DADOS DO CAGED

RMC cria mais de 3,5 mil empregos com carteira assinada em janeiro

Desempenho foi 32,9% superior ao mesmo mês de 2023, resultado que surpreendeu os especialistas

Edimarcio A. Monteiro/ edimarcio.augusto@rac.com.br
19/03/2024 às 08:57.
Atualizado em 19/03/2024 às 08:57
Construção civil liderou alta em Campinas com 1.489 novos empregos com carteira assinada, sendo responsável por praticamente seis em cada dez novos postos; contando com demissões, o saldo positivo foi de 889 vagas (Rodrigo Zanotto)

Construção civil liderou alta em Campinas com 1.489 novos empregos com carteira assinada, sendo responsável por praticamente seis em cada dez novos postos; contando com demissões, o saldo positivo foi de 889 vagas (Rodrigo Zanotto)

A Região Metropolitana de Campinas (RMC) criou 3.587 empregos com carteira assinada em janeiro, alta de 32,9% em relação às 2.699 vagas de igual mês do ano passado, resultado que surpreendeu os especialistas. O desempenho chamou a atenção por permitir a comparação de dois cenários econômicos em situação normal pela primeira vez desde o início da pandemia de covid-19. O número revelado pelo Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged), divulgado pelo Ministério do Trabalho e Emprego, é inferior aos 4.560 postos abertos em janeiro de 2021 e aos 3.852 do primeiro mês de 2022, mas nesses dois anos o mercado de trabalho estava em uma fase de recomposição após a forte onda de demissões ao longo de 2020, ocorrida em virtude dos impactos na economia gerados no primeiro ano da doença. 

Para o economista Ibre Rodopho Tobler, o saldo de vagas formais mostra um mercado de trabalho mais aquecido do que o esperado. “Isso pode ser um bom indicativo de que o início do ano talvez esteja mais forte”, afirmou. Ele se mostrou, porém, cauteloso com o desempenho e disse que é preciso aguardar os dados nos próximos meses para verificar se a tendência se consolida ou se foi algo atípico. “Claro que ainda é o primeiro mês, mas realmente vem um pouco mais aquecido. É bom a gente esperar fevereiro e março, mas é um bom indicativo”, avaliou.

A criação de vagas em janeiro na RMC foi puxada principalmente pelo setor da construção civil. Em Campinas, por exemplo, onde foram criados 1.489 empregos, esse segmento foi o que mais contratou, sendo responsável por praticamente seis em cada dez novos postos. Ao todo, ele gerou 889 novas vagas. Na construção, a área de habitação está aquecida e movimentando o mercado. Uma construtora acaba de anunciar o lançamento de 25 empreendimentos na região até 2026, que somam 6.823 unidades habitacionais e movimentarão R$ 1,8 bilhão em Valor Geral de Vendas (VGV). O número de apartamentos é o maior que a empresa planeja entre as quatro regiões paulistas em que investirá nos próximos dois anos. O montante para a região representa 30% dos R$ 6 bilhões em VGV projetados.

A empresa divulgou que os novos empreendimentos serão lançados em cinco cidades da RMC – Campinas, Sumaré, Hortolândia, Itatiba e Nova Odessa. "É um plano de investimento consolidado, já com terrenos, com landbank (banco de terras) para os próximos três anos. Levamos em conta o potencial econômico das regiões e nossas pesquisas também identificaram uma alta demanda pelo primeiro imóvel nessas cidades”, afirmou o gerente comercial da construtora, Magno Magalhães. Em 2023, a empresa vendeu 1.739 unidades no Estado de São Paulo, com um VGV (Valor Geral de Vendas) de quase R$ 410 milhões. A construtora, que tem atualmente 1,9 mil funcionários, é especializada em "primeiro imóvel" e está há 15 anos no mercado, com presença em 45 cidades. Neste período, ela entregou mais de 27 mil unidades habitacionais e conta com 7 mil em execução.

