Construção civil liderou alta em Campinas com 1.489 novos empregos com carteira assinada, sendo responsável por praticamente seis em cada dez novos postos; contando com demissões, o saldo positivo foi de 889 vagas (Rodrigo Zanotto)
A Região Metropolitana de Campinas (RMC) criou 3.587 empregos com carteira assinada em janeiro, alta de 32,9% em relação às 2.699 vagas de igual mês do ano passado, resultado que surpreendeu os especialistas. O desempenho chamou a atenção por permitir a comparação de dois cenários econômicos em situação normal pela primeira vez desde o início da pandemia de covid-19. O número revelado pelo Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged), divulgado pelo Ministério do Trabalho e Emprego, é inferior aos 4.560 postos abertos em janeiro de 2021 e aos 3.852 do primeiro mês de 2022, mas nesses dois anos o mercado de trabalho estava em uma fase de recomposição após a forte onda de demissões ao longo de 2020, ocorrida em virtude dos impactos na economia gerados no primeiro ano da doença.
Para o economista Ibre Rodopho Tobler, o saldo de vagas formais mostra um mercado de trabalho mais aquecido do que o esperado. “Isso pode ser um bom indicativo de que o início do ano talvez esteja mais forte”, afirmou. Ele se mostrou, porém, cauteloso com o desempenho e disse que é preciso aguardar os dados nos próximos meses para verificar se a tendência se consolida ou se foi algo atípico. “Claro que ainda é o primeiro mês, mas realmente vem um pouco mais aquecido. É bom a gente esperar fevereiro e março, mas é um bom indicativo”, avaliou.
A criação de vagas em janeiro na RMC foi puxada principalmente pelo setor da construção civil. Em Campinas, por exemplo, onde foram criados 1.489 empregos, esse segmento foi o que mais contratou, sendo responsável por praticamente seis em cada dez novos postos. Ao todo, ele gerou 889 novas vagas. Na construção, a área de habitação está aquecida e movimentando o mercado. Uma construtora acaba de anunciar o lançamento de 25 empreendimentos na região até 2026, que somam 6.823 unidades habitacionais e movimentarão R$ 1,8 bilhão em Valor Geral de Vendas (VGV). O número de apartamentos é o maior que a empresa planeja entre as quatro regiões paulistas em que investirá nos próximos dois anos. O montante para a região representa 30% dos R$ 6 bilhões em VGV projetados.
A empresa divulgou que os novos empreendimentos serão lançados em cinco cidades da RMC – Campinas, Sumaré, Hortolândia, Itatiba e Nova Odessa. "É um plano de investimento consolidado, já com terrenos, com landbank (banco de terras) para os próximos três anos. Levamos em conta o potencial econômico das regiões e nossas pesquisas também identificaram uma alta demanda pelo primeiro imóvel nessas cidades”, afirmou o gerente comercial da construtora, Magno Magalhães. Em 2023, a empresa vendeu 1.739 unidades no Estado de São Paulo, com um VGV (Valor Geral de Vendas) de quase R$ 410 milhões. A construtora, que tem atualmente 1,9 mil funcionários, é especializada em "primeiro imóvel" e está há 15 anos no mercado, com presença em 45 cidades. Neste período, ela entregou mais de 27 mil unidades habitacionais e conta com 7 mil em execução.
EMPREGO
O ajudante geral Heberth Dias chegou a Campinas há dois meses para trabalhar na construção de um prédio residencial no Centro. Ele é um dos que conseguiu emprego com Carteira de Trabalho assinada em janeiro. “Para mim, o mercado está muito bom”, disse ele que veio de São Paulo e nem ficou parado: conseguiu vaga nos primeiros dias que chegou.
Para o pedreiro José Carlos de Oliveira, “na construção civil, só fica parado quem quer. Emprego tem, mas o problema é que ganhamos pouco. A nossa profissão é muito desvalorizada”. Ele trabalhou 15 anos em uma construtora, depois mais um ano em outra e na semana passada começou a trabalhar em uma terceira. De acordo com Oliveira, a transição entre as empresas foi rápida, com a nova vaga surgindo em poucos dias. “Nem posso dizer que fiquei desempregado nesse período todo”, afirmou.
De acordo com o Novo Caged, a média salarial da construção civil na RMC é de R$ 2.536,16, valor 18,05% acima da média do salário inicial entre os admitidos, que foi de R$ 2.148,22. Além desse setor, também tiveram saldo positivo na geração de empregos em Campinas no mês de janeiro os setores de serviços, com a criação de 796 postos, e indústria, (288). Por outro lado, o comércio fechou 462 vagas, e a agropecuária outras 22. No geral, a cidade teve 19.860 admissões e 18.471 desligamentos, segundo os cadastros do Ministério do Trabalho e Emprego, saldo positivo de 1.389.
O economista Matheus Pizzani pontuou que o saldo negativo do comércio se deve à sazonalidade, ocorrendo em janeiro as dispensas dos funcionários temporários contratados paras as vendas de final de 2023. Já a agropecuária não é um setor forte no município. Para ele, a criação de vagas na indústria de transformação também merece atenção em relação ao desempenho nos próximos meses, podendo sinalizar que a confiança do setor está em crescimento. Para o especialista, a manutenção da queda da taxa de juros pelo Banco Central pode contribuir para a geração de novos empregos.
O Conselho de Política Monetária (Copom) do BC se reúne hoje e amanhã (19 e 20 de março) para discutir os rumos a Selic, que é a taxa básica de juros e serve de referência para as demais do país. Ele é hoje de 11,25% ao ano, valor definido na última reunião do Copom, ocorrida no dia 31 de janeiro, quando foi reduzida em 0,5 ponto percentual. Em março de 2023, a Selic era de 13,65% ao ano. Essa taxa foi mantida até agosto. A partir disso, foram cinco reduções seguidas.
CIDADES
O novo Caged apontou que, em janeiro, 15 das 20 cidades da Região Metropolitana de Campinas registram saldo positivo de emprego, com as admissões superando as demissões. Paulínia foi o segundo município em criação de vagas, com a abertura de 754 postos, seguido por Indaiatuba (516), Hortolândia (4l1) e Sumaré (371).
As cinco cidades que tiveram resultado negativo no primeiro mês do ano foram Holambra (-684), Nova Odessa (-246), Santa Bárbara d´Oeste (-214), Jaguariúna (-127) e Americana (-86). Na RMC, ocorreram 50.775 admissões, o que dá uma média de 70 contratações por hora, pouco mais de uma por segundo. Já as demissões de trabalhadores somaram 47.188. Com esses resultados, a Região Metropolitana começou 2024 com o estoque de 1.083.375 empregos. O número é equivalente a como se praticamente toda a população de Campinas estivesse trabalhando com carteira assinada.
O desempenho positivo da RMC seguiu a tendência registrada no país e também no Estado de São Paulo. Segundo o novo Caged, o Brasil registrou em janeiro a criação de 180.395 empregos. Os setores que apresentaram saldo negativo foram eletricidade e gás (-115), comércio e reparação de automóveis e motocicletas (-38.212), alojamento e alimentação (-4,375) e serviços domésticos (-4). Das 27 unidades federativas do país, apenas em duas os desligamentos superaram as admissões: Acre (-33) e Maranhão (-831). O Estado de São Paulo registrou o melhor resultado geral em janeiro, com a geração de 38.499 vagas. Depois aparecem Rio Grande do Sul (20.810), Santa Catarina (26.210) e Paraná (20.198).
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