COMBUSTÍVEIS

Postos de Campinas fazem ‘guerra’ de preços para atrair clientes

Economia registrada pelos consumidores entre estabelecimentos chega a 40,11%

Edimarcio A. Monteiro/ edimarcio.augusto@rac.com.br
01/02/2023 às 09:13.
Atualizado em 01/02/2023 às 09:13
Muitos postos decidiram não repassar para os consumidores o último reajuste de 7,47% aplicado pela Petrobras para as distribuidoras: estratégia para atrair mais clientes e vender mais (Rodrigo Zanotto)

Muitos postos decidiram não repassar para os consumidores o último reajuste de 7,47% aplicado pela Petrobras para as distribuidoras: estratégia para atrair mais clientes e vender mais (Rodrigo Zanotto)

 O último aumento dos combustíveis acirrou a “guerra” de preços entre os postos de Campinas. Apesar do reajuste de 7,47% no preço médio da gasolina repassado pela Petrobras para as distribuidoras há uma semana, o que representou um aumento de R$ 0,23 por litro, há estabelecimentos que reduziram o valor na bomba, outros continuam mantendo a tabela e mesmo os que elevaram foi em índice inferior ao anunciado pela empresa controlada pelo governo federal.

Essa disputa foi sentida pelos consumidores, que passaram a pesquisar mais e procurar os melhores preços para economizar. “Eu entrei em um posto na (Avenida) Orosimbo Maia, mas quando vi que o etanol estava R$ 4,89, pedi a chave do carro de volta e vim para cá”, disse na terça-feira (31) a motorista de aplicativo Carmem Silva Ferreira. Ela abasteceu em posto no Centro, onde o combustível custava R$ 3,49, 40,11% a menos. A diferença de R$ 1,40 por litro resulta em uma economia de R$ 77 para encher o tanque do sedã compacto que usa para trabalhar.

O posto onde ela estava é um dos que reduziram os preços da tabela. No começo da semana passada, antes do reajuste da Petrobras, o estabelecimento vendia o etanol a R$ 3,59, redução de 2,79% em relação ao valor atual, enquanto a gasolina caiu de R$ 4,65 para R$ 4,55, -2,15%. Já outro posto no Taquaral o valor do derivado do petróleo foi mantido em R$ 4,39, enquanto o biocombustível permaneceu em R$ 3,29. “Acho que é para aumentar a clientela, atrair novos clientes”, disse a frentista Maria Aparecida Bezerra da Silva.

Essa realidade de mercado faz os clientes ficarem atentos a disparidade dos preços. “A diferença está muito grande e é preciso pesquisar. Esse é um dos mais baratos que achei”, disse o segurança Ademir de Souza. A disputa pelo consumidor fez até quem aumentou os preços a praticarem um índice menor. “Não foi possível repassar o aumento todo por causa do mercado, da concorrência”, disse Fabiana Cazzonatto, proprietária de um posto no Jardim Guanabara. 

No caso desse estabelecimento, a gasolina passou de R$ 4,65 para R$ 4,75, reajuste de 2,15% ou R$ 0,10 por litro. Em relação ao etanol, o valor foi elevado de R$ 3,55 para R$ 3,65 (+2,82%). Mesmo com o aumento, os preços estão abaixo da média de mercado, que é de R$ 4,98 para a gasolina e R$ 3,88 para etanol, de acordo com a mais recente pesquisa semanal de preços em Campinas feita pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Brasil (ANP) entre os dias 21 e 28 de janeiro, que já captou a variação após o aumento.

De acordo com o levantamento da agência reguladora, a maior variação de preço é da gasolina aditivada, que apresenta diferença de 47,93% entre o valor mínimo de R$ 4,59 o litro e R$ 6,79. Porém, a pesquisa foi feita com uma amostra menor de pontos, nove no máximo, quando o normal chega até a 23, com os valores servindo como uma referência para os consumidores, justifica a ANP. No entanto, eles encontram uma outra realidade no mercado.

