Dário Saadi liderou uma comitiva em visita a Barcelona para conhecer programa catalão
Região da Catalunha se reinventou nos últimos 30 anos com a implantação do projeto 22@ que sedia mais de 700.000 m² de escritórios e mais de 8 mil empresas, onde trabalham 93 mil pessoas (Divulgação)
O sucesso de Barcelona, na Espanha, na implantação de um centro tecnológico será referência para Campinas implantar dois projetos, o Polo de Inovação e Desenvolvimento Sustentável (PIDS), na região Barão Geraldo, e a revitalização do Pátio Ferroviário, no Centro. Uma comitiva liderada pelo prefeito Dário Saadi (Republicanos), encerrou na quarta-feira (17) viagem a cidade espanhola, onde visitou o Distrito de Inovação e Tecnologia 22@Barcelona, que inspira a instalação de planos semelhantes em todo o mundo, inclusive no Brasil, como em Florianópolis (SC) e no Estado do Ceará.
A capital cosmopolita da região da Catalunha se reinventou nos últimos 30 anos e o 22@, implantado a partir de 2000, mudou a economia local e vai ao encontro das propostas do PIDS e da revitalização da área central de Campinas. “Conhecer os desafios vencidos por Barcelona é fundamental na consolidação destes dois projetos estratégicos para a nossa cidade”, disse Saadi.
O distrito espanhol ocupa uma área de 2 milhões de metros quadrados (200 hectares) na região histórica do bairro de Poblenou, muito rica no século 19 em função da concentração das grandes indústrias de tecelagens de algodão da época. Com a virada do século, as empresas deixaram o local, que ficou abandonado, deteriorado e perigoso, com um pequeno número de empregos. Hoje, o 22@ sedia mais de 700.000 m² de escritórios e mais de 8 mil empresas, onde trabalham 93 mil pessoas.
O projeto é dividido em quatro clusters para aproximar as empresas de cada setor nas áreas de biomedicina, tecnologia da informação e comunicação, energia e mídia digital. O distrito, que recebeu investimento público-privado de 180 milhões euros (R$ 966,4 milhões) em infraestrutura, conta ainda com universidades, centros tecnológicos, incubadoras de empresas e outros equipamentos.
Ele tem ainda uma área verde de 114 mil m², o equivalente a 5,7% do total. O Triplex Helix Vision, uma área para eventos e projetos imobiliários no distrito, é apontado como o mais importante projeto de transformação urbana de Barcelona nos últimos anos e um dos mais ambiciosos da Europa com essas características.
O 22@ também é considerado um grande laboratório urbano. A região é usada para testes por empresas e centros de pesquisa de soluções inovadoras em urbanismo, educação, mobilidade e sustentabilidade que resultem em melhoria da qualidade de vida das pessoas.
Dário Saadi disse que conhecer os desafios vencidos por Barcelona é fundamental na consolidação dos dois projetos estratégicos para Campinas (Divulgação)
PROJETO EM CAMPINAS
O PIDS campineiro propõe mudança no zoneamento para permitir a urbanização de uma área de 17 milhões de metros quadrados. Apenas o Hub Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (HIDS), que a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) projeta para a área adquirida da Fazenda Argentina, tem potencial para gerar 20 mil empregos. A estimativa está em estudos feitos pelo Korea Research Institute for Human Settlement (Krihs), Instituto sul-coreano responsável pela elaboração do master plan (projeto urbano) do hub, que integra o PIDS.
Os reitores da Unicamp, Antonio José Meirelles, e da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas, Germano Rigacci Júnior, que fazem o desenvolvimento do Hids em conjunto, integraram a comitiva que esteve em Barcelona. O PIDS deverá ter ainda uma população de 40 mil habitantes, mas que terá regras mais restritivas para a instalação de novos empreendimentos imobiliários do que os atuais para a área que será abrangida para preservar o meio ambiente, disse a secretária de Planejamento e Urbanismo, Carolina Baracat Lazinho, que também esteve na Espanha.
