DESCARTE IRREGULAR

Quantidade de lixo retirado das rodovias cresce em 2024

Considerando apenas o Sistema Anhanguera-Bandeirantes, média mensal de material recolhido neste ano é de 500 toneladas

Luiz Felipe Leite/luiz.leite@rac.com.br
27/11/2024 às 08:03.
Atualizado em 28/11/2024 às 13:53
Rota das Bandeiras, responsável pelo Corredor Dom Pedro de rodovias, o que inclui a D. Pedro I (SP-065), informou que recolheu 1.860 toneladas de lixo entre janeiro e outubro deste ano, média de 186 toneladas por mês (Rodrigo Zanotto)

Rota das Bandeiras, responsável pelo Corredor Dom Pedro de rodovias, o que inclui a D. Pedro I (SP-065), informou que recolheu 1.860 toneladas de lixo entre janeiro e outubro deste ano, média de 186 toneladas por mês (Rodrigo Zanotto)

O descarte irregular de lixo na beira das estradas que passam por Campinas é uma cena infelizmente considerada comum, e os números mostram que a situação piorou de 2023 para 2024. A média mensal de entulhos, detritos e outros materiais recolhidos nas vias aumentou, de acordo com as empresas responsáveis pelas concessões das rodovias Anhanguera (SP-330), Bandeirantes (SP-348), Santos Dumont (SP-075) e Governador Doutor Adhemar Pereira de Barros (SP-340). Ao todo, são retiradas praticamente 590 toneladas por mês pelas concessionárias que administram as quatro rodovias.

A Renovias, que administra a SP-340, que liga Campinas a Mogi-Guaçu, divulgou que a variação foi superior a 53% (aumento de 49,2 para 75,4 toneladas na média mensal). Em todo o Sistema Anhanguera-Bandeirantes, o aumento também foi significante, 38,1%, passando de 362 toneladas em média por mês de 2023 para 500 em 2024, segundo a concessionária CCR AutoBAn. Na Santos Dumont, a Via Colinas revelou um índice inferior, mas também registrou crescimento na quantidade de material coletado de um ano para outro. Nos dez primeiros meses de 2023 a média mensal ficou em 13,06 toneladas retiradas. Considerando a média de 14,5 toneladas de janeiro a outubro de 2024, o aumento foi de 11%.

Já na Rota das Bandeiras, responsável pelo Corredor Dom Pedro de rodovias, o que inclui a D. Pedro I (SP-065), foram recolhidos 1.860 toneladas de lixo entre janeiro e outubro deste ano, média de 186 toneladas por mês. Como houve mudança na metodologia para o registro dos dados, não é possível comparar com os números registrados em 2023.

O Correio Popular percorreu alguns trechos das cinco rodovias citadas na reportagem durante a tarde de ontem, dia 26, e constatou que há vários materiais descartados irregularmente em todas elas. Foram encontrados papéis, garrafas e até itens mais rústicos, como pedaços de madeira, móveis destruídos e restos de pneus de veículos e de alimentos. Pacotes vazios de cimento, travesseiros e entulhos dos mais variados tipos também foram vistos pela reportagem.

Foi possível identificar uma quantidade maior de resíduos em trechos das rodovias Dom Pedro I e Anhanguera. Na segunda via, inclusive, foi encontrada uma equipe de empresa terceirizada e contratada pela CCR AutoBAn, responsável pela concessão do Sistema Anhanguera-Bandeirantes, para fazer a limpeza necessária. Sem se identificar, um dos funcionários afirmou que, dependendo do trecho, são recolhidos pelo menos 100 sacos de lixo por dia. A situação piora quando os sacos com os materiais são fechados e, antes de um caminhão recolhê-los, são rasgados por pessoas e animais que buscam por restos de comida. “Gera um trabalho dobrado, pois temos de recolher tudo novamente”, disse.

Outra equipe de limpeza vista pela reportagem estava na Rodovia Santos Dumont, na altura do bairro Parque Oziel. Aguinaldo Evaristo trabalha na empresa terceirizada contratada pela Via Colinas, concessionária responsável pela via. Ele comentou que precisa de três dias para percorrer o trajeto de ida e volta entre o Campinas Shopping e o Aeroporto de Viracopos, considerando os dois canteiros laterais e o canteiro central, para retirar o lixo encontrado nas beiradas da pista. “Com a quantidade que encontro por aqui, dá uma média de 25 sacos de lixo por dia. É muita coisa. Infelizmente os motoristas e as pessoas não possuem consciência e jogam lixo em qualquer lugar.” 

