Segundo estudo da Fundação Seade, de cada três trabalhadores do setor no Estado, um é contratato por uma das indústrias instaladas na RA de Campinas
De acordo com o estudo da Fundação Seade, dos sete maiores grupos produtores nacionais e estrangeiros que atuam no país, quatro têm fábricas instaladas na Região Administrativa de Campinas (Divulgação)
A Região Administrativa (RA) de Campinas é a líder nacional na produção de máquinas e equipamentos, de acordo com estudo sobre Valor da Transformação Industrial (VTI) nacional divulgado pela Fundação Sistema de Análise de Dados (Seade). A RA representa 39,3% da fabricação de tratores, máquinas e equipamentos para agricultura, pecuária, construção civil e extração mineral do Estado de São Paulo, que responde por 51% do total nacional, segundo dados de 2020.
A liderança foi conquistada, ultrapassando a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), em virtude da expansão do setor na última década. A participação da RA de Campinas, que engloba 90 municípios, era, em 2010, de 30,8% no VTI, que é a diferença entre o Valor Bruto da Produção Industrial (VBPI) e o Custo com as Operações Industriais (COI). No mesmo período, a representatividade da RMSP caiu de 38,7% para 28,2%. O estudo da Seade aponta o aumento da participação de outras Regiões Administrativas na produção paulista, como Sorocaba, Marília e São José do Rio Preto.
De acordo com o estudo do Seade, dos sete maiores grupos produtores nacionais e estrangeiros que atuam no país, quatro têm fábricas e outras unidades na Região Administrativa de Campinas, onde produzem carregadeiras, tratores, motoniveladoras, retroescavadeiras, máquinas florestais e outros equipamentos. De cada três empregos gerados pelo setor no Estado, um está na RA de Campinas. Do total de 175.619 postos de trabalhos, a região concentra 32,8%, o que representa 57.384 vagas. É como se toda a população de uma cidade do porte de Jaguariúna trabalhasse nas fábricas de máquinas e equipamentos.
REFLEXOS
Além dos empregos, o setor atrai grandes investimentos. Uma multinacional concluirá este ano um investimento de R$ 600 milhões em sua fábrica de Piracicaba, onde instalou a maior linha de montagem de motoniveladoras do Brasil. "Este ciclo de investimentos de cinco anos começou em meados de 2018 com conclusão prevista em 2023. O investimento também abrange a aquisição de novos equipamentos de produção, como robôs de soldagem, a introdução de novos processos industriais e a otimização do layout da fábrica. Para melhor apoiar as operações, um novo prédio de logística está sendo construído", detalhou o presidente da multinacional no Brasil, Carlos Alexandre Oliveira.
Exatos 60 anos após produzir o primeiro equipamento desse tipo no país, a empresa comemorou, em janeiro, a marca 300 mil máquinas de construção fabricadas no Brasil. Além de atender o mercado nacional, a planta exporta para praticamente todo o mundo. A fabricante é líder mundial de equipamentos de construção e mineração e motores a diesel e gás, com vendas que somaram US$ 51 bilhões (R$ 244,9 bilhões) em 2021.
De olho na expansão da agricultura brasileira, uma empresa de Indaiatuba lançou recentemente uma nova colheitadeira. A produção nacional de grãos no ciclo 2022/23 está estimada em 312,5 milhões de toneladas, o que representa um acréscimo de 40,1 milhões de toneladas quando comparada com a temporada 2021/22. Uma alta de 15%, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
O investimento feito por uma empresa desse segmento acaba refletindo em toda a cadeia e atrai outras companhias. Uma gigante sul-coreana instalou em Americana a sua primeira fábrica no Brasil, onde investiu US$ 60 milhões (R$ 288,18 milhões) e gerou 300 novos empregos. Logo após a inauguração, uma fornecedora de peças e componentes também anunciou a instalação de uma planta na cidade, onde aplicou US$ 23 milhões (R$ 110,5 milhões) e contratou 130 trabalhadores.
A expansão levou o setor a assumir a liderança nas exportações na Região Metropolitana de Campinas (RMC), que é menor que a RA, dado que é formada por 20 municípios, entre eles Indaiatuba e Americana. No acumulado de 12 meses, encerrado em maio passado, as vendas de máquinas e equipamentos ao exterior somaram US$ 402,8 milhões (R$ 1,93 bilhão), avanço de 60,16% em comparação aos US$ 250,3 milhões (R$ 1,2 bilhão) de igual período entre 2021 e 2022, aponta estudo sobre a balança comercial realizado pelo Observatório PUC-Campinas.
"Dentre as altas, destacamse os tratores, com variação de 10,80%", destacou o economista e professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas, Paulo Ricardo da Silva Oliveira, responsável pelo levantamento. De acordo como o Seade, a expansão das exportações de máquinas e equipamento está relacionada aos incentivos fiscais voltados à desoneração dos investimentos na produção e às exportações de bens de capital oferecidos pelo governo federal. "Frente a esse quadro, a indústria paulista, mesmo convivendo com períodos macroeconômicos contrários ao investimento, continua liderando o setor no país", acrescentou o órgão.
PIB
O desempenho do setor industrial é um dos responsáveis pela alta de 1,4% do Produto Interno Bruto (PIB) da RA de Campinas em comparação a igual período de 2022, aponta o estudo da Seade. De janeiro a março, a soma de todos os bens e serviços finais produzidos foi R$ 154,86 bilhões, contra R$ 144,45 bilhões dos três primeiros meses do ano passado. Apesar do resultado positivo, ficou abaixo da média do Estado, que foi de 2,1%.
Para o economista Paulo Ricardo Oliveira, o desempenho de Campinas pode ser explicado pela grande participação do setor industrial na economia regional, que enfrenta um período de estagnação por conta da queda de poder aquisitivo dos trabalhadores e da alta taxa de juros. Esse impacto tem se refletido, por exemplo, nas exportações da Região Metropolitana de Campinas. O estudo do Observatório da PUC aponta que a participação da RMC nas vendas ao exterior do Estado caiu. Ela foi no mês passado de 18,82%, contra 21,91% no mesmo mês de 2022.
Foi a menor taxa dos últimos 8 anos, superior apenas aos 18,59% de maio de 2015. Para o professor da PUCCampinas, essa queda não representa necessariamente uma crise na economia regional. Ele explicou que a redução ocorreu por causa do aumento da participação das commodities (produtos) agrícolas, que têm menor valor agregado, na balança comercial paulista.
Isso pode ser sentido também em relação do PIB. Proporcionalmente, o maior crescimento do Produto Interno Bruto no primeiro trimestre foi na RA de Bauru, 4,4%. A economia da região é marcada, principalmente, pela atividade agroindustrial. A RA se destaca como produtora de açúcar e álcool e conta ainda com a presença do setor de calçados, máquinas e equipamentos e papel e celulose.
No ranking das 16 Regiões Administrativas do Estado, Campinas ficou na 10ª colocação entre os PIBs que mais cresceram de janeiro a março. Isso contando que quatro tiveram queda no Produto Interno Bruto no período: Santos (-2,2%), Itapeva (-1,3%), Araçatuba (-1%) e Barretos (-0,4%). Apesar dessa colocação, a RA de Campinas se manteve na segunda posição na participação do PIB do Estado, com 20% do total. A liderança é da Região Metropolitana de São Paulo, 50,2%. A terceira posição é da Região Administrativa de São José dos Campos, com 5,6%.