ABUSO AO VOLANTE

Radares eletrônicos geraram 661 mil multas em 2023

Número é 53,44% superior às penalidades emitidas no ano anterior, segundo balanço divulgado pela Emdec; excesso de velocidade é a principal infração

Edimarcio A. Monteiro/ edimarcio.augusto@rac.com.br
10/01/2024 às 09:02.
Atualizado em 10/01/2024 às 09:02
Radar eletrônico instalado na Avenida John Boyd Dunlop, na altura do Jardim Garcia: das 661.991 multas de trânsito emitidas em 2023, 156.131 foram registradas naquela via (Alessandro Torres)

Radar eletrônico instalado na Avenida John Boyd Dunlop, na altura do Jardim Garcia: das 661.991 multas de trânsito emitidas em 2023, 156.131 foram registradas naquela via (Alessandro Torres)

Os 144 radares eletrônicos instalados em Campinas foram responsáveis pela emissão de 661.991 multas de trânsito em 2023, o que representou aumento de 53,44% em comparação às 431.418 registradas no ano anterior. Os dados constam em balanço divulgado pela Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec). O excesso de velocidade foi a principal infração registrada, representando 84,4% das 784.339 penalidades emitidas no ano passado, incluídas as geradas pelos agentes da Emdec.

O total de multas de radar mostra que, em média, 1,25 motorista é flagrado por minuto transitando em velocidade acima do permitido nas vias urbanas. Para o presidente da Emdec, Vinicius Riverete, apesar da alta, o número está dentro do patamar histórico, próximo dos 677 mil registros de 2019. "Em 2020 e 2021, tivemos a pandemia. Em 2022, ainda havia restrições, com as coisas voltando ao normal em 2023", argumentou ele, lembrado que a covid-19 levou à adoção de medidas sanitárias que restringiram a circulação das pessoas.

"Considerando que no passado tivemos a instalação de 14 novos radares em relação aos 129 existentes em 2019, não houve aumento de multas", interpretou o presidente da Emdec. Ele acrescentou que em 2022 houve a troca da empresa fornecedora dos equipamentos. Os novos aparelhos, disse, são mais modernos, o que reduz as perdas de registro por má qualidade da imagem no momento do flagrante da infração. Os radares também captam os motociclistas que passam rente à sarjeta para tentar escapar dos sensores instalados no solo. "Agora, eles são pegos", disse Riverete. 

CONDUTORES

A utilização da fiscalização eletrônica gera, no entanto, reclamações por parte dos motoristas. "Os radares fazem parte do esquema de arrecadação de todas as prefeituras", afirmou o técnico em logística Gilmar Pinheiro Lisboa. Este mês, ao licenciar o veículo, foi surpreendido por 12 multas de trânsito que levou em 2023, que somam cerca de R$ 900. "Algumas têm foto, mas outras, não. Não me considero um motorista imprudente", disse ele, levantando dúvida quanto a ter cometido todas as infrações apontadas.

Gilmar Lisboa citou que foi multado por avançar o sinal vermelho à meia-noite, mas os detectores devem ser desligados às 19 horas por medida de segurança para evitar assaltos em cruzamentos. O alerta de desligamento dos aparelhos está, inclusive, em plaquetas colocadas nos pontos semaforizados.

"Em Campinas, há muitos radares", criticou o agente penitenciário Júlio César Neves. "Não dá para ficar de bobeira porque em qualquer descuido você é multado", acrescentou. O presidente da Emdec rebate as críticas. "Das quase 881 milhões de passagens de veículos pelos pontos com radares, tivemos 661 mil multas. É menos de 1% do total", afirmou.

A segunda principal fonte de multas de trânsito em Campinas foi por avanço do sinal vermelho, com 58.021 autuações (7,4% do total). Depois, aparecem estacionamento irregular (52.378 - 6,7%), parar ou estacionar sobre a faixa de pedestres (18.880 - 2,4%) e dirigir e usar o celular ao mesmo tempo (18.056 - 2,3%).

