Prédio é objeto de impasse que dura mais de uma década; acervo do Museu da Cidade ficou instalado na estrutura entre 1992 e 2006, mas foi retirado em 2017 por causa do fim da cessão do governo estadual ao município (Alessandro Torres)
Duas ações que visam a revitalizar o Centro de Campinas avançaram no Executivo na última semana. A primeira se refere à reforma de prédios no quadrilátero central, enquanto a segunda caminha em busca de uma solução para o prédio da antiga Fábrica Lidgerwood, na Avenida Andrade Neves. A Prefeitura divulgou na terça-feira que apresentará o projeto de restauro para o prédio neste sábado.
A revitalização do Centro é uma das principais bandeiras da gestão do prefeito Dário Saadi (Republicanos). A área central é alvo de apontamentos de “abandono e desvalorização imobiliária”, ambos motivados pela saída de comércios e, consequentemente, de pessoas. Populares reclamam ainda de um suposto aumento na população de rua e na sensação de violência. O assunto foi até tema de audiência pública na Câmara Municipal em maio.
Além das duas ações, está em curso a revitalização da Avenida Campos Sales. A obra está prevista para ser entregue em janeiro do ano que vem.
REUNIÃO
Na reunião deste sábado, além de apresentar o projeto de restauro para o prédio da Lidgerwood, a Prefeitura informou que quer ouvir a opinião da população acerca do modelo.
O impasse com a edificação perdura por mais de uma década e o prédio, que é tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas desde 1990, sofre com o desgaste do tempo e a falta de manutenções. Desde 1992, o prédio sediava o Museu da Cidade, no entanto, como a propriedade do espaço pertence ao Estado, o arquivo da instituição foi retirada do local em 2017. A razão foi o fim da cessão do governo estadual ao município.
Há cerca de dez anos atrás, a Companhia Paulista de Obras e Serviços (CPOS), empresa do Estado, tentou vender o prédio pela cifra de R$ 3,5 milhões. Na época, a Prefeitura alegou não ter verba para comprar.
O então secretário de Cultura, Ney Carrasco, disse que tentaria viabilizar os recursos “de forma indireta, oferecendo a troca por outro imóvel municipal que não fosse tombado ou com o abatimento de eventuais dívidas de impostos que a companhia tivesse com a Prefeitura”.
Contudo, a situação não mudou. No fim de abril, a reportagem visitou o prédio para visualizar sua situação estrutural. A parte externa tem diversas irregularidades nas paredes. A edificação também virou alvo de pichadores.
Desde 2021 o prédio está fechado e tem acesso controlado por seguranças. A Prefeitura alega problemas de conservação.
“Em julho de 2021, o prefeito Dário, seu vice, Wanderley de Almeida, e a secretária de Cultura, Alexandra Caprioli, entregaram ao então presidente do Conselho do Patrimônio Imobiliário do Governo do Estado de São Paulo, Laércio Paulino Simões, ofício solicitando a doação do prédio ao município. O processo ainda está tramitando”, informou a Prefeitura.
Imóvel foi construído entre 1884 e 1886 e, em 1990, foi tombado pelo Condepacc (Alessandro Torres)
A comerciante Edvania Rodrigues, de 41 anos, está em Campinas há três anos. Ela tem uma lanchonete em frente a antiga Fábrica e lamenta o fato de o prédio ser mais um símbolo histórico inutilizado.
“É um prédio que poderia chamar a atenção das pessoas e aumentar o fluxo de clientes. Assumi o ponto aqui há quatro meses, aproximadamente, e não sabia que era ruim assim de movimento. Com poucos dias, roubaram meu toldo. Ou seja, gera insegurança também. Se o prédio tivesse em bom estado, poderia ser muito mais útil”, disse.
A apresentação do projeto acontece sábado, às 9h30, no auditório do Centro de Educação Profissional de Campinas (Ceprocamp).
A reportagem pediu à Prefeitura um adiantamento do projeto, mas a solicitação não foi atendida.
A proposta foi elaborada pela empresa de arquitetura H+F, que fez o projeto para o Museu do Ipiranga e está realizando para o Museu Nacional do Rio de Janeiro. A empresa confirmou a proposta e ficou de dar mais detalhes sobre o projeto nos próximos dias.
INCENTIVOS
Também na terça-feira, a Prefeitura divulgou que recebeu sete interessados na lei de incentivos fiscais e urbanísticos para a reabilitação de imóveis no Centro.
A lei, que entrou em vigor em maio último, dá benefícios como a dispensa do pagamento da Outorga Onerosa do Direito de Construir e a isenção de taxas de licenciamento urbanístico de obras. Os incentivos fiscais variam conforme as categorias, com isenção de Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) durante a obra e alíquota progressiva posterior, que pode chegar a 11 anos de benefício, redução de 5% para 2% da alíquota do ISSQN para serviços de construção civil, isenção de ITBI para obra e transferências iniciais.
O objetivo almejado pela Administração é “estimular moradores e comerciantes a revitalizarem seus imóveis (prédios e casas), contribuindo para a modernização de negócios e para atrair mais pessoas para morar no centro”.
As sete interessadas apresentaram os projetos, que passaram por análise da Secretaria de Urbanismo. Agora, eles podem ser protocolados.
O prédio está fechado desde 2001, por problemas de conservação, e tem o acesso controlado por seguranças (Alessandro Torres)
CAMPOS SALES
Um terceiro projeto no mesmo sentido, a revitalização da Avenida Campos Sales, está caminhando. Até ontem, as obras já estavam na altura da Rua Álvares Machado. A via tem intervenções, desde o cruzamento com a Avenida Andrade Neves, nas duas faixas da direita, o que tem complicado o trânsito.
Atualmente, o maquinário remove parte da pavimentação asfáltica para transferência da rede elétrica, que será subterrânea, similar à Avenida Francisco Glicério. A obra está prevista para ser concluída em janeiro do ano que vem.