REAÇÃO NEGATIVA

Possibilidade de venda de parte da Fazenda Santa Elisa desagrada colaboradores do IAC

Consulta feita pela reportagem ocorreu durante o evento APTA Portas Abertas, que proporciona ao público a oportunidade de conhecer os trabalhos realizados pelo instituto

Luiz Felipe Leite/luiz.leite@rac.com.br
20/10/2024 às 08:37.
Atualizado em 20/10/2024 às 08:37
Opiniões foram coletadas durante o evento APTA Portas Abertas, que proporcionou à população conhecer um pouco sobre os trabalhos desenvolvidos pelo instituto; gleba alvo de especulação possui exemplares únicos de diversas espécies de café (Alessandro Torres)

Opiniões foram coletadas durante o evento APTA Portas Abertas, que proporcionou à população conhecer um pouco sobre os trabalhos desenvolvidos pelo instituto; gleba alvo de especulação possui exemplares únicos de diversas espécies de café (Alessandro Torres)

Colaboradores do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), também conhecido como o mais importante centro de pesquisa do café do país, são totalmente contrários a uma possível venda de parte da Fazenda Santa Elisa. A possibilidade de comercialização envolve uma gleba do centro experimental de 7 hectares, pouco mais de 1% do total, denominada de São José. Nela existem exemplares únicos de diversas espécies de café, além de abrigar a população mais antiga do mundo da variedade arábica clonada por cultura de tecidos. 

A propriedade usada em estudos científicos pertence ao órgão e corre o risco de ser desmembrada e ser parcialmente vendida. As opiniões foram concedidas em conversas realizadas na manhã de ontem, dia 19, durante o APTA Portas Abertas, evento realizado na sede do instituto, na Avenida Barão de Itapura, que proporcionou ao público um momento para conhecer de perto os trabalhos realizados pelo instituto e interagir com pesquisadores. 

Questionados, os entrevistados classificaram a possível negociação como um erro. Alguns dos integrantes demonstraram incômodo com o fato de a situação não ter sido abordada de forma concreta entre o Governo do Estado de São Paulo e os colaboradores do local. O IAC é vinculado à Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), que por sua vez responde à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.

O principal temor dos colaboradores, que não serão identificados nesta reportagem, é que a eventual venda de parte da fazenda prejudique trabalhos científicos desenvolvidos há décadas. 

A possibilidade de comercialização de parte da Fazenda Santa Elisa foi abordada pelo Correio Popular na edição da última quinta-feira, dia 17. Isso gerou preocupação e manifestações contrárias da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp) e de membros da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo e da Câmara Municipal de Campinas. 

CIÊNCIA 

Um dos colaboradores disse que o estudo científico vai ser o principal prejudicado em caso de venda de parte da Fazenda Santa Elisa. “Essa possível venda não vai prejudicar apenas nós que estamos aqui no IAC. Por exemplo, citando o café, que é um dos principais alvos de estudo no instituto. As pesquisas realizadas aqui com o material impactam fortemente o mercado. Se a fazenda for desmembrada e parcialmente vendida, tenho receio que prejudique os estudos realizados nela.” 

Outro colaborador comentou que aguarda por uma manifestação concreta da direção do órgão e do Governo de São Paulo em relação ao tema. “Eu não tenho certeza sobre o que está acontecendo, mas não acredito que vender a fazenda seja algo positivo para a Ciência, pelo contrário.” 

Uma terceira pessoa pontuou que uma eventual comercialização das áreas da fazenda vai afetar de forma significativa os trabalhos científicos. “Você não consegue gerar evolução em qualquer lugar se você não tiver estudo, com uma pesquisa fundamentada em cima de um produto, como é feito na Fazenda Santa Elisa. A falta de clareza sobre toda essa história incomoda, pode ter certeza”, desabafou. 

Por fim, um quarto colaborador também afirmou ser contra a venda e declarou que isso pode significar um desmonte na estrutura de pesquisa científica estadual existente no IAC. "Se não tiver área física para pesquisas serem feitas, se não tiver o local de trabalho, isso também vai ser um motivo para o fim das pesquisas. Não é um problema apenas para nós funcionários, mas é um problema para a sociedade.” 

A Secretaria de Agricultura afirmou que realiza estudos para avaliar a viabilidade de venda de áreas pertencentes à Pasta e que a definição de qual ação será tomada ocorrerá após a conclusão dessas análises. “Toda e qualquer decisão tem como premissa garantir que as áreas de pesquisa em andamento sejam preservadas, modernizadas e valorizadas e serão tomadas em conjunto com a diretoria dos institutos estaduais”, argumentou a Pasta. 

VALORIZAÇÃO 

Parte dos espaços e das atividades do Instituto Agronômico de Campinas foi aberta ao público para visitação durante o APTA Portas Abertas, realizado entre anteontem, dia 18, e este sábado, 19 de outubro. A sede esteve lotada de colaboradores do órgão e de visitantes, apesar da ameaça de uma chuva forte, que acabou não se concretizando. 

O evento celebra a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia e foi realizado simultaneamente nas sete unidades de pesquisa vinculadas à Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios. 

Um dos estudos apresentados no local é do engenheiro agrônomo Thiago Factor, com mestrado e doutorado em Agronomia. Ele é o responsável pela supervisão da criação de novas variedades de batatas-inglesas, entre elas batatas coloridas. Uma das que se destacam tem a cor roxa, fruto de cruzamentos de outras variedades do tubérculo, algumas originárias do Peru. De acordo com ele, existem dois apelos que justificam esse estudo, que ainda não chegou ao mercado. Um deles é o de saúde. “Existe um apelo econômico também. Imagine (como será) para um pequeno produtor, que poderá agregar maior valor ao produto comercializando uma batata com um aspecto saudável? Isso poderá proporcionar uma renda maior para ele”, explicou. 

Outro trabalho exposto no IAC é da equipe responsável por estudos que envolvem a cana-de-açúcar. Trata-se do método de Muda Pré-Brotada (MPB), desenvolvido no órgão entre 2013 e 2014. Ele busca o aumento de produtividade nos canaviais, reduzindo em consequência os custos da produção em relação ao plantio mecanizado convencional, diminuindo a quantidade de matéria prima necessária e fornecendo um produto com maior qualidade. 

Uma das pessoas de fora que esteve no evento realizado na sede do IAC foi a professora aposentada Silmara de Sá. Acompanhada do marido e de cinco netos, ela conheceu as instalações do órgão pela primeira vez e destacou a importância da preservação do meio ambiente e do conhecimento científico produzido no local. “Vimos muitas coisas legais aqui dentro. E posso dizer que é um espaço que precisa ser bem cuidado, para que as futuras gerações saibam da importância do que é feito aqui no IAC”, encerrou.

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