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RMC tem 5 municípios com média salarial acima de SP

Polo petroquímico coloca Paulínia na segunda posição no Estado e nona no país

Edimarcio A. Monteiro/edimarcio.augusto@rac.com.br
27/06/2024 às 09:34.
Atualizado em 27/06/2024 às 14:29
Para o mecânico Fábio Augusto da Silva, a realidade do mercado de trabalho em Campinas também apresenta salários abaixo da média apontada pelo IBGE (Rodrigo Zanotto)

Para o mecânico Fábio Augusto da Silva, a realidade do mercado de trabalho em Campinas também apresenta salários abaixo da média apontada pelo IBGE (Rodrigo Zanotto)

A Região Metropolitana de Campinas (RMC) tem cinco municípios com média salarial superior à do Estado de São Paulo, de acordo com o Cadastro Central de Empresa (Cempre) divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com base nos dados de 2022. A liderança é de Paulínia, onde a remuneração mensal de R$ 5.527,47 é 33,26% superior a paulista, que é de R$ 4.147,84. O valor coloca o município, maior polo petroquímico da América Latina, na segunda colocação do ranking estadual e na nona do nacional. No Estado, a cidade fica atrás apenas da pequena Gavião Peixoto, de 4.702 habitantes, segundo o Censo 2022, na região de Araraquara, onde a existência de uma fábrica de montagem final de aviões executivos e de defesa joga a média para cima - R$ 6.279,20.

Na RMC, os municípios de Hortolândia, Campinas, Jaguariúna e Sumaré também têm salário superior a média estadual. Por outro lado, a remuneração em dez cidades está abaixo da linha de corte intermediária nacional, R$ 3.542,19. A lista traz Santo Antônio de Posse, Nova Odessa, Cosmópolis, Americana, Engenheiro Coelho, Santa Bárbara d´Oeste, Holambra, Artur Nogueira, Pedreira e Morungaba. Para a pesquisadora do mercado de trabalho do Observatório PUC-Campinas, a economista Eliane Navarro Rosandiski, a média salarial revela que as cidades com as maiores remunerações têm uma economia marcada por empresas de ponta, de grande especialização, baseadas em pesquisa e desenvolvimento (P&D), mas "mascara uma desigualdade muito grande".

"Elas têm uma estrutura onde um pequeno número de pessoas bem remuneradas mantém as atividades. São empresas de alta complexidade e grande produtividade, mas com pequena participação na geração de empregos novos", explicou ela, que também é professora da Pontifícia Universidade (PUC) de Campinas. Além disso, há uma grande diferença entre quem está no topo e a grande massa de trabalhadores que está na base. "Considerar a média traz essas distorções. O alto salário puxa a média para cima", completou. 

OUTRA REALIDADE

Um exemplo desse quadro é o da maior produtora de resinas termoplásticas nas Américas. Na planta de Paulínia, um grupo de 28 engenheiros é responsável por todo o processo de fabricação, onde a meta é atingir 300 mil toneladas de produtos com conteúdo reciclado até 2025. Com uma linha de produção totalmente automatizada, o objetivo é chegar a 1 milhão de toneladas até 2030. Na cidade, onde está instalada a maior refinaria de petróleo do país, a média salarial na indústria de transformação é de R$ 8.459,53, o quinto maior valor da cidade. As quatro primeiras posições são ocupadas pela fabricação de farmacoquímicos e farmacêuticos (R$ 9.943); prestação de serviços de informação (R$ 10.605,68); administração pública, defesa e seguridade social (R$ 11.530,51); e produção de derivados de petróleo (R$ 19.803,42).

Essa última categoria tem salário médio 3,37 vezes maior que a local. Na iniciativa privada, a concentração dos melhores salários nas atividades de maior presença das inovações tecnológicas tem relação direta com a menor oferta de empregos. Na década de 1990, quando teve início a automação bancária, cada caixa eletrônico que entrava na agência representava o fechamento de dez postos de trabalho. Hoje, com a expansão dos aplicativos para celulares, o processo avançou e agora são as agências que estão fechando e junto, mais empregos.

