiores mercados mundiais, onde a empresa inicia a produção local fora da China. O Brasil é definitivamente nosso pilar estratégico para fazer acontecer a nossa meta para 2025”, afirma o Chief Operating Officer (COO) da montadora no país, Koma Li.

O segundo maior investimento na Região Administrativa de Campinas foi de uma montadora japonesa, que destinou R$ 2,1 bilhões na abertura de uma nova planta em Itirapina. A unidade passou a concentrar toda a produção de automóveis da marca no país. A empresa completou em 2022 30 anos de produção de automóveis no Brasil, atingindo a marca de 2 milhões de unidades fabricadas neste período. Em três décadas, a montadora investiu cerca de R$ 7 bilhões no país. 

“A marca mantém-se sólida, com uma estratégia cujo foco primordial concentra-se na qualidade da operação em todas as dimensões”, afirma o vice-presidente industrial da montadora, Otávio Mizikami. Atualmente, a marca produz quatro modelos em Itirapina, além de importar dois. Para 2023, a empresa tem planos de iniciar a importação de mais três carros, sendo um SUV e dois sedãs.

Outros investimentos 

Outra montadora do Japão investiu R$ 1,7 bilhão em sua unidade em Indaiatuba. Os recursos foram para modernizar a planta para a produção da 12ª geração do sedã mais vendido no Brasil e também para iniciar a fabricação de sua versão híbrida, sendo o primeiro modelo com essa tecnologia produzido no país. O carro é comercializado nos mercados nacional e latino-americano.

A empresa anunciou este ano um novo investimento de R$ 50 milhões em Indaiatuba para o facelift do carro. De acordo com ela, o recurso está sendo destinado para aquisição de novas tecnologias para a linha de montagem. Inaugurada em 1998, a unidade tem cerca de 1,5 mil funcionários. “Damos maior importância aos planos que ultrapassam o curto prazo, e que se traduzem na confiança que nossos clientes e stakeholders depositam sobre a marca”,diz o presidente da montadora no Brasil, Rafael Chang. 

Ainda na RA de Campinas, uma fabricante da Coreia do Sul investiu R$ 625 milhões em Piracicaba. Em setembro, a montadora inaugurou na cidade a sua primeira fábrica de motores na América Latina e a 13ª no mundo.

A unidade ocupa uma área construída de 17.721 metros quadrados e gerou 256 novos empregos. A estimativa é a produção de aproximadamente 70 mil motores por ano. A empresa também produz dois carro nessa planta. “A nova fábrica é uma das ferramentas que teremos para seguir crescendo e encarando os desafios do setor”, afirma o diretor da unidade e de qualidade da montadora, Joel Anjos. 

Avaliação

“Os investimentos são positivismos, movimentam a economia da região. Mas, no aspecto macroeconômico, são localizados, pontuais, representam a oportunidade de modernização de plantas, com menor impacto na geração de emprego e renda”, explica o coordenador do curso de Economia das Faculdades de Campinas (Facamp), José Augusto Gaspar Ruas. Ele considera que a criação de novas vagas seria maior se o montante anunciado para a região estivesse pulverizado em um número maior de empresas que realmente estivesse se instalando. 

O economista acrescenta que os valores anunciados serão escalonados em um período de tempo, com o desempenho que tiverem no mercado definindo se realmente serão efetivados. “Para efeito estatístico, os números são impressionantes, mas não representam uma retomada da economia”, completa. 

Os investimentos do setor automotivo para a Região Administrativa é 3,43 vezes superior a Região Metropolitana de São Paulo, que ficou em segundo lugar no ranking, com R$ 4,2 bilhões. De acordo com o estudo da Seade, a Região Administrativa de Sorocaba recebeu R$ 1 bilhão, enquanto que a de São José dos Campos, R$ 300 milhões. A região Central, onde fica São Carlos, recebeu outros R$ 100 milhões. “Os dados preliminares de 2002 indicam que o setor registrou a segunda alta anual consecutiva, obtendo seu terceiro melhor resultado desde 2012”, aponta a Piesp. 

O estudo aponta ainda que a RA de Campinas teve R$ 17,9 bilhões de investimento anunciados de janeiro a outubro deste ano. Desse total, a indústria automotiva representou R$ 11,66 bilhões, o equivalente a 65,1%. O setor que ficou em segundo lugar foi o de derivados de petróleo e álcool, com R$ 2,26 bilhões (12,7%). O valor foi destinado à Região Administrativa de Campinas, através da Petrobras, que está ampliando a produção de diesel S-10 na Refinaria de Paulínia (Replan), a maior do país. 

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