EMPREGO

O ajudante geral Heberth Dias chegou a Campinas há dois meses para trabalhar na construção de um prédio residencial no Centro. Ele é um dos que conseguiu emprego com Carteira de Trabalho assinada em janeiro. “Para mim, o mercado está muito bom”, disse ele que veio de São Paulo e nem ficou parado: conseguiu vaga nos primeiros dias que chegou. 
Para o pedreiro José Carlos de Oliveira, “na construção civil, só fica parado quem quer. Emprego tem, mas o problema é que ganhamos pouco. A nossa profissão é muito desvalorizada”. Ele trabalhou 15 anos em uma construtora, depois mais um ano em outra e na semana passada começou a trabalhar em uma terceira. De acordo com Oliveira, a transição entre as empresas foi rápida, com a nova vaga surgindo em poucos dias. “Nem posso dizer que fiquei desempregado nesse período todo”, afirmou.

De acordo com o Novo Caged, a média salarial da construção civil na RMC é de R$ 2.536,16, valor 18,05% acima da média do salário inicial entre os admitidos, que foi de R$ 2.148,22. Além desse setor, também tiveram saldo positivo na geração de empregos em Campinas no mês de janeiro os setores de serviços, com a criação de 796 postos, e indústria, (288). Por outro lado, o comércio fechou 462 vagas, e a agropecuária outras 22. No geral, a cidade teve 19.860 admissões e 18.471 desligamentos, segundo os cadastros do Ministério do Trabalho e Emprego, saldo positivo de 1.389.

O economista Matheus Pizzani pontuou que o saldo negativo do comércio se deve à sazonalidade, ocorrendo em janeiro as dispensas dos funcionários temporários contratados paras as vendas de final de 2023. Já a agropecuária não é um setor forte no município. Para ele, a criação de vagas na indústria de transformação também merece atenção em relação ao desempenho nos próximos meses, podendo sinalizar que a confiança do setor está em crescimento. Para o especialista, a manutenção da queda da taxa de juros pelo Banco Central pode contribuir para a geração de novos empregos.

O Conselho de Política Monetária (Copom) do BC se reúne hoje e amanhã (19 e 20 de março) para discutir os rumos a Selic, que é a taxa básica de juros e serve de referência para as demais do país. Ele é hoje de 11,25% ao ano, valor definido na última reunião do Copom, ocorrida no dia 31 de janeiro, quando foi reduzida em 0,5 ponto percentual. Em março de 2023, a Selic era de 13,65% ao ano. Essa taxa foi mantida até agosto. A partir disso, foram cinco reduções seguidas. 

CIDADES

O novo Caged apontou que, em janeiro, 15 das 20 cidades da Região Metropolitana de Campinas registram saldo positivo de emprego, com as admissões superando as demissões. Paulínia foi o segundo município em criação de vagas, com a abertura de 754 postos, seguido por Indaiatuba (516), Hortolândia (4l1) e Sumaré (371). 

As cinco cidades que tiveram resultado negativo no primeiro mês do ano foram Holambra (-684), Nova Odessa (-246), Santa Bárbara d´Oeste (-214), Jaguariúna (-127) e Americana (-86). Na RMC, ocorreram 50.775 admissões, o que dá uma média de 70 contratações por hora, pouco mais de uma por segundo. Já as demissões de trabalhadores somaram 47.188. Com esses resultados, a Região Metropolitana começou 2024 com o estoque de 1.083.375 empregos. O número é equivalente a como se praticamente toda a população de Campinas estivesse trabalhando com carteira assinada.

O desempenho positivo da RMC seguiu a tendência registrada no país e também no Estado de São Paulo. Segundo o novo Caged, o Brasil registrou em janeiro a criação de 180.395 empregos. Os setores que apresentaram saldo negativo foram eletricidade e gás (-115), comércio e reparação de automóveis e motocicletas (-38.212), alojamento e alimentação (-4,375) e serviços domésticos (-4). Das 27 unidades federativas do país, apenas em duas os desligamentos superaram as admissões: Acre (-33) e Maranhão (-831). O Estado de São Paulo registrou o melhor resultado geral em janeiro, com a geração de 38.499 vagas. Depois aparecem Rio Grande do Sul (20.810), Santa Catarina (26.210) e Paraná (20.198). 

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