CÂMARA DE CAMPINAS

Quase metade dos vereadores pretende disputar eleições

São 14 pré-candidatos, dos quais cinco são investigados no caso rachadinha

Rodrigo Piomonte
08/05/2022 às 09:41.
Atualizado em 08/05/2022 às 09:41
Oito afirmam ter legenda garantida para disputar pleito; seis aguardam decisão do partido (Diogo Zacarias)

Oito afirmam ter legenda garantida para disputar pleito; seis aguardam decisão do partido (Diogo Zacarias)

A cinco meses das eleições deste ano, quase a metade dos 33 vereadores de Campinas declara ter interesse em disputar o pleito no dia 2 de outubro. Dos 14 pré-candidatos, cinco são investigados por prática de "rachadinha" — quando assessores legislativos ou servidores públicos têm que devolver parte dos salários aos políticos.

Os cinco vereadores que pretendem disputar as eleições e estão na mira do Ministério Público de São Paulo são: Débora Palermo (PSC), Filipe Marchesi (PSB), Nelson Hossri (PSD), Permínio Monteiro (PV) e Zé Carlos (PSB), atual presidente da Câmara. Eles são pré-candidatos à Assembleia Legislativa de São Paulo e Câmara dos Deputados.

Suspeitos de prática de rachadinha, esses cinco vereadores são investigados em Procedimentos Preparatórios de Inquéritos Civis (PPIC). Se forem obtidos mais subsídios sobre as denúncias, o próximo passo é a abertura de inquéritos civis. Todos eles negam a rachadinha e afirmam estar à disposição do Ministério Público.

De acordo com as acusações, esses vereadores teriam recebido de volta parte dos salários de seus assessores da Câmara e também de funcionários indicados por eles para cargos em outras esferas do poder público.

Candidaturas

Dos 14 vereadores pré-candidatos, oito afirmam já ter legenda garantida, enquanto outros seis aguardam a definição dos partidos, segundo informações dos próprios parlamentares e seus assessores legislativos.

Já têm legenda para concorrer no pleito de outubro os vereadores Arnaldo Salvetti (MDB), Higor Diego (Republicanos), Luiz Cirilo (PSDB), Paolla Miguel (PT), Paulo Búfalo (Psol), Permínio Monteiro (PSB), Rodrigo Farmadic (União) e Zé Carlos (PSB) — presidente da Câmara.

Destes, a maioria disputará uma vaga na Assembleia Legislativa do Estado, exceto Arnaldo Salvetti, que tentará garantir uma cadeira na Câmara dos Deputados, em Brasília.

Aguardam definição

Outros seis parlamentares ainda aguardam a definição de seus partidos sobre as novas pretensões políticas. Nessa situação estão os vereadores Debora Palermo (PSC), Filipe Marchesi (PSB), Juscelino da Barbarense (PL), Marcelo da Farmácia (Avante), Mariana Conti (PSOL) e Nelson Hossri (PSD). 

Conforme a legislação eleitoral, as convenções partidárias para escolha dos candidatos devem ser realizadas entre 20 de julho e 5 de agosto, para em seguida, ocorrer a oficialização perante o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).“Legendas, federações e coligações têm até 15 de agosto para solicitar o registro de candidatura dos escolhidos”, diz o TSE. Os vereadores não precisam renunciar ao cargo para disputar a eleição.

O presidente da Câmara Municipal, Zé Carlos, que foi reeleito em 2020 com 4.674 votos, informou que tanto a presidência estadual do PSB como a municipal lhe garantiram legenda a deputado estadual. “Estou no meu quinto mandato. Agora, estamos avaliando a possibilidade de levar esse trabalho para um alcance maior, para a Região Metropolitana de Campinas”, disse.

O vereador Luis Cirilo disse que se ofereceu ao PSDB como uma opção de se candidatar à Assembleia Legislativa. “Depois de quatro mandatos como vereador, pretendo manter uma atuação em todo o Estado, com pautas referentes ao combate à corrupção, e temas ligados às áreas da saúde e segurança, que são demandas das cidades paulistas”, disse.

O vereador Higor Diego (Republicanos) explicou que sua pré-candidatura a deputado estadual foi um convite do prefeito Dário Saadi, do mesmo partido. Segundo o vereador, que foi o segundo mais votado em Campinas nas últimas eleições (com 7.670 votos), uma vaga na Assembleia Legislativa ajudaria nos próximos dois anos de mandato de Dário e também a agir em projetos ligados à periferia campineira na Alesp.

Já o vereador Paulo Búfalo (PSOL) disse que “a conjuntura atual exige que os lutadores sociais estejam engajados em trabalhar pela unidade de setores voltados ao social, para que se possa vencer esse governo do facismo, do ódio e do desprezo pela vida. E por isso, estou disposto a fazer esse enfrentamento como deputado, na Assembleia Legislativa”, disse.

Entre as mulheres, a vereadora Paolla Miguel, disputou em 2018, pela primeira vez, uma eleição para deputada federal e teve 10.431 votos. Dois anos depois, foi eleita vereadora com 2.728 votos. Segundo ela, a ideia é levar para a Alesp um debate mais profundo sobre pautas ligadas à mulher, à população de periferia e à dificuldade de acesso à renda, moradia, terra, saúde, segurança alimentar e educação.

Além de Arnaldo Salvetti, que afirma ter legenda garantida pelo MDB, outros dois vereadores almejar voos mais altos. O vereador Nelson Hossri informou que está colocando seu nome no PSD como pré-candidato a deputado federal. “Estou aguardando o presidente nacional do partido, Gilberto Kassab, responder. Ele me garantiu legenda para federal. Se não tiver legenda, não apoiarei ninguém do PSD”, disse.

Por outro lado, a vereadora Mariana Conti disse que aguarda uma definição do PSOL sobre a apresentação de seu nome para a disputa do Governo do Estado de São Paulo. “Estamos em debate interno e devemos ter uma decisão sobre isso no próximo mês”, disse. 

Especialista

O cientista político Vitor Barletta Machado, professor de Ciências Políticas da Faculdade de Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), explica que a participação de vereadores no exercício do mandato em novos processos eleitorais é normalmente definida por estratégia partidária.

O especialista afirma que as definições estão ligadas ao planejamento de cada político e à necessidade de apoio que o partido precisa para outras candidaturas. Ele acrescenta que a decisão de deixar a atividade parlamentar na cidade para se candidatar a outro cargo pode ser vista como desistência apenas por eleitores que não se sintam representados pela atividade política desenvolvida por determinado político.

Ainda conforme o especialista, independente da decisão de participar de um novo processo ser pessoal ou partidária, uma candidatura que permite uma projeção na carreira política pode representar benefícios para a base eleitoral do parlamentar no município.

“Um vereador que se lança, por exemplo, para deputado logo no segundo ano de mandato pode conseguir manter uma atuação na sua base eleitoral, ou seja, em seu município de origem, inclusive, com acesso a verbas mais numerosas”, disse.

Segundo o professor, a depender do cenário político que se desenhe até o período das convenções partidárias, a participação de vereadores no processo eleitoral deste ano pode aumentar ou diminuir. “Tudo é uma questão de estratégia partidária e vontade política do vereador. Até porque o vereador não perde seu mandato se não vencer a disputa. E se vencer, terá um suplente e poderá continuar seu trabalho voltado para a sua base”, conclui.

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