A Rodovia Santos Dumont (SP-075) é o principal corredor viário que conecta os municípios de Sorocaba, Itu, Salto, Indaiatuba e Campinas, atravessando diversos bairros densamente povoados dessas cidades; essa via estratégica oferece acesso direto ao Aeroporto Internacional de Viracopos e ao Distrito Industrial, que abriga uma gama significativa de indústrias de diversos setores e empresas de logística (Alessandro Torres)
Após quase oito meses, a discussão sobre a implantação das marginais da Rodovia Santos Dumont (SP-075) voltou a avançar. O governo do Estado de São Paulo e a concessionária Via Colinas pretendem se reunir na próxima semana com a Prefeitura de Campinas para discutir o projeto executivo. O objetivo é considerar as sugestões da equipe da Administração Municipal e realizar os ajustes necessários para a execução da obra.
O anúncio foi feito ontem pela Via Colinas, por meio de uma nota oficial. A informação surgiu após um pedido de esclarecimento do Correio Popular, baseado em uma resposta formal da Secretaria de Parcerias e Investimentos do Estado de São Paulo à reportagem realizada em 29 de maio, que afirmava que a concessionária estava elaborando o projeto sob a supervisão da Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp), responsável pela regulação e fiscalização das rodovias paulistas.
Em nota, a assessoria de imprensa da Prefeitura de Campinas informou que, até o momento, não há reunião marcada com a Administração Municipal sobre o projeto executivo de implantação das marginais na SP-075. No entanto, a Prefeitura reiterou que está à disposição da concessionária para discutir o tema em uma agenda futura.
Detalhes sobre a reunião, como horário, local e participantes, além de mais informações sobre o projeto executivo a ser debatido, não foram divulgados por nenhuma das partes.
COMPLICAÇÕES
Exausto dos constantes problemas causados pelo trânsito na Rodovia Santos Dumont e nas vias de acesso aos bairros próximos, o autônomo Gilberto Ferreira Pisani tomou uma decisão radical: vender seu carro. Morador do Distrito do Ouro Verde, ele agora prefere se locomover por outros meios e caminhos, evitando a SP-075. Ele menciona o cruzamento das ruas Antero Patrício Silvestre e Eldorado, no Parque Industrial Lisboa, em Campinas, como um exemplo do caos no trânsito. "Esse cruzamento é um verdadeiro caos. Quando eu ainda tinha carro, passava por aqui e via essa situação, que persiste até hoje. Muitos veículos em um espaço estreito, com poucas alternativas. Isso me cansou a ponto de eu querer evitar dirigir. E essa situação se repete em outros lugares, mesmo desviando o caminho", relatou.
O vendedor Julio César Ferraz Paladini, que trabalha em uma distribuidora de portas e janelas na Avenida Anton Von Zuben, no Jardim São José, Campinas, também reclama da situação. Há menos de um mês no emprego, ele comenta as dificuldades de ir e voltar de Indaiatuba, onde mora. "A loja fica ao lado do acesso para o sentido Campinas da Rodovia Santos Dumont. O trânsito é tão intenso que nos horários de pico se estende do acesso à pista até a frente da loja, algo em torno de 300 a 500 metros. É muita coisa. Além disso, para pegar o ônibus de volta para Indaiatuba, dependendo do dia, espero até 1h30 no ponto. E quando ele chega, costuma estar lotado ou não para, devido ao tráfego pesado", explicou.
O supervisor de Julio César, Diogo Feitosa dos Santos, trabalha na distribuidora há um ano. Ele comenta que a situação sempre foi assim, com muito trânsito, e que só vai acreditar em uma solução quando as obras das marginais da SP-075 saírem do papel. "Já tivemos situações desconfortáveis com clientes devido aos atrasos nas entregas por causa do trânsito. Eu, que ando de moto, muitas vezes fico parado na estrada pela impossibilidade de usar os corredores. São muitos veículos e fica perigoso avançar", explicou.