A proposta em discussão para o zoneamento da nova área prevê prédios de no máximo sete pavimentos, evita loteamentos fechados e incentiva áreas de interação dos espaços públicos e privados para a convivência dos moradores. Atualmente, o zoneamento do Ciatec II, que fará parte do PIDS, estabelece Zonas de Atividades Econômicas (ZAEs) e Zonas Mistas (ZMs) 1 e 2, o que permite construções verticalizadas de até 12 pavimentos (na ZM 2) e loteamentos fechados com até 650 mil m² entre muros. Além disso, autoriza a edificação em gleba, o que não garante a reserva de área para a instalação de equipamentos públicos.
O PIDS abrangerá áreas que hoje já são ocupadas pela Unicamp, PUC-Campinas, Faculdades de Campinas (Facamp) e centros de pesquisas, como o CPqD e o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), onde está instalado o acelerador de partículas do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, o Instituto Eldorado e outras instituições.
Já a recuperação e utilização do espaço do Pátio Ferroviário integra o Programa de Requalificação da Área Central (PRAC), que envolve várias medidas para trazer novos moradores e negócios para o Centro de Campinas. A cessão para o município da área de 200 mil m² da antiga área da Fepasa, que pertencia à União, foi oficializada em julho do ano passado. Desse total, 38 mil m², que não possuem prédios de relevância histórica, serão posteriormente destacados para alienação pelo governo federal.
Na outra parcela, onde estão 42 imóveis, a proposta da prefeitura é promover a preservação, conservação e valorização do patrimônio cultural associadas a implantação de espaços de cultura e turismo, eventos e gastronomia; áreas de inovação e tecnologia e instituições de ensino e pesquisa; novos meios de transporte e valorização do pedestre.
“Tudo o que estamos conhecendo aqui é inovador e pode subsidiar as discussões para a implantação do PIDS e da reutilização do Pátio Ferroviário”, afirmou o prefeito. Também participaram da comitiva de Campinas o diretor de Parcerias e coordenador do HIDS, Eduardo Gurgel, e a secretária municipal de Desenvolvimento Econômico, Tecnologia e Inovação, Adriana Flosi.
INTERESSE
“O projeto catalão é, sobretudo, uma grande ideia de renovação urbana e busca ser um novo modelo de lugar que atende aos desafios da sociedade do conhecimento”, afirmou Thais Strassmann Nahas, consultora do Programa Cidades Inteligentes da Associação Catarinense de Tecnologia (Acate), que desenvolve projetos para tornar Florianópolis uma cidade inteligente, as chamadas smart cities. O conceito envolve uma cidade eficiente, conectada e sustentável. Por meio de inovações tecnológicas, os projetos dessas cidades buscam proporcionar um ambiente urbano que promova o desenvolvimento humano, use os recursos naturais de forma sustentável e impulsione a economia local.
“Atrair pessoas e transformar a economia de uma região não é nada fácil. Diferentes gerações possuem diferentes hábitos e preferências, e a forma de atraí-las muda constantemente”, disse Thais, que também já visitou e busca inspiração no 22@Barcelona. “O jeito de morar, se locomover, se divertir e trabalhar muda cada vez mais rápido. É preciso acompanhar essas tendências e adaptar os projetos, tornando-os mais flexíveis e atrativos para as pessoas e consequentemente para os investidores. Caso contrário, os recursos investidos em infraestrutura serão em vão”, completou.
Em setembro passado, a Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC), promoveu a viagem de uma comitiva a Barcelona como parte de um projeto para desenvolver um projeto estadual de inovação disruptiva. A proposta é baseada na transformação digital, inovação, empreendedorismo, liderança e desenvolvimento humano.
“A imersão foi desenhada para que os participantes pudessem mergulhar nas evoluções e tendências tecnológicas, conhecer oportunidades de negócios, prospectar parcerias e realizar networking. As experiências de Barcelona certamente irão ampliar os conceitos e o mindset dos participantes e proporcionar lições fundamentais que poderão ser aplicadas no Ceará e elevar a competitividade das nossas empresas”, disse o superintendente do Instituto Euvaldo Lodi, Dana Nunes, que integrou a comitiva.