Montante de R$ 4,9 bilhões foi inferior apenas ao de 2023 e 2022, de acordo com dados de plataforma do Ministério da Indústria, Comércio e Serviços
As exportações da RMC em 2024 representaram 6,43% do total de US$ 76,3 bilhões (R$ 463,44 bilhões) do Estado de São Paulo, segundo a plataforma Comex Stat; Estados Unidos é o principal destino das exportações da Grande Campinas, com uma participação de 17,78% no ano passado (Kamá Ribeiro)
A Região Metropolitana de Campinas (RMC) encerrou 2024 com US$ 4,9 bilhões (R$ 29,76 bilhões) em exportações, o terceiro melhor desempenho em 12 anos. O resultado foi atingido apesar de uma queda de 10,26% em comparação aos US$ 5,46 bilhões (R$ 33,16 bilhões) de 2023, de acordo com os dados divulgados pela Comex Stat, plataforma de balança comercial do Ministério da Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). O recorde ocorreu em 2022, quando as vendas ao exterior somaram US$ 5,58 bilhões (R$ 33,892 bilhões).
Em relação às importações, elas atingiram US$ 15,89 bilhões (R$ 96,51 bilhões) no ano passado. É o segundo maior valor desde 2013, inferior apenas aos US$ 19,33 bilhões (R$ 117,42 bilhões) de 2022. Com isso, o déficit da balança comercial regional ficou em US$ 10,9 bilhões (R$ 66,2 bilhões). Para o economista José Roberto Fonseca, 2024 “foi um ano muito positivo para o comércio exterior da região e também brasileiro, com manutenção do patamar elevado das exportações”.
“O aumento das importações ocorreu em virtude da compra de máquinas, equipamentos e insumos. Tem a ver principalmente com o aumento da demanda interna do Brasil, que leva a esse aumento de importação apesar de um dólar muito alto”, completou. De acordo com ele, esse quadro refletiu a retomada da atividade industrial verificada no ano passado, com aumento da produção.
ATIVIDADE
A elevação da atividade teve influência direta na pauta das importações, com três dos cinco itens mais comprados no exterior sendo matériasprimas para as indústrias: circuitos eletrônicos, compostos de nitrogênio e agroquímicos. Esse último produto está relacionado principalmente ao perfil de Paulínia, o maior polo petroquímico da América Latina e com variada linha de produtos, como defensivos agrícolas, tintas residenciais e materiais e soluções para embalagens. A lista dos itens mais importados inclui ainda aparelhos telefônicos e sangue humano e animal para uso terapêutico e vacinas.
O bom desempenho das exportações na RMC no ano passado foi sentido por uma indústria de autopeças instalada em Valinhos, que atua para ampliar as vendas na América do Sul. No ano passado, por exemplo, ela participou de feiras internacionais na região e apresentou seu portfólio com nova linha de transmissões e embreagens para aplicações em automóveis e máquinas agrícolas, além de conectores e transmissores para veículos eletrificados.
“Acreditamos que projetos de longo prazo são essenciais para a indústria automotiva, que vem enfrentando profunda transformação, tanto pelas propulsões alternativas (veículos híbridos, elétricos e biocombustível) quanto pelos sistemas de assistência ao motorista, que visam conforto e segurança”, explicou o diretor de Engenharia de Produto da empresa para a América do Sul, Rafael Werneck. Atualmente, a Argentina, Uruguai, Paraguai e Chile respondem por cerca de 40% das exportações da filial brasileira da multinacional.
“Nossas soluções têm grande aderência na Argentina e nos países vizinhos. Queremos expandir ainda mais nossa atuação, ampliando nossos canais de vendas e levando todo o know-how e expertise centenária que temos para atender as necessidades das montadoras e também do mercado de reposição com soluções eficientes que geram mais economia e sustentabilidade”, disse o gerente de Exportação do Aftermarket da empresa, Victor Bonami. A estratégia da empresa no Brasil passa pela nacionalização de componentes em virtude da matriz energética automotiva ser muito focada em uma fonte renovável, o etanol. “A nacionalização de componentes favorece o uso dessa matriz verde, ajudando a descarbonização quando analisamos de uma perspectiva do início ao fim”, explicou o diretor de Engenharia de Produto da indústria.
OUTROS DADOS
As exportações da RMC em 2024 representaram 6,43% do total de US$ 76,3 bilhões (R$ 463,44 bilhões) do Estado de São Paulo, de acordo com a Comex Stat. São Paulo é o principal exportador do país, com uma participação de 22,64% do resultado nacional, que no ano passado foi de US$ 337,04 bilhões (R$ 2,04 trilhões). O resultado paulista foi superior à média estadual registrada entre 2013 e 2023, que ficou em 21%.
Já as importações da Região Metropolitana de Campinas tiveram uma participação de 20,95% em relação aos US$ 75,84 bilhões (R$ 460,65 bilhões) registrados pelo Estado. O desempenho da RMC no ano passado ocorreu após a balança comercial regional apresentar o déficit de US$ 763,53 milhões (R$ 4,63 bilhões) em dezembro.
No mês passado, as exportações foram de US$ 378,53 milhões (R$ 2,29 bilhões), enquanto as importações somaram US$ 1,14 bilhão (R$ 6,92 bilhões). De acordo com o Comex Stat, Campinas foi a cidade da região que mais vendeu ao exterior em 2024. As empresas locais totalizaram US$ 983,86 milhões (R$ 5,97 bilhões). Os municípios que completam a lista do cinco com as maiores exportações são Paulínia (US$ 807,37 milhões), Indaiatuba (US$ 730,29 milhões), Vinhedo (US$ 416,77 milhões) e Americana (US$ 408,12 milhões).
Por outro lado, Paulínia liderou as importações, com o total de US$ 4,5 bilhões (R$ 27,33 bilhões). O município de Campinas apareceu em segundo lugar, somando US$ 3,53 bilhões (R$ 21,44 bilhões), seguido por Indaiatuba (US$ 1,46 bilhão), Vinhedo (US$ 1,16 bilhão) e Americana (US$ 407,71 milhões).
De acordo com o economista José Roberto Fonseca, se o dólar americano se mantiver em um patamar elevado como o atual, as exportações brasileiras devem ser beneficiadas, especialmente de produtos agrícolas, as chamadas commodities. “A gente viu em 2024 uma exportação muito grande de café e celulose, principalmente por conta do preço do mercado internacional, enquanto caiu o preço do milho e da soja. Então, o Brasil acaba refletindo esses preços internacionais, e os exportadores se beneficiam com o dólar mais alto.”
No entanto, há uma incerteza em virtude das promessas no novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de adotar medidas protecionistas. Ele tomará posse no próximo dia 20 e falou em dificultar a entrada de produtos importados no país para beneficiar as empresas e produtores rurais norte-americanos. “Se o Trump realmente implementar o que ele está dizendo vai ficar complicado, porque os EUA são os maiores importadores do mundo. Quando eles retraem suas compras, automaticamente o mundo retrai e procura mercados alternativos, só que isso não existe mais hoje em dia, todos querem ser mercados alternativos”, explicou o economista.
O mercado estadunidense é o principal destino das exportações da Grande Campinas, com uma participação de 17,78% no ano passado. Depois vem a Argentina (16,41%), México (7,44%), Alemanha (5,37%) e Chile (5,15%). Quanto as importações da RMC, a principal origem é a China, com participação de 24,42%. Em seguida aparecerem os Estados Unidos (13.77%), Alemanha (6,88%), Índia (4,98%) e Coreia do Sul (4,62%).