Com 15 quilômetros de extensão, a Avenida John Boyd Dunlop ocupa o primeiro lugar disparado do ponto com mais multas. A via mais longa da cidade, onde o limite de velocidade é de 50 km/h, respondeu por 156.131 autuações, ou seja, uma em cada cinco multas emitidas. Em segundo lugar aparece a Avenida das Amoreiras, com 67.002 registros de infrações, o equivalente a 8,54% do total. Essas duas vias são também as mais perigosas de Campinas, concentrando o maior número de mortes.

Entre janeiro e novembro de 2023, 65 pessoas morreram em acidentes de trânsito em Campinas, queda de 6% em relação às 69 de igual período do ano anterior, de acordo com boletim mensal divulgado pela Emdec. As principais vítimas fatais são pedestres e motociclistas, somando 52 óbitos, 80% do total. Nos primeiros 11 meses de 2023, 23 pedestres perderam a vida, redução de 12% em relação aos 26 de 2022. Entre os motociclistas ou garupas, 29 faleceram, queda de 9% na comparação com os 32 de janeiro a novembro de 2022.

"Nos 18 pontos em que instalamos radares em 2023, não ocorreu nenhuma morte", disse Vinicius Riverete. De acordo com ele, a localização dos equipamentos é definida com base em avaliação técnica das condições e características da via e mortes registradas. O presidente da Emdec descartou a ampliação da fiscalização eletrônica em Campinas. "Não vamos instalar nenhum novo radar. O que podemos fazer é rodízio", afirmou.

Segundo ele, o uso desses equipamentos é um das ações preventivas usadas para melhorar as condições das vias e reduzir as mortes. Outras são as campanhas de segurança viária, trabalho de fiscalização, reforço da sinalização viária e obras de geometria em ruas e avenida. Os agentes de mobilidade urbana aplicaram 122.349 multas em 2023, 15,6% do total.

Para o economista Aparecido Oliveira, os abusos cometidos por pedestres e motociclistas fazem com que eles sejam as principais vítimas no trânsito, com a redução da mortalidade passando por mudanças no comportamento desses grupos. "Os pedestres não respeitam a sinalização, e os motoqueiros avançam o sinal vermelho", criticou. De acordo com ele, é comum ver irregularidades sendo cometidas na Avenida John Boyd, na altura do Jardim Aurélia, onde mora.

CAMPÕES DE MULTA

Nos últimos cinco meses, ações de inteligência da Emdec tiraram de circulação das ruas de Campinas dez veículos campeões de multas, que totalizam pelo menos 6,3 mil infrações com valor total de R$ 3,8 milhões. A primeira posição no ranking foi ocupada pelo proprietário de uma motocicleta ano 2021 apreendida no final de setembro, com R$ 1,3 milhão em autuações. O montante é equivalente ao valor de um superesportivo alemão zero quilômetro ou suficiente para comprar 76 unidades da moto mais vendida no mercado brasileiro.

Considerando o preço de mercado da moto, as multas tomadas pelo dono dariam para ele adquirir 86 veículos do mesmo ano. As principais irregularidades cometidas foram excesso de velocidade e avanço do sinal vermelho. "São dois tipos de infração que colocam em risco direto a vida das pessoas. Por isso, estamos intensificando nossa parceria com a GM e realizando um trabalho de inteligência, para retirar esses veículos das ruas, que colocam em risco a segurança de todos. São poucos, em comparação com a frota que circula pelo município, mas com potencial de produzir enormes danos, como a perda de uma vida", afirma Riverete.

O trabalho de inteligência da Emdec é desenvolvido através de convênio firmado com a Guarda Municipal. Nessa parceria, a empresa fornece a placa do veículo, que fica cadastrado no sistema de alerta da corporação. Com a ajuda da rede de câmeras de monitoramento, é feita a localização e a abordagem do veículo.

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