É o caso da gasolina comum, que o órgão aponta como preço mínimo encontrado de R$ 4,67. Porém, os motoristas podem abastecer em um posto na Vila Nova por R$ 4,29, valor estável desde o final de 2022. “Eu não me preocupo tanto com o preço. Dou preferência para a qualidade”, diz o motoboy Vinícius Soledad, que gasta em torno de R$ 45 por semana para abastecer a motocicleta. 

“Vejo muita diferença de preço, fica até difícil ter uma referência. Acabo abastecendo no posto que tem o melhor preço no roteiro que normalmente faço”, diz o vendedor Ryan Tavares.

Inflação

A guerra de preços entre os postos acaba por ajudar a segurar a inflação neste início de ano, afirma o economista André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre). “Para cada ponto percentual de aumento da gasolina, o impacto no IPCA é de 0,05 ponto percentual”, explica. IPCA é o Índice Nacional de Preços do Consumidor Amplo, usado como indicador da inflação oficial. 

O economista esperava um aumento para o consumidor final em torno de 5%. Mesmo esse índice é inferior a alta de 7,47% no preço da gasolina para as distribuidoras, que passou de R$ 3,09 para R$ 3,31 o litro, por conta da mistura de 27% de álcool anidro, o que impede o repasse total. De qualquer forma, Braz aponta que parte do reajuste influenciará a inflação de janeiro, mas como chegou no final do mês, o maior impacto será na taxa de fevereiro. 

Ele também demonstra preocupação com as incertezas fiscais. Nesse primeiro momento, o governo federal renovou a isenção de impostos federais para os combustíveis, mas ficou a incerteza se a decisão não cairá ao longo do ano. “Já está no radar a volta dos impostos federais sobre os combustíveis. Se for apenas sobre a gasolina tem um impacto. Se for no diesel, tem um bem maior porque encarece o processo produtivo com efeito mais disseminado. Além disso, há o desafio do câmbio diante das incertezas”, alerta o economista

O economista lembra que a previsão para o IPCA de 2023 já está em 5,83%, acima da meta de 3,25% e do teto de tolerância do sistema. Para ele, o que pode contribuir a compensar repasses pelo câmbio e pela volta da cobrança dos impostos federais sobre os combustíveis é um bom resultado da safra agrícola. “Se a safra for generosa, pode arrefecer os preços de alimentos, que foram os grandes vilões da inflação no ano passado. O índice de preços dos alimentos foi o dobro do IPCA cheio de 2022. Com uma safra maior pode haver compensação dos preços administrados”, disse.

Mesmo com o recente aumento nas refinarias, a pressão sobre os preços dos combustíveis continua. Apesar do reajuste, o preço da gasolina no Brasil permanece inferior ao praticado no mercado internacional, segundo o relatório de paridade internacional da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom). 

A gasolina, aponta a entidade, está cerca de 14% mais barata do que o necessário para deixá-la em patamar equivalente ao de outros países. “O mercado internacional e o câmbio pressionam os preços domésticos. O PPI [Preço de Paridade Internacional] acumula aumento de R$ 0,61/l desde o último reajuste nos preços da Petrobras”, divulgou a associação em nota oficial. 

A promessa do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de rever a paridade encontra dificuldades para ser implantada, diz o economista Eric Gil Dantas, do Observatório Social do Petróleo. “O atual Conselho de Administração (da Petrobras)tem ainda uma visão da gestão anterior que era de aumentar o máximo possível o preço para distribuir o máximo de dividendos possível. Não vejo esses conselheiros abrindo mão dessa fonte de renda para ocorrer uma diminuição de preços dos combustíveis ao consumidor final”, explica.

O novo presidente da Petrobras indicado pelo governo, Jean Paul Prates, que já teve o nome aprovado pelo conselho, aponta alternativas para evitar que os preços internacionais pesem no mercado brasileiro. Ele defende a criação de um colchão para amortizar as altas dos combustíveis. 

A adoção dessa medida, inclusive, está prevista no projeto de lei (PL) 1.472/2021 relatado por Prates quando era senador. A proposta já foi aprovada pelo Senado e atualmente está em tramitação na Câmara Federal, onde passará por nova votação.

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