CONSEQUÊNCIAS

CEO do Observatório Nacional de Segurança Viária, Paulo Guimarães afirmou ser difícil identificar as causas para o aumento da média de lixo recolhido nas rodovias que passam por Campinas, mas comentou sobre as consequências desse fato. De acordo com ele, são três pontos. Um deles é que a presença dos resíduos pode gerar obstruções que forcem manobras inesperadas dos condutores, algo que pode causar possíveis acidentes de trânsito. Outro ponto é que dependendo do tipo de lixo, se for um resíduo orgânico, por exemplo, ele atrai animais. “Então isso gera a presença de animais na pista, resultando em um risco também para a segurança viária. O terceiro ponto é que alguns desses materiais podem ser inflamáveis, mais suscetíveis à combustão em função do calor. Então isso pode gerar um incêndio, o que contribui para a insegurança das vias e também um impacto ao meio ambiente”, acrescentou.

Presidente do Conselho Municipal de Meio Ambiente de Campinas (Comdema), Tiago de Lira analisou os números divulgados pelas concessionárias responsáveis pelas estradas que passam por Campinas. Na avaliação dele, vivemos um momento histórico fruto de um negacionismo climático por parte de algumas autoridades que entendem não existir nenhum problema ambiental atualmente. “Isso desencadeou nos últimos anos um retrocesso na discussão de políticas públicas ligadas ao meio ambiente. Acredito que esses números apurados pela reportagem são um reflexo disso, dessa falta de investimento público em campanhas de conscientização, de educação ambiental, que resulta exatamente no aumento de lixo descartado. Ele precisa ser recolhido pelas concessionárias responsáveis pelas rodovias. Falta, no meu ponto de vista, uma campanha de educação mais massiva. E, obviamente, por parte dos governos, incentivar a educação ambiental.”

CONCESSIONÁRIAS

A CCR AutoBAn, responsável pelo Sistema Anhanguera-Bandeirantes, informou que está sempre atenta para manter as vias limpas e livres de objetos e obstáculos nas faixas de rolamento, algo feito por meio do ciclo de Inspeção Permanente de Tráfego e Monitoramento, via circuito fechado de televisão.

A empresa disse que também realiza campanhas orientando os caminhoneiros com relação ao correto condicionamento e cobertura da carga nos caminhões. “São 30 pessoas dedicadas para recolhimento de lixo, resíduos, no sistema Anhanguera-Bandeirantes, além de seis caminhões que trabalham 7 dias por semana.” Já os materiais recolhidos são levados para um aterro sanitário localizado no quilômetro 33 da Rodovia dos Bandeirantes, em Caieiras, na Região Metropolitana de São Paulo. 

A Via Colinas, que possui a concessão da Rodovia Santos Dumont, afirmou que os resíduos mais recolhidos são plásticos, como garrafas PET, além de papel, papelão e metais, especialmente latas de alumínio. “Diariamente as equipes da Via Colinas realizam a limpeza de todo o trecho. Cada item é recolhido manualmente, armazenado em sacos e, posteriormente, transportado por caminhões até aterros sanitários, onde é descartado de forma adequada. A Via Colinas destaca que, além do descarte dos materiais mencionados acima, o descarte do lixo orgânico, por exemplo, como restos de comida deixados em sacos plásticos, é altamente prejudicial à fauna lindeira das rodovias”, informou.

Já a Renovias, responsável pela Rodovia Doutor Adhemar Pereira de Barros, contou que faz ações como a campanha "Lacre Solidário", que arrecada lacres como forma de conscientização ambiental e responsabilidade social junto a entidades de cidades lindeiras às rodovias administradas pela concessionária. “Também ocorrem mutirões de recolhimento de lixo, além de publicações, como as aplicadas nos painéis de mensagens variáveis distribuídos na malha viária”, explicou.

A Rota das Bandeiras, responsável pelo Corredor Dom Pedro de rodovias, informou que conta com equipes que fazem diariamente o serviço de limpeza em suas faixas de domínio. “Parte do material é encaminhada para usinas de reciclagem. A Rota das Bandeiras tem reforçado ações de conscientização com moradores lindeiros e faz campanhas em suas redes sociais e também por meio dos painéis de mensagens variáveis instalados nas rodovias.”

PUNIÇÕES

A Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp), responsável por fiscalizar as concessionárias que administram as rodovias paulistas, informou que essas empresas têm o compromisso de remover o lixo e descartá-lo corretamente. Ainda segundo a agência estadual, de acordo com a Lei 5.231 do Código Brasileiro de Trânsito, "atirar do veículo ou abandonar na via pública objetos ou substâncias" é crime com multa prevista de R$ 130,16 mais a perda de quatro pontos na Carteira Nacional de Habilitação (infração média). As concessionárias não aplicam penalidades, priorizando o trabalho educativo junto aos usuários e comunidade. Os motoristas e moradores do entorno das rodovias são orientados de que não devem descartar o lixo urbano na faixa de domínio da rodovia.

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