ESPAÇO AFETIVO

Possível mudança de biblioteca gera manifestação no distrito de Sousas

Comunidade diz estar preocupada com saída da unidade do local atual

Isadora Stentzler/ Isadora.stentzler@rac.com.br
27/12/2023 às 09:08.
Atualizado em 27/12/2023 às 09:08
Manifestantes diante da Biblioteca Pública Distrital de Sousas: Secretaria de Cultura afirma que está negociando para manter a unidade no atual endereço, mas que depende do posicionamento do proprietário do imóvel (Alessandro Torres)

Manifestantes diante da Biblioteca Pública Distrital de Sousas: Secretaria de Cultura afirma que está negociando para manter a unidade no atual endereço, mas que depende do posicionamento do proprietário do imóvel (Alessandro Torres)

Um grupo de moradores de Sousas protestou na terça-feira (26) contra a mudança de endereço da Biblioteca Pública Distrital de Sousas Guilherme de Almeida, localizada no coração do Distrito. A comunidade foi surpreendida no último sábado (23) com uma postagem no Instagram da Coordenadoria de Bibliotecas Públicas Municipais de Campinas anunciando a transferência temporária do espaço. Segundo os moradores, não houve diálogo com a comunidade, que pede transparência e participação nesse processo.

No comunicado, a Coordenadoria informou que a biblioteca será transferida após o recesso, que termina em 16 de janeiro, para o prédio da Escola Estadual Dr. Thomas Alves, a 180 metros de onde está instalada atualmente. O período de funcionamento, no entanto, é até dia 30 de janeiro de 2024, quando passará a ocupar um local fixo.

Até terça-feira (26) à tarde, a comunidade não tinha informações sobre onde seria esse endereço fixo. O temor dos moradores é que acervo seja transferido para um espaço sem estrutura suficiente para abrigar as ações culturais, de saúde e de literatura que funcionam hoje no prédio. Pelas frestas de algumas janelas abertas, a reportagem constatou que já haviam caixas lacradas no local e algumas prateleiras vazias.

"Estamos lutando pelo espaço mo qual a biblioteca reside atualmente", afirma Jandira Barbosa, que integrou os protestos. "Estamos com a biblioteca do lado de um banco, no Centro, e a gente está lutando pra continuar ali. É bem localizado. Não é só um caminhão que sai com o acervo, é a historia de cada morador de Sousa que sai junto também", declara.

Segundo os moradores explicaram, o local onde funciona a biblioteca é alugado. Em 2016, o acervo já estava no prédio onde funciona hoje, mas devido a um problema nos contratos, o material precisou ser retirado. Na época, a comunidade fez abaixo-assinado e, em 2017, conseguiu trazer a biblioteca para o mesmo local.

Agora, o problema teria retornado. As informações, no entanto, não são precisas. De um lado, alguns moradores alegam que o proprietário deveria ter atualizado a documentação para envio à Prefeitura e não o fez, mesmo tendo o período de seis meses para isso. Do outro, dizem que foi falta de iniciativa da Secretaria de Cultura em agilizar esses processos, pois a pasta sabia dos prazos a serem cumpridos.

O assistente social Danilo Santos afirma que após a transferência provisória para a Escola Thomas Alves, o acervo iria para o espaço chamado Recreativo. "Mas o espaço Recreativo, por mais que tenha determinada estrutura, oferece risco ao acervo. Principalmente a estrutura física. Porque chove e molha bastante por dentro", pontuou.

Hoje, a unidade recebe uma média de 20 pessoas por dia, elevando esse número para 50 nos dias de eventos. Isso porque além de espaço para leitura e empréstimo de livros, a biblioteca serve de base para eventos culturais, de literatura e também para profissionais de saúde atenderem grupos terapêuticos.

Margareth Brandini Park, que ocupa a cadeira numero 4 da Academia Campinense de Letras (ACL), teve a vida marcada pela biblioteca de Sousas. Moradora do Distrito e de uma família de proletariados, ela se viu imersa entre os livros desde a tenra idade. Aos oito anos já possuía um cartão para ter autonomia na escolha dos volumes que queria ler e ainda foi alçada ao posto de aluna que mais lia livros quando estudava em uma escola municipal do distrito.

"Hoje eu penso em quantas pessoas que podem ter a oportunidade de viver e vivenciar momentos, porque essa biblioteca é atuante, dinâmica. Ela tem grupos de discussão, tem uma história de uma importância cultural nesse lugar", frisou Margareth.

NEGOCIAÇÃO

Procurada, a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo disse que está em negociação para uma nova proposta de locação do imóvel, onde hoje se encontra a biblioteca. "A nova contratação depende da entrega de documentação por parte do proprietário e da imobiliária. Caso isso não ocorra, a Secretaria garantirá o funcionamento da biblioteca no distrito, mesmo que seja necessário transferir a biblioteca para outro espaço em Sousas", justificou.

A reportagem questionou à pasta sobre a mudança temporária anunciada para a Escola Estadual Dr. Thomas Alves e a possível mudança, depois, para o Recreativo. A Pasta informou que foi divulgada uma nota no sábado com essas informações, mas que passa a valer a nota de terça-feira (26). Não foram mencionados prazos de conclusão para os processos em andamento.

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