Em Campinas, há vários imóveis desocupados antes ocupados por bancos. Um dos mais recentes é na Avenida João Jorge, onde uma faixa de "aluga-se" revela o encerramento das atividades, após cerca de quatro décadas de funcionamento, da agência de uma das principais instituições financeiras do país. A situação se repete na Rua General Osório, no Centro, e na Avenida Barão de Itapura, no Guanabara. Entre 2020 e 2023, os cinco maiores bancos do país fecharam em torno de 2,8 mil agências, segundo dados da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban). Isso resultou na demissão de cerca de 14 mil funcionários, de acordo com levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

"Isso pode trazer dificuldades para pessoas carentes ou idosos que não têm tanto acesso à tecnologia e dependem dos serviços presenciais desses estabelecimentos", critica o diretor do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Edegar Garcia. "A diminuição dos postos de trabalho sobrecarrega e prejudica quem fica. Exemplo disso é o processo de acompanhamento dos bancários que precisam se afastar pelo INSS, que foi parcialmente substituído por inteligência artificial", completa.

OUTRAS CIDADES

Outras duas cidades da RMC aparecem entre as dez paulistas com maior média salarial. São Hortolândia, na sexta posição (R$ 5.011,37), e Campinas, nona colocada (R$ 4.632,51). Há 30 anos atuando no comércio, Saulo Luís dos Santos, considera que o montante está longe da realidade de Campinas. "A maioria deve ganhar em torno de R$ 2 mil e tanto. São poucos que ganham acima de R$ 4 mil", afirma, que de segunda a sábado trabalha atrás do balcão.

A família dele reflete a avaliação da economista Eliane Rosandiski de que os maiores valores ficam restrito as pessoas com maior formação profissional e especialização. Pai de três filhas, Saulo Santos considera que "talvez a biomédica ganhe mais" do que a faixa intermediária. A gerente de uma loja em um shopping center e a atendente em uma lanchonete devem estar abaixo dessa linha. 

Para o mecânico Fábio Augusto da Silva, a realidade do mercado de trabalho de Campinas também é de salário abaixo da média apontada pelo IBGE. "O valor está abaixo disso", afirma ele, com 35 anos de profissão. Os dados do Cempre confirmam a realidade de bons salários ser para poucos. No Brasil, o balanço mostra que os maiores valores foram pagos pelo setor de eletricidade e gás (R$ 8.312,01), seguido por atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (R$ 8.039,19) e organismos internacionais e outras instituições extraterritoriais (R$ 6.851,77).

"Apesar de tais atividades pagarem salários médios mensais mais elevados, ocuparam, juntas, 1,3 milhão de pessoas, ou seja, somente 2,6% do pessoal ocupado assalariado", destaca o analista da pesquisa do IBGE, Eliseu Oliveira. O levantamento mostrou ainda que, no país, os homens têm média salarial de R$ 3.791,58, valor 16,98% superior aos R$ 3.241,18 pagos as mulheres.

Entre as 20 cidades da RMC, os melhores salários estão nos setores de fabricação de bebidas (R$ 11.658,82), produtos químicos (R$ 11,462,22), consultoria em gestão empresarial (R$ 10.485,07) e transporte aéreo (R$ 10.230,71). São valores bem acima da média de R$ 2.335,94 dos trabalhadores contratados em abril, aponta a pesquisa do Observatório PUC-Campinas, com base em dados do Ministério do Trabalho e Emprego.

A maior parte dos novos postos são ocupados por jovens de até 24 anos com ensino médio. "São vagas onde a rotatividade é muito alta", diz a economista Eliane Rosandiski. Com facilidade na reposição do funcionário, as empresas pagam menos para reduzir os custos. Para a pesquisadora do Observatório, a mudança desse cenário depende do crescimento econômico do país, que levaria ao surgimento de empregos de melhor qualidade em termos salariais.

SALÁRIO MÉDIO NA RMC

Município............................................................Valor (R$)
Paulínia ................................................................5.527,47
Hortolândia............................................................5.011,37
Campinas..............................................................4.632,51
Jaguariúna ...........................................................4.525,59
Sumaré ................................................................4.208,88
Indaiatuba.............................................................3.983,58
Valinhos................................................................3.950,63
Vinhedo ...............................................................3.858,93
MonteMor ............................................................3.751,98
Itatiba ...................................................................3.677,95
Santo Antônio de Posse ......................................3.516,22
Nova Odessa........................................................3.294,99
Cosmópolis ..........................................................3.239,02
Americana ............................................................3.237,18
Engenheiro Coelho................................................3.218,42
Santa Bárbara d´Oeste .........................................3.014,39
Holambra...............................................................3.002,21
Artur Nogueira ......................................................2.908,94
Pedreira ................................................................2.612,73
Morungaba............................................................2.316,06

Fonte: Cempre, IBGE

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