O setor industrial, que normalmente paga os melhores salários, apareceu na segunda posição no ranking de geração de empregos na RA de Campinas em 2022, com o saldo de 24.569 vagas, aponta a Fundação Seade (Gustavo Tilio)
A Região Administrativa (RA) de Campinas foi a terceira que mais gerou empregos no Estado de São Paulo no acumulado de janeiro a novembro do ano passado, com o saldo de 117.375 trabalhadores contratados com carteira assinada. É o que revela estudo realizado pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) com base no Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (NovoCaged), do Ministério do Trabalho e Emprego. A RA foi responsável por uma em cada seis vagas surgidas no Estado São Paulo.
Nos primeiros 11 meses de 2022, foram criados 712.888 postos nos 645 municípios paulistas. A Região Administrativa de Campinas ficou atrás apenas da Capital, que registrou a criação de 238.671 mil empregos, e da soma dos outros municípios da Região Metropolitana de São Paulo, com 129.861.
Na comparação com os 11 primeiros meses de 2021, a RA registrou uma redução de 14,9% na geração de vagas. O saldo foi de 137.914 postos entre janeiro e novembro desse ano, que teve no segundo semestre uma fase de forte recuperação das contratações em função da retomada das atividades econômicas com a redução das restrições causadas pela pandemia de covid-19. A Região Administrativa de Campinas chegou a novembro com o total de 2,16 milhões de pessoas empregadas.
Avaliação
Para a professora de Economia e pesquisadora do Observatório da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC), Eliane Navarro Rosandiski, “a geração de empregos sempre é positiva”, mas aponta que a qualidade do emprego gerado é baixa. O setor que mais gerou emprego nos primeiros 11 meses de 2022 na RA foi o de serviços, contribuindo com o total de 58.245 vagas, o equivalente a 49,62% do total. Ou seja, empregou praticamente um em cada dois trabalhadores que conseguiram colocação nesse período.
O setor industrial aparece na segunda posição, com o saldo de 24.569 vagas, seguido pelo comércio (20.421), construção civil (10.088) e agropecuária (4.052). Eliane considera que a forte participação do comércio e serviços na criação de empregos não sustenta um crescimento econômico mais consistente no futuro. “O setor industrial é o que gera vagas com os melhores salários e de melhor qualidade”, explica a economista. Isso é importante por aumentar o consumo da população, o que mantém a roda da economia girando.
Seis cidades da Região Metropolitana de Campinas estão entre as dez que mais registraram novos empregos. A lista é liderada por Campinas, com 19.059 postos. A relação traz ainda Indaiatuba, que ficou em quinto lugar na classificação geral, com destaque ainda para Sumaré (6º), Santa Bárbara d´Oeste (7º), Americana (8º) e Paulínia (9º).
Para a pesquisadora do Observatório PUC-Campinas, o cenário atual não permite ter uma perspectiva positiva para o emprego em 2023, em função da possibilidade de manutenção de alta taxa de juros, crise política e do comportamento imprevisível da inflação. Porém, ela observa que o novo governo federal, que tomou posse em 1º de janeiro, tem propostas para aumentar a renda; ampliar a geração de empregos, com a retomada do programa Minha Casa, Minha Vida; e incentivar a reindustrialização e outros setores da economia.
“Nós estamos no meio de uma tempestade, mas está sendo indicado um norte”, afirma Eliane. “É preciso agora apagar o incêndio e dar um voto de confiança para o novo governo. Pode-se até discordar de medidas anunciadas, como a quebra do teto de gastos, mas é preciso ter boa vontade e entender que está sendo definido um caminho a se seguir”, acrescenta. Para a economista, a estabilidade política e econômica é importante para os investidores se sentirem tranquilos para colocar o dinheiro no país.
Para o gerente de uma agência de empregos, Roberto Batalha, os setores que vão gerar mais oportunidades este ano são o de tecnologia, logística, consumo, varejo e healthcare. “Há uma busca por empregos com uma maior flexibilidade e os profissionais agora se sentem mais confortáveis em exigir tal demanda enquanto estão em busca de uma inserção no mercado de trabalho”, afirma. Uma pesquisa realizada pela agência mostra que 77% dos trabalhadores preferem o modelo de trabalho híbrido ; 17% , o trabalho remoto; e apenas 6% o trabalho presencial.
Conforme Batalha, para conquistar uma vaga é preciso ter o currículo atualizado, ampliar a rede de contatos e estar disposto a ampliar as habilidades para conquistar a vaga. “A qualificação profissional é um fator muito importante para quem deseja conquistar um emprego. Por isso, é essencial se dedicar aos estudos, seja por meio de um curso livre, técnico, de graduação ou pós-graduação. Ter uma formação e uma certificação no currículo pesa muito”, afirma o gerente.
Investimentos
Na RA de Campinas, Piracicaba, que aparece em terceiro lugar na geração de novos empregos, com o saldo de 7,719 postos em 2022, está na 10ª colocação nacional e na 3ª estadual como as melhores cidades para as indústrias, de acordo com o ranking de uma empresa de consultoria. Desde 2021, a cidade atraiu R$ 5 bilhões em novos investimentos. “Os números mostram que estamos no caminho certo. Revertemos o déficit de empregos nos anos de 2019 e 2020: de 2.000 postos negativos para um saldo positivo de 15 mil novas contratações desde janeiro de 2021”, afirma o secretário de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo (Semdettur), José Luiz Guidotti Júnior.
Uma multinacional do setor de equipamentos pesados inaugurou em agosto passado uma ampliação de 11 mil metros quadrados em sua fábrica em Piracicaba, criando uma nova linha de montagem de motoniveladoras. “Estamos orgulhosos por manter os investimentos previstos na modernização da fábrica mesmo em um período tão dinâmico como o que vivemos”, diz o presidente da empresa, Odair Renosto. Ele confirmou a manutenção do plano de investimento de cinco anos a ser concluído em 2023, totalizando R$ 600 milhões nessa planta.
Mas as prefeituras também têm se mexido para atrair investimentos. Em junho, a administração de Campinas publicou o decreto 22.166, que regulamenta a Lei de Incentivos Fiscais do município. O objetivo da legislação é atrair novos investimentos e gerar cerca de 5 mil empregos. As empresas que se enquadrarem terão direito à isenção dos impostos Predial Territorial Urbano IPTU)), de Transmissão de Bens Imóveis (ITBI) e Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN) da construção civil, além da redução do ISSQN de 5% para 2%.
A ação faz parte do Programa de Ativação Econômica e Social (Paes), que prevê R$ 4 bilhões em investimentos e a geração de mais de 20 mil empregos no município. “A regulamentação desta lei é um passo importante para consolidar Campinas como uma cidade cada vez mais amigável e atrativa para novos negócios e empreendimentos”, diz o prefeito Dário Saadi (Republicanos).
Em julho, a Prefeitura de Indaiatuba publicou a lei nº 7.832, que cria o Programa de Incentivo ao Desenvolvimento Econômico do Município (Proinde). Entre os benefícios, está a isenção por até dez anos do IPTU para as empresas dos setores industrial e de prestação de serviço que se instalarem no município. A legislação inclui hotel ou pousada, shopping center, instituição de ensino superior, centro de distribuição e atacadista, além de entreposto aduaneiro.
“Neste momento podemos abranger, por meio desta lei, os prestadores de serviços e empresas que buscam melhorar o local de trabalho ou obter um imóvel”, afirma o secretário de Governo, Luiz Alberto Cebolinha Pereira. Em vigor há seis meses, a nova lei já atraiu o interesse de 12 empresas, de acordo com a administração.