Represa que integra o Sistema Cantareira, essencial para o abastecimento da RMC: fenômeno climático "La Niña" favoreceu clima mais seco (Leandro Ferreira/AAN)
Campinas e as cidades da Região Metropolitana vivenciam o Verão menos chuvoso desde o ano de 2014, início da crise hídrica que assolou o Sudeste e impôs uma série de medidas de restrição ao consumo. No levantamento pluviométrico, realizado pelo Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri) da Unicamp, foram considerados os meses de dezembro, janeiro e fevereiro, colocando 2018 no ranking dos piores anos desde 1989, quando teve início a medição do Cepagri. O volume atingido até agora no Verão foi de 526 milímetros, quando o esperado para o período era de 688mm. Os números preocupam os especialistas, já que a falta da chuva pode comprometer o abastecimento hídrico. “A pior consequência dessa baixa, com certeza é a queda no volume dos reservatórios de água. Claro que a baixa umidade preocupa, mas a questão hídrica é sem dúvida a mais comprometedora” , disse a meteorologista Ana Ávila, do Cepagri. De acordo com ela, a estimativa é que nos próximos dias não chova expressivamente. “Não temos uma margem muito extensa, poderemos ter pancadas isoladas, mas não o suficiente para suprir a baixa” , explicou. O período mais seco na região Sudeste esse ano, segundo a especialista, se deve ao fenômeno climático “La Niña” , responsável por resfriar a temperatura média das águas do Oceano Pacífico e pela não atuação da zona de convergência do Atlântico Sul. “Esse é um dos sistemas meteorológicos encarregados da ocorrência de chuvas regulares em quase toda a região Ccentral e Sudeste do Brasil. Quando ele é impedido de se formar devido a fenômenos como o La Nina, as chuvas diminuem” , disse. Na edição do último dia 6 de março, o Correio Popular mostrou que o mês de fevereiro foi o terceiro menos chuvoso da história, com precipitação de apenas 88,6mm. A média histórica do mês é de 215mm Cantareira O Sistema Cantareira operou em baixa nos últimos dias, chegando a 53,6% da sua capacidade, segundo a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). Ainda segundo o órgão, a pluviometria acumulada no mês era de 73,1 milímetros até a última sexta-feira. Em fevereiro, o volume ficou 53,2% abaixo dos 203,4 milímetros esperados para o mês na região. Com isso, os reservatórios entraram em março ainda em faixa de atenção. O cenário é semelhante ao de 2013, quando a região caminhava para a mais grave crise hídrica e o Cantareira registrava 56,3% de volume útil armazenado. A avaliação do Consórcio Intermunicipal das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ) já publicada no Correio, é que o cenário atual está um pouco melhor, mas que ainda não é de tranquilidade. Em reportagem, o secretário-executivo do Consórcio PCJ, Francisco Lahoz, disse que a situação é de muita atenção ainda. A entidade está orientando a população a economizar água e os produtores rurais a construírem bacias de retenção para armazenar água de chuva. Interligação Mas a recém-inaugurada obra da Sabesp que interliga as represas Jaguari e Atibainha, em Nazaré Paulista, promete aumentar a disponibilidade de água para 39 milhões de pessoas nos Estados de São Paulo e do Rio de Janeiro. Com um investimento de R$ 555 milhões, financiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), ela conecta duas bacias hidrográficas distintas, permitindo transferir água de uma região para outra conforme a necessidade, beneficiando a cidade de São Paulo, a Grande SP, a Região Metropolitana de Campinas RMC), o Vale do Paraíba e o Estado do Rio de Janeiro, incluindo a capital fluminense. A obra é estratégica para os gestores, pois permite margem de manobra para socorrer regiões que estão com dificuldade e, assim, evitar o colapso.