O estudante universitário Guilherme Sousa Tomesanni, estagiário de jornalismo, também conhece bem o ritmo intenso da Rodovia Santos Dumont. Morador de Indaiatuba, ele usa a pista todos os dias para estudar e estagiar. Utiliza uma van particular para ir e voltar da PUCCampinas, saindo às 18h e voltando depois das 22h30. Às terças e quintas, vai de carona de carro, saindo de casa por volta das 7h30 até a região do bairro Nova Campinas, onde faz estágio presencial duas vezes por semana (e home office nos demais dias). No final do dia, vai de ônibus municipal até a faculdade e retorna de van para Indaiatuba após as 22h30.
Segundo Tomesanni, o principal problema na Rodovia Santos Dumont é a chegada em Campinas. "O problema é na altura da Avenida Prestes Maia. De manhã, o trânsito fica muito intenso e, em alguns dias, chega a parar completamente. Saio de casa uma hora mais cedo para evitar dores de cabeça desnecessárias, mas poderia ser ainda mais rápido", concluiu.
HISTÓRICO
Em 26 de setembro do ano passado, o Correio Popular noticiou uma reunião entre o prefeito Dário Saadi (Republicanos), o presidente da Emdec, Vinicius Riverete, e o secretário de Parcerias em Investimentos do Estado de São Paulo, Rafael Benini, para discutir a implantação das marginais da Rodovia Santos Dumon.
No encontro, o prefeito ressaltou a importância da obra para os moradores de Campinas, especialmente das regiões do entorno de Viracopos, São José e Parque Oziel, além dos residentes de outras cidades, como Indaiatuba, que enfrentam congestionamentos frequentes na chegada a Campinas.
A necessidade de recuperação do pavimento asfáltico da rodovia também foi discutida, com a sinalização para o recapeamento da estrada.
Na ocasião, o secretário estadual Rafael Benini autorizou a atualização do projeto elaborado em 2018 e, posteriormente, a inclusão dessas obras para serem realizadas pela Colinas. O cronograma deveria ter sido anunciado nos meses seguintes, mas isso não ocorreu.
Presente na reunião, o presidente da Emdec, Vinicius Riverete, não concedeu entrevista ao Correio Popular sobre o atual momento do projeto da Rodovia Santos Dumont. Em nota, a assessoria de imprensa da empresa informou que ele está em agenda externa nesta semana. A Secretaria Municipal de Transportes, por sua vez, afirmou não estar envolvida com o tema no momento, pois "o assunto não está no escopo da pasta".
PRESSÃO
Em julho de 2023, o projeto para a construção de marginais nos dois sentidos da Rodovia Santos Dumont foi tema de uma reunião entre os vereadores Cecílio Santos (PT) e Luiz Rossini (presidente da Câmara, anteriormente no PV e atualmente no Republicanos), o presidente da Emdec e representantes da Colinas com o diretor-geral da Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp), Milton Persoli.
O encontro, que reacendeu o debate sobre a criação de marginais, abordou a viabilidade técnica da execução da obra, que visa implantar pistas paralelas no trecho entre as rodovias dos Bandeirantes (SP-348) e Anhanguera (SP-330), área urbana afetada pelo trânsito intenso nos horários de pico. Conforme apurado pela reportagem, houve consenso entre Persoli e os representantes da cidade de que a obra é importante e viável do ponto de vista técnico. Na época, ainda era necessário buscar financiamento para a execução do projeto. Uma estimativa de 2019 indicava um investimento necessário de aproximadamente R$ 350 milhões.
Os responsáveis pelos gabinetes dos vereadores Luiz Rossini, Cecílio Santos e Carmo Luiz (Republicanos, que se identifica como defensor da implantação das marginais na SP-075) foram contatados para comentar o anúncio mais recente da Via Colinas. Todos informaram, por telefone, que não foram comunicados sobre o futuro encontro, tampouco os próprios parlamentares.
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