O bom desempenho econômico do Brasil na última década e a crise na Europa e nos Estados Unidos estão atraindo como nunca os estrangeiros interessados em trabalhar por aqui.
de acordo com o Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o fluxo migratório para o Brasil aumentou 62,7% nos anos 2000- foram 455.333 pessoas que saíram de seus países para viver aqui, contra 279.822 na década de 1990.
Parte deste grupo, é verdade, é composto por brasileiros que viviam fora e retornaram, afugentados pela crise no Hemisfério Norte. Mas mais da metade é mesmo de estrangeiros atrás de oportunidades. Que não raras vezes é encontrada aqui na região de Campinas, uma das que mais oferecem oportunidades para os estrangeiros que buscam trabalho no Brasil.
Além dos executivos que atuam nas muitas multinacionais instaladas na região por tempo determinado, há também abriga jovens dispostos a trabalhar no setor de serviçosou até que vieram tentar abrir novos negócios num ambiente menos árido que o que precisam enfrentar em seus países de origem.
Até meados do anos 90, a falta de segurança e a pouca infraestrutura no País não atraia mão de obra qualificada estrangeira. Isso começou a mudar com o boom econômico brasileiro nos anos 2000, de acordo com o professor de Direito Internacional da Puc-Campinas e especialista em migração, Luís Renato Vedovato.
“O Brasil hoje dá uma oportunidade melhor de organização das famílias. As grandes metrópoles nacionais têm uma boa rede de serviços e salários cada vez mais altos, em comparação com outras cidades do mundo”, afirmou Vedovato.
A boa formação dos profissionais estrangeiros, principalmente em áreas onde falta mão de obra qualificada, como engenharia e tecnologia, desperta o interesse de empresas da região,de acordo com o professor. De fato, faz pelo menos 15 anos que se pode notar um fluxo intenso de executivos estrangeiros que ocupam posições estratégicas em empresas internacionais com unidade em Campinas. “Eles querem homens de confiança para comandar as filiais no Brasil”, explicou Vedovato.
Fora dos ambientes corporativos das grandes companhias, porém, há todo um universo de oportunidades para os estrangeiros dispostos a arregaçar as mangas, incluindo hotéis, restaurantes e bares. “Eles vem ao Brasil quando vêem alguma possibilidade de regularização no País”, explicou o especialista.
Justamente o caso do garçom espanhol Jesus Baixauli Alabau, de 38 anos. Após se casar com uma brasileira em Valência, em 2010, Alabau mudou-se para Campinas. “Eu era gerente de restaurante, mas ainda assim resolvi voltar com minha esposa para cá. Ela sentia muitas saudades do Brasil. E eu sabia que o País vivia um bom momento econômico e estava cheio de oportunidades”, disse o espanhol, que trabalha como garçom no Nosso Bar, no Centro.
Alabau acredita que eventos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas vão impulsionar ainda mais a contratação em bares e restaurantes. “Não volto para a Espanha tão cedo”, afirmou.
Já a trajetória do suíço Matthias Olavi Büttner, de 38 anos, é um pouco diferente: ele morou em Campinas entre 2001 e 2006, trabalhando numa multinacional. Depois voltou para seu país, mas, apaixonado pelo Brasil, voltou para cá há três anos para abrir uma empresa de distribuição de medicamentos. Hoje, é consultor de empresas suíças que querem abrir negócios no País.
“Fui um dos primeiros a acreditar nas oportunidades de negócios no Brasil. E continuo acreditando, apesar de toda a burocracia que o governo impõe a estrangeiros que querem abrir empresas. Na Europa, o trâmite é muito mais fácil”, disse o consultor.
Qualidade de vida também pesa na decisão de ficar
O gerente regional da divisão de finanças e impostos da empresa de recrutamento Michael Page, Aron Felipe Conchester, afirmou que muitos dos executivos vindos de outros países para chefiar departamentos ou implantar unidades de multinacionais na região acabam ficando de vez.
“Antes, eles vinham por tempo determinado e voltavam para seus países de origem assim que o contrato previsse. Mas a qualidade de vida em Campinas e nas cidades próximas têm segurado esses profissionais, que muitas vezes formam família aqui”, contou Conchester.
Campinas, Valinhos e Vinhedo são as cidades mais escolhidas por estrangeiros para morar, mesmo quando trabalham em outros municípios, como Americana, Indaiatuba e Mogi Mirim. “São locais com bom índice de qualidade de vida, ótimos condomínios residenciais e próximos da Capital”, explicou.
Há também um outro perfil de estrangeiros, de acordo com o gerente, formado por executivos que saem de seus países para procurar trabalho onde quer que apareçam notícia de um bom desempenho econômico nos últimos anos - caso de China, Índia e Brasil. “Muitos portugueses, por exemplo, vieram para o Brasil e encontraram bons cargos em empresas. Eles têm uma formação muito sólida e a vantagem de falarem a mesma língua dos brasileiros”.
Além disso, diz, sua empresa tem sido procurada por muitos brasileiros que foram tentar a sorte lá fora e agora querem voltar ao País. “A demanda desse pessoal está maior desde o ano passado, quando a crise nos Estados Unidos e Europa se agravou. A boa notícia para eles é que não há muitas dificuldades para que consigam encontrar uma boa recolocação no mercado”.