Prefeitura fez sugestões em relação ao atual projeto em reunião ocorrida nesta semana; grupo responsável pela concessão fará a análise dos apontamentos para apresentar o novo plano
Construção de marginais em trecho da Santos Dumont pretende diminuir consideravelmente o trânsito na região, principalmente no entorno do Aeroporto de Viracopos, São José e Parque Oziel; moradores de outras cidades, como Indaiatuba, também sofrem com os constantes congestionamentos na chegada a Campinas (Alessandro Torres)
Representantes da Prefeitura de Campinas e da Via Colinas, do Grupo Via Appia e responsável pela concessão da Rodovia Santos Dumont (SP-075), reuniram-se na tarde da última terçafeira, dia 18, no Palácio dos Jequitibás, sede da Administração Municipal, para que o poder público fizesse apontamentos em relação ao projeto executivo de construção das marginais da vida. O encontro foi revelado de forma exclusiva pelo Correio Popular em reportagem do dia 12 de junho.
Uma nova reunião deverá ser realizada em até 30 dias para a finalização do projeto executivo e planejar os próximos passos. Em nota, a Secretaria de Parcerias em Investimentos do Estado de São Paulo informou que, uma vez concluída, a proposta ainda precisará ser deliberada pela direção da Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp), responsável pela regulação e fiscalização das rodovias paulistas. A partir da decisão, a Via Colinas terá 90 dias para iniciar as obras.
A obra prevê marginais de sete quilômetros de extensão nos dois lados da rodovia, com larguras variáveis ao longo do trecho, construção de passarelas e melhorias na iluminação e na sinalização. De acordo com a Prefeitura de Campinas, o valor estimado para a execução da obra, de responsabilidade da Via Colinas, está em R$ 400 milhões.
MUDANÇAS
Alguns pontos foram debatidos na reunião realizada na sede da Prefeitura. Segundo apuração da reportagem, um deles diz respeito a uma área de conflito próxima ao Campinas Shopping, nos arredores da Avenida Prestes Maia. O projeto da Via Colinas interferiria em planos da municipalidade para as ruas da área. Mais detalhes sobre esse conflito, no entanto, não foram divulgados.
Outra questão diz respeito à necessidade de desapropriações, ou seja, a transferência compulsória da propriedade para o poder público mediante indenização. Representantes da Prefeitura fizeram a proposta de reduzir as áreas que passarão por essa situação. Um exemplo citado é uma ocupação popular na região do Parque Oziel. A ideia é modificar o traçado das obras para que seja evitado um impacto aos moradores que habitam a área citada e comerciantes, mas algumas desapropriações ainda deverão acontecer.
Em entrevista realizada logo após o fim da reunião com os representantes da Via Colinas, o secretário de Planejamento e Desenvolvimento Urbano de Campinas, Marcelo Coluccini disse que o encontro foi “extremamente positivo”. “O que a gente sentiu é que foi a primeira reunião de uma forma muito mais concreta, em que prevemos que realmente essas obras vão sair do papel. Foi uma reunião muito produtiva. Vimos vontade da concessionária (Via Colinas) e da Artesp na execução dessas marginais”, pontuou.
O diretor de concessões da Via Appia, Thiago Moreira, se manifestou por meio de nota divulgada pela assessoria de imprensa da Prefeitura. Ele ressaltou que levará o projeto com as considerações da Prefeitura para que seja analisado e novamente apresentado, com os novos detalhes, na próxima reunião.
Também participaram do encontro o vereador Rodrigo da Farmadic (União Brasil), o gerente-executivo de gestão contratual da Via Appia, Bruno Toni Paliadol, e técnicos das secretarias municipais envolvidas.
Carmo Luiz (Republicanos), um dos vereadores que defendem a necessidade de obras na Rodovia Santos Dumont, destacou que essa iniciativa entre o poder público e a concessionária é necessária, já que pode ser uma solução para reduzir os congestionamentos diários e acidentes de trânsito frequentes na região. “Em março de 2018 eu apresentei uma moção na Câmara solicitando a obra junto à concessionária. Nos anos seguintes, fizemos reuniões com vários secretários do Governo de São Paulo, cobrando o cumprimento das promessas de abertura de licitação para a obra. Ela é muito importante e há muito é aguardada por Campinas. É a chegada de dignidade através da mobilidade urbana”, afirmou.
