ANIVERSÁRIO DE 114 ANOS

Setec pretende tornar Mercadão um ponto turístico nacional

Foram anunciadas ontem reformas do estacionamento e nas ruas em volta do prédio

Thiago Rovêdo
13/04/2022 às 08:42.
Atualizado em 13/04/2022 às 08:42

Estudos estão sendo realizados pela Setec, que administra o local, para execução de reformas no entorno do Mercado Municipal, tanto nas ruas, estacionamento como no terminal ao lado (Gustavo Tílio)

Ao completar ontem 114 anos de existência, o Mercado Municipal de Campinas recebeu uma boa notícia: a Setec (Serviços Técnicos Gerais) iniciou estudos para execução de reformas do entorno do prédio: do estacionamento, das ruas ao redor e do terminal de ônibus ao lado. Mais do que isso, a autarquia está finalizando o projeto para reformular também o interior do Mercadão. Apesar de o projeto estar na fase final, ainda não há prazo para início das obras. O objetivo é transformar o Mercado Municipal de Campinas em um ponto turístico nacional, reconhecido no circuito gastronômico.

De acordo com o presidente da Setec, André Assad Mello, os estudos para a reforma do entorno do Mercadão começaram após a decisão judicial que deu aval para registro do imóvel, em ação de usucapião impetrada pela Administração Municipal. O processo de registro tornará o Mercado Municipal apto a receber recursos externos. 

"Para nós, é um orgulho participar desta data. A Setec é responsável pelo Mercadão e comemoramos este ano a aquisição de sua 'certidão de nascimento'. Com esse documento, conseguimos dar andamento nas obras e também recebermos outros aportes, como do Estado e Federal", explicou.

Por mês, o Mercadão recebe a visita de 120 mil pessoas. São 104 permissionários que cuidam de 143 boxes internos e externos. Mensalmente, são comercializadas mais de 10 mil caixas de produtos. O número de visitantes deve aumentar significativamente com a conclusão das obras do BRT, uma vez que o traçado do corredor passará pelo terminal ao lado do Mercadão, o que ampliará o fluxo de pessoas no local.

"Por enquanto, o estudo está em seu início, mas essas obras vão abordar o entorno, como as ruas, o terminal que tem aqui do lado, o estacionamento. Além da importância histórica cultural e gastronômica, o Mercadão também terá sua importância atrelada à revitalização do Centro", disse. 

A outra obra, que deve ocorrer em breve, prevê a reforma estrutural do Mercado Municipal, com a construção de um mezanino e a reforma da parte elétrica, hidráulica e da fachada. Atualmente, o projeto executivo está em aprovação na Caixa e, assim que for liberado, a licitação será aberta. De acordo com Mello, a verba destinada à reforma gira em torno de R$ 5 milhões.

"Vamos canalizar esgotos, trocar a parte elétrica, trazendo segurança para quem visitar o espaço. Basicamente, a reforma prevê uma adequação ao fluxo maior de pessoas que circularão por aqui, a segurança para os frequentadores e a qualidade dos serviços oferecidos pelos permissionários existentes", comentou.

Com isso, o plano é que o Mercadão amplie o potencial turístico que já tem e, entre outras coisas, seja reconhecido nacionalmente como parte de um circuito gastronômico, se transformando em um ponto turístico nacional.

Em relação ao aniversário, no último final de semana de abril, deve ocorrer um evento gastronômico no Mercadão. "Estamos pensando em fazer um evento para comemorar todas essas conquistas, junto com um evento gastronômico. Ele deve ocorrer no último final de semana deste mês", finalizou. 

O prédio do Mercado Municipal de Campinas é um dos mais importantes monumentos históricos do município não só pela sua função econômica e social, mas também porque foi projetado pelo campineiro Ramos de Azevedo, um dos mais importantes arquitetos do final do século 19 e início do século 20. Lembra o estilo neomourisco. Antes de se transformar em Mercado Municipal, funcionava como armazém de estocagem de produtos, que eram destinados ao Porto de Santos. 

Na gestão do prefeito Orosimbo Maia, o prédio foi comprado pela Prefeitura e transformado em Mercado Municipal (inaugurado em 12 de abril de 1908). Foi tombado em 1995 pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Artístico e Cultural de Campinas (Condepacc). 

Experiências

A trajetória de Claudia Lourenço no Mercadão, conhecida como Claudinha da Pamonha, é atrelada ao Correio Popular. Há 35 anos no local, ela começou com uma banca que vendia sucos. Na década de 90, começou a vender pamonha, ainda de forma tímida, mas um dia apareceu em uma matéria do jornal como uma das poucas de Campinas que comercializava esse produto na cidade.

"Hoje, eu vendo mais de uma centena de pamonhas por dia. Tenho muitos clientes fixos, tenho clientes de até três gerações de uma mesma família. E também continuo vendendo suco detox, que atrai as pessoas", disse. Sobre a relação com o Mercadão, Claudinha diz que nunca vai se aposentar e pretende trabalhar até o último dia da vida no local.

"Entrei aqui, pela primeira vez, com 17 anos. Hoje, tenho 53 anos e aqui é minha casa. Sabe quando perguntam o que você quer ser quando crescer? Eu já cresci e sou. Me sinto completamente realizada aqui", completou.

Proprietária de uma loja de produtos naturais, Elaine Emiko, de 44 anos, morava no Japão e quando voltou para o Brasil, o irmão e a irmã já estavam no Mercadão. Eles compraram um box, onde ela ingressou no novo emprego há 13 anos. "Já fui feirante em São Paulo e, depois, comecei aqui. Gosto muito do Mercadão, é um lugar com bastante movimento, é mais seguro também. Não temos somente produtos do Brasil, mas produtos de outros países também e isso atrai bastante público", disse.

O marido Ricardo Pereira da Silva, de 37 anos, trabalha com pintura e elétrica, mas quando tem um tempo vai ao box ajudar a esposa. "Sempre que posso, estou aqui, porque é necessário. A loja vende bem e sei que toda ajuda é bem-vinda", disse.

Dono da segunda loja de aquário e peixes mais antigo de Campinas, Nilson Almeida, de 60 anos, está no Mercadão há 11 anos. Ele comprou o box do antigo dono, que foi proprietário do comércio por cerca de 40 anos.

"Eu era criador de peixes e vendia para ele. Depois, ele quis vender a loja e acabei comprando. Deixei de criar e comecei só a revender. É muito legal, porque mesmo não sendo o mesmo público sempre, a gente sabe que vende para várias gerações da mesma família. Aqui é muito interessante, tem muito turista, muitas línguas diferentes", disse.

Quem aproveita toda essa variedade de lojas é o público. Adriana Moitinho, de 33 anos, estava no Mercadão junto com o filho, Felipe Santos, de 14 anos. Ela foi ao local para comprar ingredientes para fazer acarajé, comida tradicional da Bahia, sua terra natal.

"Vim aqui hoje para comprar ingredientes para o acarajé, mas também gosto de adquirir produtos para fazer feijoada. Aqui, o preço é justo e os produtos são de qualidade, sempre frescos. Gosto do atendimento também, porque somos clientes há um bom tempo", disse.

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