FUNDAÇÃO SEADE

RA de Campinas é a que mais recebeu investimentos de empresas da Ásia

Região acumulou R$ 22,4 bilhões em pouco mais de quatro anos, o equivalente a aproximadamente 35% do total de todo o Estado de São Paulo

Luis Eduardo de Sousa/luis.reis@rac.com.br
09/06/2024 às 08:40.
Atualizado em 09/06/2024 às 08:40
O projeto do Trem Intercidades, que ligará o município e a capital, é responsável por cerca de R$ 14 bilhões para a RA de Campinas, que é composta por 90 municípios; outro programa que incentiva o transporte ferroviário, o “São Paulo Sobre Trilhos”, também deve atrair uma grande quantidade de investimentos para a Região Administrativa (Alessandro Torres)

O projeto do Trem Intercidades, que ligará o município e a capital, é responsável por cerca de R$ 14 bilhões para a RA de Campinas, que é composta por 90 municípios; outro programa que incentiva o transporte ferroviário, o “São Paulo Sobre Trilhos”, também deve atrair uma grande quantidade de investimentos para a Região Administrativa (Alessandro Torres)

A Região Administrativa (RA) de Campinas é a que mais recebeu investimentos de empresas asiáticas em todo o Estado de São Paulo, conforme estudo divulgado pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade). A RA, que é composta por 90 municípios, acumulou R$ 22,4 bilhões em recursos oriundos de países como China e Japão entre janeiro de 2020 e abril de 2024, o que equivale a aproximadamente 35% do total estadual, que chega a R$ 64,9 bilhões no mesmo período. Atrás de Campinas aparece a RA de Sorocaba, que recebeu investimentos da ordem de R$ 12,9 bilhões. O terceiro lugar foi ocupado pela região de Bauru, com R$ 8,5 bilhões.

Os dados indicam uma mudança na dinâmica do investimento no território paulista. As regiões de Santos e São José dos Campos, por exemplo, ambas consolidadas na atividade industrial, figuram muito aquém de Campinas no estudo, tendo recebido R$ 1,5 bilhão e R$ 622 milhões, respectivamente, resultado com relevante diferença. Isso revela um interesse maior do empresariado estrangeiro pela RA de Campinas. 

Um dos motivos que justificam esse alto investimento na região se dá pelas boas condições para instalação industrial no território, que é logisticamente beneficiado por importantes rodovias estaduais e pela presença do Aeroporto Internacional de Viracopos. A implantação do Trem Intercidades (TIC) Campinas-São Paulo também contribuiu para o resultado, uma vez que a CRRC, empresa responsável pela obra, aparece entre as que mais investiram no Estado, em especial no projeto para ligar Campinas à capital pelo modal ferroviário.

Economistas consultados pelo Correio Popular analisam que houve uma melhora nas relações entre Brasil e China, o que contribuiu para a chegada de investimentos asiáticos no país, favorecendo, consequentemente, também a RA de Campinas. Segundo a Fundação Seade, a China lidera os investimentos, seguida por Japão, Singapura e Coreia do Sul. Demais países do continente somaram pequenos valores investidos se comparados ao volume das quatro principais nações investidoras.

Ainda há outro programa, o que incentiva o transporte ferroviário, lançando recentemente pelo governo estadual. De acordo com os especialistas na área, o "São Paulo Sobre Trilhos" também deve atrair uma grande quantidade de investimentos. 

DADOS

O estudo revela um salto na destinação e aplicação de recursos em todo o território paulista a partir de 2022, último ano da gestão do expresidente Jair Bolsonaro (PL). Em 2020, os recursos asiáticos aplicados no estado foram de R$ 2,1 bi. Já em 2021, houve um pequeno recuo, somando R$ 1,6 bilhão. Em 2022, o valor avançou para R$ 15,9 bilhões, atingindo R$ 18,6 bilhões em 2023. No ano atual, considerando apenas os primeiros quatro meses, já são R$ 26,5 bilhões só nos primeiros quatro meses.

Durante o período analisado, 70% dos investimentos anunciados foram direcionados à indústria (R$ 45,1 bilhões) e R$ 18,5 bilhões para empreendimentos de infraestrutura. Já para o setor de serviços, os recursos divulgados somaram R$ 1,2 bilhão e, para o comércio, foram os R$ 20 milhões restantes.

Somente o Trem Intercidades é responsável por cerca de R$ 14 bilhões para a RA de Campinas. A CRRC, responsável pelo projeto, figura entre as empresas que mais investiram no período até abril de 2024, com quase R$ 6 bilhões.

Na avaliação do economista Eli Borochovicius, professor da PUC-Campinas, a relação entre Brasil e China melhorou durante o governo Lula (PT), o que contribui para um olhar de maior interesse do país asiático em relação ao sul-americano. “É observado que a relação entre os dois países é crescente. Isso se mostra, por exemplo, nos aumentos de importações e exportações, mas também nos investimentos. É preciso ver, no entanto, como essa relação será preservada, sobretudo com a intenção do governo de taxar compras oriundas da China.”

Já na avaliação de José Augusto Gaspar Ruas, economista e coordenador do curso de economia das Faculdades de Campinas (Facamp), as empresas brasileiras precisam analisar como entrar nesse mercado e aproveitar os investimentos elevados. “Os países asiáticos, sobretudo a China, são muito autônomos. Eles chegam com capital, matéria-prima, criam o projeto e conduzem sua continuidade – com concessões e afins. A China tem grande apreço por serviços de infraestrutura, investimentos que, uma vez prontos, garantem a eles o monopólio das operações. É o caso do Trem Intercidades, que será operado pela própria empresa que o constrói, sem grande concorrência no longo prazo.”

Recentemente, o governo estadual anunciou a criação do programa “São Paulo Sobre Trilhos”, que visa a restabelecer o transporte ferroviário de passageiros Estado afora. Segundo o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), estão previstas as construções de duas linhas de veículo leve sobre trilhos (VLT), uma ligando Hortolândia e Sumaré ao Centro de Campinas e outra ligando o Aeroporto Internacional de Viracopos ao Centro da metrópole. Há anseios, no entanto, para ligar Sorocaba, Campinas e Ribeirão Preto, embora não existam projetos prontos.

“A gente observa que esse volume de investimentos se concentra em poucos projetos, ou seja, não há uma grande entrada de empresas chinesas. Compete às empresas brasileiras e sobretudo da região aproveitar esses projetos e colher seus frutos. A China é referência em modal ferroviário, por exemplo, mas uma empresa brasileira pode produzir os trilhos, a outra os acessórios, uma terceira a estrutura de construção civil, de modo a formar um ambiente favorável à evolução econômica da região”, finalizou Ruas.

Segundo a Fundação Seade, na indústria se sobressaem os investimentos no setor automobilístico de marcas japonesas consolidadas, duas delas com plantas na Região Metropolitana de Campinas (RMC). Adicionalmente, o crescimento do mercado de carros elétricos deve segurar os investimentos no setor industrial.

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