MORADORES
No final da década de 1990, um grupo de moradores da região das marginais da Rodovia Santos Dumont protestou diante de tantos casos de atropelamentos e mortes na via, principalmente após ela ser duplicada na década de 1970. Representando os bairros afetados, os habitantes criaram a Comissão de Moradores da Margem da Rodovia Santos Dumont (CMMRSD).
Morador do bairro Jardim Santa Cruz há mais de 40 anos, Alvino de Faveri integra o colegiado e defendeu as obras da estrada. Segundo ele, o crescimento populacional e a chegada de comércios e empresas para a região da Rodovia Santos Dumont gerou ao menos uma consequência direta: mais congestionamentos no interior dos bairros. “Vemos um descaso conosco que já vem de muito tempo, e as mudanças nunca acontecem. Espero, sinceramente, que desta vez (o projeto) saia do papel”, comentou.
Também membro da comissão de moradores, Lúcio Rodrigues afirmou que ele e os demais integrantes do grupo ficaram desapontados com a falta de convite para a reunião realizada entre representantes da Prefeitura e da Via Colinas. “Desde o ano passado que não nos comunicam sobre mais nada, seja o poder público ou a concessionária. Nós somos os maiores interessados de que isso aconteça (obras na rodovia). Será que vão chamar uma audiência pública ou algo do tipo?”, questionou.
Em nota, a Prefeitura informou que "haverá consulta pública e outras formas de diálogo com os moradores dos bairros adjacentes à rodovia Santos Dumont sobre o projeto de construção das marginais", mas que isso acontecerá "após a finalização do projeto executivo". Isso porque a proposta concluída mostrará todos os detalhes da obra e as intervenções que serão necessárias.
HISTÓRICO
Em 26 de setembro do ano passado, o Correio Popular noticiou uma reunião entre o prefeito Dário Saadi (Republicanos), o presidente da Emdec, Vinicius Riverete, e o secretário de Parcerias em Investimentos do Estado de São Paulo, Rafael Benini, para discutir a implantação das marginais da Rodovia Santos Dumont.
No encontro, o prefeito ressaltou a importância da obra para os moradores de Campinas, especialmente das regiões do entorno de Viracopos, São José e Parque Oziel, além dos residentes de outras cidades, como Indaiatuba, que enfrentam congestionamentos frequentes na chegada a Campinas. A necessidade de recuperação do pavimento asfáltico da rodovia também foi discutida, com a sinalização para o recapeamento da estrada.
Na ocasião, o secretário estadual Rafael Benini autorizou a atualização do projeto elaborado em 2018 e, posteriormente, a inclusão dessas obras para serem realizadas pela Colinas. O cronograma deveria ter sido anunciado nos meses seguintes, mas isso não ocorreu.
PRESSÃO
Em julho de 2023, o projeto para a construção de marginais nos dois sentidos da Rodovia Santos Dumont foi tema de uma reunião entre os vereadores Cecílio Santos (PT) e Luiz Rossini (presidente da Câmara, anteriormente no PV e atualmente no Republicanos), o presidente da Emdec e representantes da Colinas com o diretor-geral da Artesp, Milton Persoli.
O encontro, que reacendeu o debate sobre a criação de marginais, abordou a viabilidade técnica da execução da obra, que pretende implantar pistas paralelas no trecho entre as rodovias dos Bandeirantes (SP-348) e Anhanguera (SP-330), área urbana afetada pelo trânsito intenso nos horários de pico. Conforme apurado pela reportagem, houve consenso entre Persoli e os representantes da cidade de que a obra é importante e viável do ponto de vista técnico. Na época, ainda era necessário buscar financiamento para a execução do projeto. Uma estimativa de 2019 indicava um investimento necessário de aproximadamente R$ 350 milhões. No entanto, a iniciativa ficou paralisada e foi retomada neste ano.
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