MODELO SUSTENTÁVEL

RA de Campinas captou R$ 849 milhões em investimentos em energia verde

Valor atraído no período entre 2019 e agosto de 2024 representa 6,15% dos R$ 13,8 bilhões de todo o Estado de São Paulo

Edimarcio A. Monteiro/edimarcio.augusto@rac.com.br
06/10/2024 às 11:52.
Atualizado em 06/10/2024 às 13:15
Maior investimento, da ordem de R$ 549 milhões, foi destinado para a produção de eletricidade e biometano, o que acontece a partir das 5,5 mil toneladas de lixo geradas por dia em cerca de 30 municípios da região de Campinas (Alessandro Torres)

Maior investimento, da ordem de R$ 549 milhões, foi destinado para a produção de eletricidade e biometano, o que acontece a partir das 5,5 mil toneladas de lixo geradas por dia em cerca de 30 municípios da região de Campinas (Alessandro Torres)

A Região Administrativa (RA) de Campinas recebeu R$ 849 milhões em investimento de energia verde, gerada por métodos sustentáveis a partir de fontes renováveis e limpas, entre 2019 e agosto deste ano. O valor representou 6,15% dos R$ 13,8 bilhões destinados para empreendimentos nessa área no Estado de São Paulo durante o período, de acordo com estudo divulgado pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade). Esse tipo de energia é gerada a partir da água, ar, calor da Terra, Sol e outras fontes, com a produção na região sendo principalmente com biomassas que antes seriam descartadas – resíduos de cana-de-açúcar e lixo doméstico.

“A transição para uma economia verde não é uma opção, mas uma tendência da economia mundial. Seus propulsores são tanto mudanças regulatórias que modificam os preços relativos do uso de recursos como o mercado de carbono, além da mudança de atitude dos consumidores, tendência que já se verifica, por exemplo, no norte da Europa. Desse modo, ela se concretiza não somente em termos de necessidades de adaptação a novas regulações, mas também em oportunidades de novos negócios”, afirmou o economista Jorge Bittencourt. “A bioenergia tem potencial para gerar R$ 200 bilhões de investimentos no país”, completou.

O maior investimento na RA são os R$ 549 milhões destinados para a produção de eletricidade e biometano, o que acontece a partir das 5,5 mil toneladas de lixo por dia geradas em cerca de 30 municípios da região de Campinas. A energia é produzida por uma usina termoelétrica em Paulínia, já em operação comercial, abastecida pelo biometano originário da decomposição dos resíduos residenciais levados para o ecoparque instalado na cidade. A unidade já atingiu a capacidade máxima de produção instalada de 22 megawatts de energia, dos quais 6,3 MW são destinado a alimentar os motores da usina, sendo praticamente autossuficiente.

Os outros 15,7 MW são disponibilizados para a rede de distribuição de energia, através de contrato assinado com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Essa quantidade é suficiente para atender em torno de 300 mil pessoas, o equivalente à população inteira de uma cidade do porte de Sumaré, além de ser equivalente a quase 10% dos moradores da Região Metropolitana de Campinas (RMC). “O biometano é como se fosse a gasolina aditivada, e o biogás, a comum”, comparou o gerente de operações da empresa, o engenheiro ambiental Diogo Arantes. O gás, explicou, tem uma purificação de 93%, gerando mais calor, o que aumenta sua eficiência.

COMO É FEITO

No processo de limpeza da decomposição dos resíduos, são eliminados ou reduzidos o gás carbônico (CO2), vapor de água (H2O), sulfeto de hidrogênio (H2S), amônia (NH3) e outros gases em proporções menores de 1%. O único que é combustível surgido pelo processo é o gás metano, batizado de biometano após o processo de purificação. Além da termoelétrica, o ecoparque recebeu investimento para a produção de biometano para ser usado como matriz energética para diversos clientes, de indústrias a residências.

Essa planta está prevista para ser inaugurada no próximo ano, com produção diária estimada em 180 mil metros cúbicos (m³) por dia do combustível renovável, com capacidade para chegar a 300 mil m³ no futuro. Será o maior projeto de geração de biometano no país quando entrar em operação. A empresa que atua em Paulínia administra outros 16 ecoparques no país, instalados em 12 Estados.

Já a maior produtora de açúcar do mundo instalou em Piracicaba a sua primeira usina de biometano produzido a partir de vinhaça e torta de filtro, resíduos da operação da agroindústria instalada no município. Resultado de um investimento de R$ 300 milhões, a unidade tem capacidade de produção de 26 milhões de m³ de gás natural renovável por ano, o suficiente para abastecer aproximadamente 200 mil clientes residenciais.

A totalidade da produção da nova planta foi comercializada para uma indústria de fertilizantes e uma das maiores fabricantes de automóveis do país, em contratos de longo prazo. Ela é a primeira montadora no Brasil a utilizar biometano na produção de suas fábricas, representando uma redução de mais de 90% nas emissões de CO2 na comparação com a alternativa fóssil. “A nova planta de biometano representa a materialização do plano anunciado ao mercado com foco na expansão em negócios renováveis. Assim, ampliamos nosso portfólio de soluções em energia, reforçando nosso papel de liderança na transição energética do país”, afirmou o CEO da empresa brasileira, Ricardo Mussa.

Substituto para gás natural, diesel ou GLP, o combustível renovável tem o potencial para reduzir em mais de 90% as emissões diretas de gases de efeito estufa ao substituir combustíveis fósseis. “A entrada no mercado de biometano amplia nosso leque de fontes sustentáveis como biomassa, solar, pequenas hidroelétricas e até mesmo biogás a partir de resíduos urbanos. Hoje, nos posicionamos com soluções de energia e a ambição de liderar a transição energética”, comentou o presidente do conselho da empresa, Frederico Saliba.

POTENCIAL

Um estudo inédito divulgado na última semana apontou que a cadeia do biometano tem a capacidade de gerar até 20 mil empregos diretos, indiretos e induzidos no Estado de São Paulo, além de contribuir para a redução dos gases de efeito estufa. O trabalho foi desenvolvido pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) em conjunto com as secretarias estaduais de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil), Desenvolvimento Econômico e Agricultura e Abastecimento.

De acordo com ele, a capacidade instalada ou em instalação atualmente no Estado é de 0,4 milhão de m³ por dia. Com o desenvolvimento da cadeia de biometano, a oferta potencial é estimada em 6,4 milhões de m³ por dia, ou seja, 16 vezes mais do que a capacitada atual. A maior parte desse gás (84%) pode vir do setor sucroenergético, através do aproveitamento da cana-de-açúcar. Outros 16% podem ser gerados nos aterros sanitários, a partir da decomposição da matéria orgânica. O volume potencial equivale a cerca de 40% do consumo total de gás natural em São Paulo e a 25% do consumo de óleo diesel no setor de transportes, incluindo veículos pesados.

“Temos um potencial enorme em relação ao biometano. Precisamos olhar essa potencialidade, as oportunidades, entender onde estão os gargalos, onde eventualmente precisamos melhorar nossa infraestrutura. Daí a importância desse estudo, para podermos dar o passo seguinte, avançando em políticas públicas robustas, na parte regulatória e no licenciamento ambiental, para que o investidor tenha segurança jurídica e previsibilidade para investir no Estado”, ressaltou a secretária estadual de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística, Natália Resende.

Os investimentos em energias verdes em São Paulo envolvem ainda empreendimentos em fontes solar e hídrica. Segundo o estudo da Seade, os maiores investimentos anunciados são na Região Administrativa de Araçatuba (R$ 3,8 bilhões) e na Região Metropolitana de São Paulo (R$ 2,6 bilhões).

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